Especial

Quem nos navega é o mar: relato de uma aventura a bordo de um veleiro

Velejador experiente, o colunista de política Luiz Carlos Azedo compartilha a recente experiência de navegar de La Seyne-sur-Mer, em Toulon, sul da França, a Sines, em Portugal, a bordo de um Dufour 365

Luiz Carlos Azedo
postado em 10/07/2022 07:00 / atualizado em 10/07/2022 18:43
A tripulação completa do Papago:  Ana Cláudia Lustosa, Azedo, Pedro Silva e o comandante Eduardo Viana -  (crédito: Arquivo pessoal)
A tripulação completa do Papago: Ana Cláudia Lustosa, Azedo, Pedro Silva e o comandante Eduardo Viana - (crédito: Arquivo pessoal)

Acreditem, nossa travessia do Mediterrâneo para o Atlântico Norte, pelo Estreito de Gibraltar, começa no Lago Paranoá, em Brasília. Explico-me: conheci Eduardo Viana, diretor industrial de uma grande editora do Porto (Portugal) e feliz proprietário do Papago, um veleiro de 36 pés no qual navegamos de La Seyne-Sur-Mer, em Toulon, até Sines, no Alentejo, durante uma velejada frustrada no Lago Paranoá.

Éramos dois casais navegando a contravento, no Lago Sul, quando o mastro do barco caiu, ao caçar as velas para aproveitar uma rajada mais forte. Felizmente, ninguém se machucou. Depois desse episódio, emprestei meu velho Tahiti 16, o Vasco, um veleiro miúdo, para que Eduardo e sua namorada, Ana Cláudia Lustosa, pudessem curtir as delícias do Paranoá.

Talvez por isso, Eduardo tenha me convidado para ajudá-lo a levar o Papago, um Dufour 365, de Toulon, no Sul da França, para o Porto, no Norte de Portugal. Seu velho amigo e calejado velejador Pedro Silva, colega da faculdade de engenharia química e editor de livros científicos numa editora concorrente à de Eduardo, era o segundo homem a bordo. Completei a tripulação.

Sou um velejador com alguma experiência. Além de ter participado de muitas regatas na represa Guarapiranga, da Semana de Vela de Ilha Bela, do circuito Vitória-Guarapari e, por três vezes, da Terra Brasília (Vitória-Ilha de Trindade), um percurso de 632 milhas náuticas para ir e outro tanto para voltar, também fiz pequenas travessias no Mediterrâneo, ao lado do meu falecido amigo Bruno Fernandes. Velejamos de Aegina a Samos, na Grécia; da Sicília a Sardenha, na Itália; e de Minorca a Maiorca, na Espanha, a bordo do seu Eromeni, um Bavária 45.

Ao ser convidado por Eduardo, não tive dúvidas: remanejei minhas férias, comprei minha passagem e embarquei. Vou fazer 70 anos, talvez nunca surgisse outra oportunidade de uma aventura como essa.

Sou habilitado a navegar em águas internacionais pelas Marinha do Brasil, como mestre amador, e já tinha experiência como velejador nas águas do Mediterrâneo.

Minha função a bordo seria ajudar nas manobras como proeiro e auxiliar na navegação, mas acabei me destacando como cozinheiro. Encarar um fogão com competência, num barco em movimento, sem marear, é um importante atributo náutico.

Sabores e dissabores

Entretanto, a travessia do Papago nem de longe se comparou a experiências anteriores. Foram duas semanas de confinamento num barco, sem tempo para conhecer as cidades pelo caminho, como gostaria. A Rota da Reconquista, por exemplo, é um grande roteiro turístico da Espanha, assim como as suas praias magníficas da costa e das Ilhas Baleares, das quais não conheço, Ibiza e Formenteira. O turismo de massa é uma realidade na Espanha, mas dá um pouco de tristeza ver dezenas de Copacabanas ao nos aproximarmos do continente.

Uma travessia como a que fizemos, correndo contra o tempo e navegando a maior parte do tempo contra um vento frontal, é uma jornada dura: alimentação à base de enlatados e pré-cozidos, noites mal dormidas em cabines claustrofóbicas, horas de monotonia motorando. O cockpit do Papago é um espaço exíguo, no qual nos revezamos nos afazeres da vigília, do leme e da regulagem das velas. Só quem é velejador suporta uma travessia como essa, muito diferente de um cruzeiro. Mas o desafio e os bons momentos de convivência fazem valer a pena. Tudo vale a pena, se a alma não é pequena, disse o poeta Fernando Pessoa.

Nas experiências anteriores no Mediterrâneo, parávamos para conhecer as cidades; curtíamos praias espetaculares. Fazíamos refeições quentes todos os dias a bordo ou em bares e restaurantes da costa. Grande arquiteto, meu amigo Bruno Fernandes, com quem costumava dividir as aventuras, passava de três a quatro meses meses por ano velejando, ao lado da esposa, Luciene. Seu barco ficava pelo Mediterrâneo e os amigos se revezavam a bordo, em temporadas de 15 a 20 dias.

A viagem do Papago, não; era quase um delivery. O objetivo combinado era chegar ao Porto em duas semanas, antes que as férias do seu novo proprietário acabassem. Por isso, a derrota — nome que se dá à rota traçada — era uma corrida contra o relógio, as ondas e os ventos, que, na maior parte do tempo, foram muito fracos ou desfavoráveis. O comandante Eduardo Viana pretendia chegar ao Atlântico em uma semana, navegando dia e noite, mas era um plano muito ambicioso para a sua tripulação. Velejadores profissionais, contratados para esse tipo de empreitada, fariam o percurso com facilidade.

Esse não era o nosso caso. Na primeira etapa da viagem, navegamos dia e noite, muito ao largo da costa, mas a tripulação sentiu a pressão da alimentação precária e das noites mal dormidas. Nosso comandante já no segundo dia amanheceu com uma enxaqueca insuportável. A dor de cabeça, o estresse das manobras num barco que mal conhecíamos e as idiossincrasias de cada um repercutiriam no clima a bordo.

Existe, porém, uma contingência inescapável: o fato de termos que interagir com os elementos — as águas, o vento, o sol, a escuridão. Muito mais poderosos, despertam no ser humano os instintos básicos da sobrevivência. Isso cria uma relação de solidariedade e mútua dependência que supera a insegurança, o cansaço e os estranhamentos, cria novos laços e forja amizades. Há uma mediação compulsória das diferenças de comportamento, que aproxima as pessoas, gera a aceitação do outro e desfaz os conflitos. Velejar tem essa característica.

O salto de qualidade de nossa viagem ocorreu na escala em Valência, a bela e culta cidade espanhola, na qual compensamos todo o desconforto com uma bela paelha de mariscos, no Restaurante Roberto, um vinho honesto e um passeio pelo centro da cidade, com direito a um concerto de orquestra ao ar livre. Depois desse dia, as condições de travessia melhoraram muito, por várias razões. A mais importante foi a decisão de que não deveríamos passar a noite navegando; mas pernoitar fundeados ou atracados em marinas, o que nos permitiu fugir do confinamento, tomar banhos com abundância de água e curtir minimamente as localidades por onde passamos.

Mudanças na travessia

A tripulação completa do Papago:  Ana Cláudia Lustosa, Azedo, Pedro Silva e o comandante Eduardo Viana
A tripulação completa do Papago: Ana Cláudia Lustosa, Azedo, Pedro Silva e o comandante Eduardo Viana (foto: Arquivo pessoal)

As pessoas imaginam que um barco a vela é o melhor lugar do mundo para curtir o mar. É mesmo, mas também depende das circunstâncias. Na travessia, o contexto é outro, completamente diferente. A jornada é dura, exige resiliência, capacidade de adaptação e foco no objetivo que se pretende alcançar. A emoção, muitas vezes, está em ver os golfinhos saltarem, quando nada mais acontecia; o céu estrelado num horizonte de 360 graus, em meio ao frio da madrugada e à escuridão das águas; em contornar as redes de arrasto dos grandes barcos de pesca ou, com o sol a pino, curtir o azul magnífico das águas profundas.

Eduardo Vianna é um português de classe média, bem sucedido profissionalmente. Seu namoro com Ana Cláudia começou na Tailândia, onde se viram pela primeira vez, e daria um roteiro de cinema. Tem cultura literária, cabeça de engenheiro e coração de poeta. Havia adquirido o barco recentemente e ainda está assimilando suas manhas. Cascudo, compensou a pouca experiência de velejador com a sua resiliência, a prudência nas manobras e o espírito raçudo.

Contava com o apoio remoto de um amigo, que monitorava as condições climáticas, as sugestões de Ana Cláudia em relação às escalas, e as dicas do ex-proprietário do barco, que era consultado sempre que surgia um problema, como foi o caso de quando o motor da corrente da âncora parou de funcionar porque sua velha bateria já não recarregava.

Depois da travessia de Gibraltar, em Cadiz, Ana Cláudia finalmente embarco no Papago. A namorada brasileira de Eduardo mudou completamente o astral do nosso comandante e também seus objetivos. Ela fizera uma longa viagem de Brasília para Lisboa, com uma escala de 12 horas em Luanda, Angola. Depois, pegou um voo para Sevilha e foi de ônibus para Cadiz. Seu primeiro dia a bordo foi pesado, pois decidimos velejar à noite, mudando os horários de turno. Ana Claudia fez companhia a Eduardo no convés até as 2h, quando Pedro assumiu o comando do barco. Às 5h, foi minha vez de assumir o timão.

Navegamos até a Ilha da Culatra, na entrada de Faro, no Alentejo, onde almoçamos, pela primeira vez, numa autêntica vila de pescadores. Estávamos finalmente em território português. Pedro Silva, por razões familiares, teve que se despedir na ilha e pegar uma lancha para o continente, voltando antecipadamente para o Porto.

Eduardo refez seus planos. Daí em diante "cruzeiramos", com boas refeições a bordo e melhores ainda em terra firme. Sua meta passou a ser chegar a Sines, a terra natal de Vasco da Gama, na região do Alentejo, já próximo de Lisboa, onde deixaria o barco numa marina por duas semanas. Qualquer velejador experiente sabe que nem sempre conseguimos chegar onde desejamos nem no tempo que gostaríamos. Quem nos navega é o mar, como diria o Paulinho da Viola.

 O fascinante Estreito de Gibraltar

Pelo Estreito de Gibraltar passa um navio a cada seis minutos
Pelo Estreito de Gibraltar passa um navio a cada seis minutos (foto: Luiz Carlos Azedo/CB.D.A.Press)

A parte mais emocionante de nossa aventura náutica foi a travessia do Estreito de Gibraltar, mais pelo simbolismo do que pelas condições do mar, que estava tranquilo, embora, no Atlântico, elas tenham se alterado bastante, com rajadas de vento de até 30 nós e muitas ondas cruzadas pela popa. O encontro das águas do Mediterrâneo com o Atlântico e a vista simultânea de dois continentes são deslumbrantes. Apenas 14,24km, o equivalente a 7,7 milhas, separam a Europa da África.

A profundidade das águas do estreito varia entre 300 e 1.000 metros. Nos últimos anos, na saída dessa área, ocorreram ataques de orcas a veleiros, um fenômeno ainda não explicado que, geralmente, provoca avarias nos lemes. Segundo biólogos, por causa das redes de pesca, as orcas de Gibraltar estão estressadas e correm o risco de desaparecer. Atualmente, haveria apenas cerca de 50 exemplares da espécie na região.

Gibraltar é um território controlado até hoje pela Inglaterra; do outro lado do estreito, destaca-se Ceuta, um enclave espanhol no Marrocos. Por esse canal passa um navio a cada seis minutos, num total de 85 mil grandes embarcações por ano — daí a nossa decisão de cruzarmos a região durante o dia. Na Antiguidade, Gibraltar era o Monte Calpe, um dos "Pilares de Hércules"; o outro era o Monte Hacho, chamado de Ábilian pelos muçulmanos. Segundo a mitologia grega, em um dos seus 12 trabalhos, Hércules abriu caminho com seus ombros para ligar o Mediterrâneo ao Atlântico.

Riqueza histórica

O nome Gibraltar é uma homenagem ao general Tariq ibn Ziyad (Tárique), o Grande (Djabal), que atravessou o estreito em 711, quando os muçulmanos invadiram a Península Ibérica, a qual dominaram até o século 16. Geologicamente, o estreito é o resultado da divisão de duas placas tectônicas: a Euro-asiática e a Africana. A conquista de Ceuta, em 1415, que aparece nos livros escolares, marcou o começo da expansão ultramarina portuguesa.

O objetivo da Coroa portuguesa, impulsionada pela burguesia, era se apoderar da cidade que recebia as caravanas de mouros que transportavam ouro, marfim, especiarias e escravos. A expedição mobilizou uma frota de 212 embarcações, sendo 59 galés e 33 naus. Para a empreitada, toda a alimentação que havia no Porto, origem da maior parte da frota, foi requisitada por Lisboa, restando aos seus moradores comer as tripas do gado, que deram origem ao prato famoso, "Tripas à moda do Porto", e ao apelido de seus moradores, "tripeiros". Quem for a um jogo do F. C. do Porto no Estádio do Dragão, certamente escutará o grito de guerra: "Quem bate palmas é tripeiro. É tripeiro. É tripeiro!!!"

Ceuta tornou-se diocese em 1417, por bula do papa Martinho V. A partir de 1645, a diocese de Ceuta deixou de pertencer a Portugal e passou a ser espanhola. No contexto da Dinastia Filipina, que se seguiu à morte de D. Sebastião, em 1580, Ceuta manteve a administração portuguesa, tal como Tânger e Mazagão. Todavia, quando a Restauração Portuguesa, em 1640, não aclamou o duque de Bragança como rei de Portugal, ficou sob domínio espanhol. A situação foi oficializada em 1668, com o Tratado de Lisboa.

Gastronomia: o carbonara do papa

O primeiro carbonara improvisado a bordo: sem manteiga nem  sal e pimenta
O primeiro carbonara improvisado a bordo: sem manteiga nem sal e pimenta (foto: Arquivo pessoal)

Cozinhar num barco a vela em movimento sempre é um risco. A panela pode virar numa onda mais forte ou o cozinheiro ficar mareado com os cheiros e o balanço do barco. Por isso, quem tem mais resistência ao enjoo e sabe pilotar o fogão acaba cozinheiro de bordo. Foi o que aconteceu comigo na viagem do Papago. Antes de embarcar, eu me ofereci para preparar uma feijoada após a passagem de Gibraltar e tapiocas nos cafés da manhã, que os portugueses chama de pequeno almoço. Eu estava com "excesso de expectativas".

Se dependesse apenas do comandante Eduardo Viana, a alimentação de bordo seria à base de saladas, peixes e massas enlatadas, pães, queijos, sucos, frutas e umas cervejinhas. Foi preciso fazer um apelo para comprar alguns ingredientes in natura, tipo alho, cebola, cogumelos e pastas de grão duro.

Destilado a bordo estava proibido, mas contrabandeei uma garrafa de gim, cujo consumo acabou se tornando um "rito de passagem", num happy hour a bordo, sempre que nos aproximávamos dos nossos destinos.

No terceiro dia de navegação, com mar de almirante, pedi permissão para mostrar meus dotes culinários e fazer um carbonara, com o espaguete, os queijos parmesão e pecorino e o bacon que havia comprado, cujo cheiro enjoativo na geladeira já provocava reações desfavoráveis do nosso capitão.

Era a receita dos irmãos Ratzinger, ou seja, da família do papa Bento XVI: 400g de espaguete, quatro ovos, 5g de parmesão, 50g de pecorino, mas não havia manteiga, sal nem pimenta. A alternativa foi usar um pouco do azeite do tempero de salada industrializado que havia a bordo, derramando cuidadosamente na frigideira para o vinagre não vir junto, acrescentar mais dois ovos e pôr mais parmesão, para substituir a falta de sal. Ficou bom.

Melhor ainda ficou no final da viagem, depois que comprei manteiga, sal e pimenta-do-reino, para seguir à risca a receita papal. Bati os ovos com o parmesão, o pecorino, o sal e a pimenta; cortei o bacon em tiras e dourei na manteiga; cozinhei o espaguete em água fervendo um minuto a menos do que o recomendado na embalagem; escorri e continuei a cocção na frigideira em que o bacon foi frito, em fogo baixo. Dois minutos depois, acrescentei o bacon já dourado e os ovos batidos. Mexi lentamente, com um pouco da água do cozimento e servi quente!

O comandante abriu a única garrafa de Cabriz que havia a bordo. Estava feliz, com Ana Cláudia ao seu lado. Modéstia à parte, o carbonara estava divino.

Diário de bordo

  • Revista - Especial - Velejada pela Europa - Chegada a Sines Luiz Carlos Azedo/CB/D.A.Press
  • O veleiro Papago atracado: a estrela da aventura Luiz Carlos Azedo/CB/D.A.Press
  • O primeiro carbonara improvisado a bordo: sem manteiga nem sal e pimenta Arquivo pessoal
  • Revista - especial - velejada pela Europa Luiz Carlos Azedo/CB/D.A.Press
  • Revista - Especial - Velejada pela Europa Arquivo pessoal
  • Pelo Estreito de Gibraltar passa um navio a cada seis minutos Luiz Carlos Azedo/CB.D.A.Press
  • A tripulação completa do Papago: Ana Cláudia Lustosa, Azedo, Pedro Silva e o comandante Eduardo Viana Arquivo pessoal
  • Puerto Marina Del Leste, em Almuñecar, Espanha: belas paisagens pelo caminho Eduardo Viana
  • Revista - Especial - Cabo de São Vicente, Partuda de Sagres, Portugal Eduardo Viana
  • Revista - Especial - Travessia de Portugal à França de veleiro Luiz Carlos Azedo/CB/D.A.Press
  • Revista - Especial - Travessia de Portugal à França de veleiro Luiz Carlos Azedo/CB/D.A.Press
  • Revista - Especial - Velejada - Puerto Marina Del Leste, Almunecar, Espanha Luiz Carlos Azedo/CB/D.A.Press

O comandante Eduardo Viana registrou o dia a dia da travessia. Confira trechos do trajeto:
- Sábado, 4 de junho — Saída de La Seyne-Sur-Mer, junto a Toulon, às 12h.
- Domingo, 5 de junho — Nascer do sol no Mediterrâneo. A costa espanhola está próxima…
- Segunda-feira, 6 de junho — Noite muito bem dormida, após excelente jantar (bom e barato!) no Restaurante Sibaris. Blanes ficou para trás. Saída às 12h. Próximo destino: Valência, mais de 30 horas de viagem. 14h. A moral da tripulação está em alta, com a refeição quente preparada pelo cozinheiro
de bordo… sem sal e sem azeite, mas com muito talento! 17h. Ao largo de Barcelona. A distância e a neblina só permitem adivinhar o skyline da cidade. 20h30. E, de repente, isto… (golfinhos).
- Quinta-feira, 9 de junho — 12h. Saída de Denia. Mais um dia bonito, mas com pouco vento. Estamos atrasados, bastante atrasados mesmo… temos que mudar de estratégia e tentar queimar etapas. Próximo destino: Cartagena, a mais de 100 milhas. Vamos evitar parar em marina, e antes fundear algum tempo para descansar. 21h30. O Papago fundeado na ilha de Tabarca… por hoje, o caminho está
feito. Foram 61 milhas em 10 horas de navegação. Muito boa média. Amanhã, esperamos sair pela alvorada.
- Sábado, 11 de junho — 12h30. Saída de Aguilas. Navegação com pouco vento numa primeira fase…. 16h. O vento aumentou bastante, com entrada pela popa, abrimos a genoa e atingimos médias muito próximas dos 8 nós. 19h. Aproximação ao Cabo de Gata, perto de Almeria. Um marco importante! 21h. Decidimos fundear na praia, logo ao lado do Cabo da Gata, pois temos boas referências deste fundeadouro. O vento aumentou muito nesta zona, chegando a atingir 30 nós. Apesar disso, na praia não se sente ondulação e a noite foi tranquila… se não fosse o facto de termos uma avaria e não conseguirmos ligar o motor! Acabou por ser uma noite de grande estresse, com telefonemas e mensagens para quem nos poderia ajudar a resolver o problema: o anterior proprietário do barco e o grande Paulo Ferreira Braga.
- Terça-feira, 14 de junho — 8h. Largada de Marbella. Pequeno almoço a bordo: panqueca de tapioca e banana. 11h. Já se distingue claramente os extremos dos continentes europeu e africano… à direita,
o rochedo de Gibraltar, à esquerda, a cidade de Ceuta! O Oceano Atlântico está próximo! 13h. A atravessar Gibraltar... 15h30. Tarifa… a partir de agora, vamos para Norte! 17h. Pois é… o Atlântico
começou logo a mostrar a sua força. Ventos de 30 nós logo a partir de Tarifa. Não foi fácil…
- Quarta-feira, 15 de junho — 10h30. Saída de Barbate, onde passamos a noite. 11h30. Cabo Trafalagar, lugar mítico na história. Aqui, em 1805, o almirante Nelson venceu as armadas francesa e espanhola,
assegurando uma das mais importantes vitórias para a Inglaterra. 16h. Cadiz! Visita rápida a esta belíssima cidade-ilha… ficou a vontade de voltar em breve… almoço no centro e reabastecimento de comida e de combustível. Recolha de mais um passageiro… bem-vinda a bordo, Ana Cláudia Lustosa!
- Quinta-feira, 16 de junho — 11h. Chegamos a Portugal! Depois de uma noite de tormenta, o mar começou a serenar pelas 5 da manhã… a primeira vista de terras portuguesas foi duplamente reconfortante — o farol do cabo de Santa Maria, na entrada da barra de Faro/Olhão. Entramos para fundear junto à ilha da Culatra. A chegada foi justamente celebrada com um banho de mar e uma garrafa de espumante português. 15h. Chegou a hora da despedida do Pedro, forçado a regressar mais cedo a casa. Obrigado, Pedro! Boa viagem!
- Sábado, 18 de junho — 7h. Partida de Sagres, depois de mais uma noite mal dormida, em resultado do balanço do barco e do ruído envolvente… de facto, o fundeadouro é muito bonito, mas não se compara à estabilidade da Marina! Pouco depois, cruzamos o Cabo de S. Vicente, em total calmaria, e começamos
a rumar a norte. 15h. Navegação pela costa alentejana, com o mar praticamente sem vaga e vento muito reduzido…O fim da viagem está próximo… já sabemos que não temos tempo para conseguir chegar ao Porto, e a alternativa será deixar o barco a descansar algum tempo em Sines. 19h. Sines! Chegamos à terra natal de Vasco da Gama. Haverá melhor lugar para deixar o Papago descansar no fim de uma travessia marítima tão longa? A viagem ficou incompleta… não ficam todas? “O fim de uma viagem é apenas o começo de outra”, (José Saramago). Voltaremos em breve para levar o Papago ao seu destino final.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação