Com o sonho em comum de construir um lar móvel, Erika da Costa e Silva, 43, e Mauricio Farias da Silva, 38, personalizaram uma van. A "Van Daguia", batizada em homenagem a avó de Érika, ou Keka, permitiu que o casal vivesse a tão sonhada liberdade.
A ideia de viver em um veículo surgiu após uma viagem que o casal realizou pelo Nordeste. O estilo mochilão foi o escolhido, mas trouxe alguns desafios. "Carregávamos muita coisa e sentimos que isso dificultou nossa movimentação, logo não fomos a tantos lugares quanto gostaríamos", lembra Fera, como Mauricio é conhecido. No ano seguinte, buscando mais possibilidades, voltaram a viajar pela região. Dessa vez de carro, o que também não foi suficiente, levando-os a considerar um transporte maior.
O plano inicial era construir o lar em uma kombi, dentro do orçamento do casal, que planejava vender o carro que tinha. No entanto, uma oferta inesperada aumentou ainda mais a aposta: a da compra da casa que Erika tinha em Brasília. "Com o dinheiro na conta ainda tínhamos muitas dúvidas do que faríamos, mas o sonho de construir um motorhome continuava latente", relembram. Em contato com a Fazenda Cura, que presta consultoria para quem deseja realizar uma transição de vida, começaram a materializar esse sonho, com objetivos melhor delimitados.
Em um momento de coragem, compraram uma van escolar de amigos moradores de motorhome, a Família além das fronteiras, definiram o projeto, já que Keka é arquiteta por formação, e começaram a executar a obra com as próprias mãos. "A Van Daguia é um motorhome totalmente artesanal, construído por nós dois, com apoio de poucas pessoas muito queridas, que nos ajudaram pontualmente em algumas coisas que não tínhamos tanto conhecimento e habilidade", diz Fera. O projeto levou mais de um ano até ficar pronto, e conta, inclusive, com chuveiro quente.
Muitas partes da van foram criadas com materiais reciclados, reaproveitados e ressignificados pelos dois, que complementam seus conhecimentos: Keka é arquiteta e urbanista e Fera é artista plástico e tatuador. Com 8m², o espaço tem tudo que é encontrado em um lar tradicional: sala, cozinha, quarto, banheiro, área de serviço, depósito, terraço e muitos armários e gavetas. Os planos para o futuro, incluem a expansão com uma varanda com toldo e uma copa, que também pode funcionar como escritório, um espaço que já existe, mas que eles pretendem transformar.
Enquanto ainda estavam focados em finalizar a Van Daguia da maneira como sempre sonharam, o tempo ficou curto para viagens distantes e muito longas. Mas o lar móvel que abriga o casal já passou por assentamentos de bioconstrução e agrofloresta, além, é claro, de ser o transporte até diversos trabalhos socioambientais alinhados com a visão de mundo dos dois. "Queremos subverter a lógica capitalista, construindo uma estabilidade financeira que não esteja atrelada única e exclusivamente ao dinheiro na conta", relata o casal, que acredita no voluntariado e na troca.
Pensando no futuro, Keka e Fera buscam oportunidades de trabalhos voluntários e pessoas adeptadas ao escambo, com quem possam trocar o que podem oferecer pelo que necessitarem. "Não pensamos que o dinheiro não seja importante e até necessário, mas sentimos que ele não pode ser a única maneira de viver e de ter o que precisamos para uma vida confortável", completa Erika. Outra satisfação nesse estilo de vida, segundo os dois, é poder mostrar para as pessoas como é possível ser feliz e realizado com menos do que têm, gerando surpresa em quem escuta a história pela primeira vez, sabendo de tudo o que precisaram desapegar no caminho para chegar onde estão hoje.
A principal dica que oferecem aos interessados por tal liberdade é estarem abertos ao imprevisível. Viver uma vida nômade exige um desprendimento, a fim de diminuir as chances de frustrações, afinal, nem tudo está sob controle a todo momento. Mas reforçam as inúmeras vantagens e aprendizados que encontram no caminho: "O que nos move para continuar são as conexões com as pessoas que encontramos, e como isso reverbera nas nossas vidas".
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