Encontro com o Chef

Família peruana oferece ceviche e outras delícias típicas no DF

Depois de se casar com um peruano e morar um tempo no país andino, brasiliense aprende segredos da culinária local. Na pandemia, a família abriu um delivery, em que oferece ceviche e outras delícias típicas

Sibele Negromonte
postado em 03/07/2022 08:00
 (crédito: Sibele Negromonte/CB/D.A.Press)
(crédito: Sibele Negromonte/CB/D.A.Press)

Gildene Santiago, a Gil, tinha pouco mais de 18 anos quando conheceu Gilberto Mendoza na igreja. O ano era 1980 e ele, que era funcionário da Força Aérea Peruana, tinha acabado de chegar a Brasília para servir na Embaixada do Peru. "A gente, literalmente, se esbarrou. Eu tropecei na escada e caí em cima dele", recorda-se a brasiliense.

Foi amor à primeira vista. Em menos de um ano, Gil e Gilberto estavam casados e de malas prontas para morar no Peru. Ela largou o emprego no Ministério da Fazenda e passou a ser dona de casa no país vizinho. Primeiro, os recém-casados passaram um ano em Lima; depois, mudaram-se para Pucalppa, cidade onde vivia a família de Gilberto.

Gil recorda-se que não sabia cozinhar nada e, aos trancos e barrancos, precisou aprender do zero. Com a ajuda da sogra e da cunhada, que era dona de uma cevicheria, começou a fazer receitas peruanas. Foi tomando gosto pelas panelas e se tornando uma cozinheira de mão cheia.

A brasiliense costumava ajudar a cunhada na cevicheria e foi descobrindo os segredos da cozinha peruana. "É uma gastronomia muito rica. Cada região do país tem suas próprias receitas. Dá para comer o ano inteiro sem repetir um prato", reforça. Já quando o assunto é gastronomia brasileira, Gil vai logo avisando: "O único prato que sei fazer bem é feijoada", diz, modesta.

Em 1986, com um filho pequeno e o segundo a caminho, o casal, assustado com o avanço do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, decidiu voltar para o Brasil. "Colocaram uma bomba na escola em que Gilberto era professor, em Pucalppa. Aquilo nos assustou", justifica. Gilberto saiu das Forças Armadas e passou a trabalhar na Embaixada do Peru, em Brasília, como civil.

Logo que chegaram à capital, em 1987, os dois abriram um restaurante de comida peruana no Lago Sul. "Na época, poucos conheciam a gastronomia do Peru, não era algo popular como hoje." No início, o lugar fez sucesso, principalmente entre peruanos e funcionários de outras embaixadas, mas, com o tempo, o movimento foi ficando mais fraco e o casal decidiu fechar as portas.

Delivery

Gilberto seguiu trabalhando na Embaixada do Peru e Gil passou a atuar como secretária na Igreja Metodista da Asa Sul. A comida, sobretudo peruana, sempre teve um papel importante na família, formada, agora, por quatro filhos. Eles chegaram a participar de alguns eventos na cidade, especialmente em embaixadas, mas sempre de forma esporádica e como um hobby.

Veio a pandemia e os filhos deram a ideia: por que não abrir um delivery de pratos peruanos? "Todo mundo estava em casa, pedindo comida por aplicativo, era uma boa oportunidade", recorda-se Gil. Surgia, assim, o De la Gil, que, aos fins de semana e por encomenda, oferece, além do tradicional ceviche, outros pratos típicos do Peru, preparados de forma autêntica. Toda a família ajuda, de alguma forma, Gil a preparar os alimentos.

Por meio do Instagram e do WhatsApp, o De la Gil anuncia o cardápio do fim de semana. O ceviche, feito com filé de tilápia e leite de tigre servido à parte para aqueles que amam uma pimenta, não pode faltar. Mas há também arroz chaufa, típico da gastronomia chifa (mistura de chinesa e peruana); aji de gallina, uma espécie de ensopado de frango; e patacones, bastante popular no Equador, mas que ganhou o seu espaço no Peru.

Gil destaca ainda a papa huancaína, aperitivo de batatas cozidas em um molho picante e cremoso feito de queijo fresco, e a papa rellena, batata recheada com carne moída. Para arrematar, chicha morada, popular bebida peruana feita com milho roxo, abacaxi, canela, cravo e outras especiarias. "O milho roxo, base da bebida, trazemos em grande quantidade quando vamos ao Peru. O meu filho que mora no Canadá também sempre nos manda. É difícil encontrar por aqui."

Além do sucesso do delivery, que hoje conta com clientes fiéis, há cerca de seis meses, o De la Gil foi convidado a participar do Complexo Cultural, no Eixão do Lazer, na altura da 210/211 Sul. Todos os domingos, Gil prepara porções de ceviche e chicha morada e Gilberto e a filha caçula seguem para comercializá-los. "Em menos de duas horas acaba tudo", garante o peruano.

Gil acorda de madrugada para preparar os pratos da forma mais fresca possível. A receita do ceviche, que teve seu dia celebrado no início da semana passada, ela compartilha com os leitores da coluna. Um dos segredos, garante, é o uso da pimenta rocoto, típica do Peru, e, claro, muito amor. "Preparo esses pratos com muito carinho." Um tempero adicional! 

Ceviche da Gil

Ceviche do De la Gil
Ceviche do De la Gil (foto: Sibele Negromonte/CB/D.A.Press)

Ingredientes

2 filés de tilápia limpos

Gengibre

Alho

Limão

Pimentas do reino, rocoto (típica do Peru), dedo-de-moça e biquinho

Coentro e salsa

Cebola-roxa

Batata-laranja ou doce

Milho em conserva

Modo de fazer

Tire a ponta do rabo do filé de tilápia, já limpo, e corte em cubos de aproximadamente 1cm. Coloque o peixe em um bowl com uma mistura de gengibre, alho e suco de limão, previamente preparada, e acrescente pimentão vermelho, pimentão amarelo e pimenta dedo-de-moça picadinhos. A proporção vai de acordo se você quer mais ou menos apimentado. Tempere com coentro e salsa picados, sal e pimenta-do-reino a gosto e misture bem.

Acrescente o leite de tigre previamente preparado, pimenta rocoto e suco de limão e deixe "cozinhar" por cerca de 30 minutos. Se você não gosta do ceviche muito apimentado, não coloque o leite de tigre e deixe-o à parte.

Na hora de servir, coloque cebola-roxa cortada em tiras, pimenta-biquinho, batata-laranja cozida e milho verde.

O leite de tigre consiste nas sobras do peixe temperadas com alho e pimentas dedo-de-moça e rocoto, cozidas e batidas no liquidificador.

Serve 2 pessoas

Serviço

Instagram: @delagilperu

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  • Gildene Santiago e Gilberto Mendoza, à frente do De la Gil, delivery de comida peruana
    Gildene Santiago e Gilberto Mendoza, à frente do De la Gil, delivery de comida peruana Foto: Sibele Negromonte/CB/D.A.Press
  • Gildene Santiago 
e Gilberto Mendoza, à frente do De la Gil, delivery de 
comida peruana
    Gildene Santiago e Gilberto Mendoza, à frente do De la Gil, delivery de comida peruana Foto: Sibele Negromonte/CB/D.A.Press
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