Gildene Santiago, a Gil, tinha pouco mais de 18 anos quando conheceu Gilberto Mendoza na igreja. O ano era 1980 e ele, que era funcionário da Força Aérea Peruana, tinha acabado de chegar a Brasília para servir na Embaixada do Peru. "A gente, literalmente, se esbarrou. Eu tropecei na escada e caí em cima dele", recorda-se a brasiliense.
Foi amor à primeira vista. Em menos de um ano, Gil e Gilberto estavam casados e de malas prontas para morar no Peru. Ela largou o emprego no Ministério da Fazenda e passou a ser dona de casa no país vizinho. Primeiro, os recém-casados passaram um ano em Lima; depois, mudaram-se para Pucalppa, cidade onde vivia a família de Gilberto.
Gil recorda-se que não sabia cozinhar nada e, aos trancos e barrancos, precisou aprender do zero. Com a ajuda da sogra e da cunhada, que era dona de uma cevicheria, começou a fazer receitas peruanas. Foi tomando gosto pelas panelas e se tornando uma cozinheira de mão cheia.
A brasiliense costumava ajudar a cunhada na cevicheria e foi descobrindo os segredos da cozinha peruana. "É uma gastronomia muito rica. Cada região do país tem suas próprias receitas. Dá para comer o ano inteiro sem repetir um prato", reforça. Já quando o assunto é gastronomia brasileira, Gil vai logo avisando: "O único prato que sei fazer bem é feijoada", diz, modesta.
Em 1986, com um filho pequeno e o segundo a caminho, o casal, assustado com o avanço do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, decidiu voltar para o Brasil. "Colocaram uma bomba na escola em que Gilberto era professor, em Pucalppa. Aquilo nos assustou", justifica. Gilberto saiu das Forças Armadas e passou a trabalhar na Embaixada do Peru, em Brasília, como civil.
Logo que chegaram à capital, em 1987, os dois abriram um restaurante de comida peruana no Lago Sul. "Na época, poucos conheciam a gastronomia do Peru, não era algo popular como hoje." No início, o lugar fez sucesso, principalmente entre peruanos e funcionários de outras embaixadas, mas, com o tempo, o movimento foi ficando mais fraco e o casal decidiu fechar as portas.
Saiba Mais
Delivery
Gilberto seguiu trabalhando na Embaixada do Peru e Gil passou a atuar como secretária na Igreja Metodista da Asa Sul. A comida, sobretudo peruana, sempre teve um papel importante na família, formada, agora, por quatro filhos. Eles chegaram a participar de alguns eventos na cidade, especialmente em embaixadas, mas sempre de forma esporádica e como um hobby.
Veio a pandemia e os filhos deram a ideia: por que não abrir um delivery de pratos peruanos? "Todo mundo estava em casa, pedindo comida por aplicativo, era uma boa oportunidade", recorda-se Gil. Surgia, assim, o De la Gil, que, aos fins de semana e por encomenda, oferece, além do tradicional ceviche, outros pratos típicos do Peru, preparados de forma autêntica. Toda a família ajuda, de alguma forma, Gil a preparar os alimentos.
Por meio do Instagram e do WhatsApp, o De la Gil anuncia o cardápio do fim de semana. O ceviche, feito com filé de tilápia e leite de tigre servido à parte para aqueles que amam uma pimenta, não pode faltar. Mas há também arroz chaufa, típico da gastronomia chifa (mistura de chinesa e peruana); aji de gallina, uma espécie de ensopado de frango; e patacones, bastante popular no Equador, mas que ganhou o seu espaço no Peru.
Gil destaca ainda a papa huancaína, aperitivo de batatas cozidas em um molho picante e cremoso feito de queijo fresco, e a papa rellena, batata recheada com carne moída. Para arrematar, chicha morada, popular bebida peruana feita com milho roxo, abacaxi, canela, cravo e outras especiarias. "O milho roxo, base da bebida, trazemos em grande quantidade quando vamos ao Peru. O meu filho que mora no Canadá também sempre nos manda. É difícil encontrar por aqui."
Além do sucesso do delivery, que hoje conta com clientes fiéis, há cerca de seis meses, o De la Gil foi convidado a participar do Complexo Cultural, no Eixão do Lazer, na altura da 210/211 Sul. Todos os domingos, Gil prepara porções de ceviche e chicha morada e Gilberto e a filha caçula seguem para comercializá-los. "Em menos de duas horas acaba tudo", garante o peruano.
Gil acorda de madrugada para preparar os pratos da forma mais fresca possível. A receita do ceviche, que teve seu dia celebrado no início da semana passada, ela compartilha com os leitores da coluna. Um dos segredos, garante, é o uso da pimenta rocoto, típica do Peru, e, claro, muito amor. "Preparo esses pratos com muito carinho." Um tempero adicional!
Ceviche da Gil
Ingredientes
2 filés de tilápia limpos
Gengibre
Alho
Limão
Pimentas do reino, rocoto (típica do Peru), dedo-de-moça e biquinho
Coentro e salsa
Cebola-roxa
Batata-laranja ou doce
Milho em conserva
Modo de fazer
Tire a ponta do rabo do filé de tilápia, já limpo, e corte em cubos de aproximadamente 1cm. Coloque o peixe em um bowl com uma mistura de gengibre, alho e suco de limão, previamente preparada, e acrescente pimentão vermelho, pimentão amarelo e pimenta dedo-de-moça picadinhos. A proporção vai de acordo se você quer mais ou menos apimentado. Tempere com coentro e salsa picados, sal e pimenta-do-reino a gosto e misture bem.
Acrescente o leite de tigre previamente preparado, pimenta rocoto e suco de limão e deixe "cozinhar" por cerca de 30 minutos. Se você não gosta do ceviche muito apimentado, não coloque o leite de tigre e deixe-o à parte.
Na hora de servir, coloque cebola-roxa cortada em tiras, pimenta-biquinho, batata-laranja cozida e milho verde.
O leite de tigre consiste nas sobras do peixe temperadas com alho e pimentas dedo-de-moça e rocoto, cozidas e batidas no liquidificador.
Serve 2 pessoas
Serviço
Instagram: @delagilperu
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.