Durante o pré-natal, o acompanhamento médico da gestante, costuma ser monitorado o peso, a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos do bebê em formação. Ultrassons, hemogramas, sorologias e diversos outros exames também fazem parte dos cuidados com a saúde da mãe e da criança. Mas, em meio a tantas especialidades, a saúde bucal pode acabar sendo esquecida e a sua importância é maior do que muitas pessoas imaginam.
A necessidade do acompanhamento odontológico durante a gravidez é muitas vezes desconhecida, mas doenças bucais não tratadas podem trazer graves riscos à saúde do bebê. Cuidar da saúde da boca e dos dentes previne uma série de doenças como cáries, gengivite e inflamações periodontais.
Consequentemente, esses cuidados evitam que infecções locais sejam disseminadas para o restante do corpo através da corrente sanguínea. Essas complicações podem levar a infecções generalizadas no organismo da mãe, trazendo riscos como partos prematuros, baixo peso do recém-nascido ou até a pré-eclâmpsia.
Todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) oferecem o tratamento odontológico como parte do pré-natal. A iniciativa faz parte do Previne Brasil, programa da atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS). O pré-natal odontológico consiste em consultas preventivas feitas durante o período gestacional. "O medo de ir ao dentista é consequência da cultura das consultas de tratamento e não das de prevenção", comenta a cirurgiã dentista Raquel Ribeiro.
Cuidados necessários
- A combinação de uma higiene bucal inadequada — muitas vezes resultado de náuseas que dificultam a escovação correta — com os hormônios alterados, resultantes da gravidez, eleva os níveis e a gravidade das inflamações, agravando doenças que em situações cotidianas poderiam ser rapidamente tratadas sem deixar sequelas.
- A boca não está dissociada do resto do corpo, muitas doenças são manifestadas na cavidade bucal e repercutem no resto do organismo, explica a gerente de serviços odontológicos da Secretaria de Saúde do DF, Alessandra Fernandes de Castro.
- Em gestantes, assim como nas outras pessoas, as doenças bucais são causadas pelo acúmulo de microorganismos — placa bacteriana — resultantes da falta de higiene bucal, excesso de açúcar ou predisposição genética.
- Porém, as mudanças fisiológicas e emocionais da gravidez podem agravar as condições, fazendo com que elas tenham um peso maior. "A alteração hormonal, por exemplo, eleva os níveis inflamatórios do corpo", explica Raquel.
- As doenças se manifestam antes dos sintomas físicos, como dores, sangramentos e inchaços intensos. Estes costumam aparecer semanas após o início da infecção, o que enfatiza a importância do acompanhamento preventivo.
- As dores, além de serem um sinal de alerta, liberam substâncias inflamatórias para o organismo, essas afetam diretamente o feto e se não forem interrompidas rapidamente.
- Alessandra alerta que em casos mais graves, infecções odontogênicas podem resultar na interrupção da gravidez. "Muitas vezes as gestantes estão passando por descompensações e nem imaginam que são decorrentes de problemas bucais não tratados e as consequências podem ser as piores".
- Além de evitar problemas mais graves, o acompanhamento rotineiro pode evitar que tratamentos invasivos sejam necessários. Quando descobertas em fase inicial, as patologias são mais fáceis de tratar, evitando dores, traumas e gatilhos gerados por tratamentos odontológicos.
- O diagnóstico é clínico, feito por um cirurgião dentista, ou laboratorial, por meio de exames de imagem. “Os exames de imagem costumam ser um item de preocupação entre as gestantes, mas não deveriam”, tranquiliza Raquel.
- A alta exposição à radiação realmente pode causar danos à saúde, mas a quantidade de radiação utilizada em uma radiografia é segura, quando indicada pelo médico especializado, e não vai ser prejudicial para o feto, nem para a mãe. São fornecidos aventais de chumbo para as pacientes, que isolam o corpo, trazendo ainda mais conforto e segurança para a gestante.
- O tratamento de cada condição passa por um protocolo de avaliação adaptado, medicações e dosagens diferentes, alteração no método de anestesia, equipamentos de proteção em exames de imagem e até o posicionamento específico da cadeira odontológica. Todo o processo é criado de acordo com as particularidades da grávida, que nesse momento é considerada paciente de necessidades especiais.
- Como a prevenção é sempre o melhor tratamento, existem alguns cuidados que as gestantes podem tomar. Entre eles, a higienização adequada, incluindo escovação e uso do fio dental diariamente, diminuindo o risco de proliferação de bactérias.
- Também é importante dar atenção extra para a alimentação, evitando o consumo de ultraprocessados e priorizando alimentos nutritivos e variados. Para complementar os cuidados feitos em casa, o tratamento odontológico de rotina precisa ser incluído no pré-natal.
*Estagiária sob a supervisão de Ailim Cabral
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