Na Fazenda Pamplona, que fica em Cristalina (GO), a 125 quilômetros de Brasília, campos de algodão formam um vasto mar branco. Máquinas colhem toneladas do fruto, matéria-prima muito usada na indústria têxtil. A convite da Sou de Algodão, uma iniciativa da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) que mostra ao consumidor como a fibra chega até ele, a Revista acompanhou por um dia as etapas percorridas pelo algodão: da lavoura à confecção.
Nossa primeira parada foi na Fazenda Pamplona. Ela tem selo ABR (Algodão Brasileiro Responsável) e é licenciada pela BCI (Better Cotton Initiative), protocolos de boas práticas agrícolas, sociais e econômicas. Isso significa que 100% das plumas são de origem responsável, o que é afirmado por auditorias anuais, que não aceitam regressão.
A Fazenda precisa garantir a saúde e a segurança dos 218 colaboradores. Além de princípios básicos como esse, Diego André Goldschmidt, coordenador de produção, explica que são oferecidas áreas de lazer na sede e há um esforço em educar produtores sobre hábitos conscientes.
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Em relação à preservação ambiental, o destaque vai para a economia de água e energia. Enquanto os Estados Unidos e a Austrália irrigam mais de 80% das áreas de algodão, o Brasil irriga 8%. Os 92% restantes são cultivos sem adição de água, chamados sequeiros. De acordo com a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), esse é o principal dado que sustenta que o Brasil é o maior fornecedor de algodão sustentável do mundo.
Uma cultura que já ocupou o sertão e a beira-mar, encontrou, no centro do país, condições ideais para o seu desenvolvimento. No Centro-Oeste, onde estão 90% da cotonicultura brasileira, o algodão é plantado em novembro e a colheita é entre junho e agosto. A chuva é certa, pelo menos, nos primeiros 90 dias. Depois, acredite se quiser, a seca ajuda a planta a se desenvolver, razão pela qual os sequeiros funcionam aqui.
As áreas plantadas conservam 30% da vegetação nativa e, para combater a praga do algodão, conhecida como bicudo, um drone deposita o herbicida onde tem maior incidência do bicho, e não de forma generalizada.
Beneficiamento
Então, o fardo de algodão (rolo, pacote), com aproximadamente 2.300kg, é levado para a algodoeira, previamente à industrialização. Na fase do beneficiamento, separam-se as sementes das fibras a partir de processos mecânicos — tudo é aproveitado. Uma limpeza fina retira a poeira e a limpeza grossa, caules e folhas que ficaram presos.
O briquete, uma pasta compactada que é subproduto do algodão, pode ser usado em tapetes e sacaria. O caroço vira ração para gado. A pluma, que se aproxima do algodão que conhecemos, vai para uma balança e, em seguida, é ensacada. Posteriormente, esse material é analisado por laboratórios especializados. Um deles está na sede da Abrapa, aqui em Brasília.
Peças rastreáveis
Lá, vimos que todos esses fardos têm QR Codes com dados da produção, da algodoeira e do laboratório por onde o algodão passou. O mapeamento completo é parte do Programa de Rastreabilidade do Algodão Brasileiro. Usando a câmera do celular, dá para verificar onde ele foi plantado, o mapa da fazenda, as máquinas usadas e o resultado da análise. É como uma carteirinha de identificação do algodão.
Marcio Portocarrero, diretor executivo da Abrapa, lembra que, em 1980, o Brasil produziu 500 mil toneladas de pluma em quatro milhões de hectares. Hoje, tem uma produtividade cinco vezes maior em uma área plantada praticamente três vezes menor — são três milhões de toneladas em pouco mais de 1,5 milhão de hectares.
"Por muito tempo, estávamos produzindo e esperando que nos comprassem. Agora, graças a décadas de investimento em tecnologia e pesquisa, o algodão nacional supre toda a demanda interna", detalha. O algodão é usado em itens de cama, mesa, banho e vestuário. Marcas como Farm, Malwee, Maria Filó, Marisa, Renner e Reserva são algumas das empresas que buscam este tipo de produto certificado.
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