Uma cena clássica e que quase toda menina pensa em reproduzir quando adulta é a protagonista do filme saindo do banho, cheirosa, de roupão e com uma toalha enrolada na cabeça. E enquanto fala ao telefone, faz a maquiagem ou mesmo descansa em uma poltrona após um dia estressante no trabalho, a toalha segue na cabeça. No entanto, é praticamente impossível encontrar um especialista em cabelo que seja fã da técnica.
Embora seja famosa, a toalha na cabeça pode ser uma inimiga da saúde dos fios por diversos motivos. A tricologista e fundadora da clínica Sweet Therapy, Cristiana Mendanha, começa mencionando a fricção na fibra capilar. O tecido de uma toalha comum, principalmente quando secamos esfregando na cabeça, cria pequenos nós na haste do fio, chamados de triconodoses. Impossíveis de desfazer, eles acabam causando a quebra.
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Se logo após esse movimento, torcemos o cabelo e o colocamos para cima na toalha, os danos aumentam. A torção do fio molhado ou úmido também faz com que ele fique enfraquecido e quebre, além de causar muito mais frizz.
O hairstylist Wander Lima, embaixador da GA.MA Italy, explica que, quando o cabelo está para cima, em uma posição inversa à sua natural, salvo nos casos de cabelos crespos modelados para o alto, ele tende a embaraçar muito mais. "Ele vai criar os nós, e a toalha vai remover a umidade. Para desembaraçar, quanto mais seco, pior. As chances de quebra e dano aumentam, além do excesso de atrito", explica o profissional.
O abafamento causado pela toalha deixada por muito tempo também ocasiona um maior volume na raiz, algo de que as brasileiras não são muito fãs. Cabelos virgens são mais maleáveis e sofrem menos com a técnica, mas o ideal é não passar tempo demais com a toalha enrolada.
O certo é passar a toalha no cabelo seguindo a direção natural dos fios, massageando lentamente e removendo o excesso de água. Caso a pessoa tenha muito cabelo e goste de deixá-lo na toalha enquanto termina de se arrumar, evitando que caia água na roupa ou no rosto, Cristiana recomenda o uso da microfibra.
Toucas e toalhas de microfibra próprias para o cabelo vêm com um botão para prender o cabelo sem precisar fazer a torção. O material, diferentemente do algodão atoalhado, remove o excesso de frizz.
Sem proteção, sem calor
Quem prefere sair do banho e garantir os cabelos secos em menos tempo costuma investir em secadores e escovas secadoras. Mas Cristiana e Wander são categóricos: não tente secar os fios encharcados. A primeira coisa a se fazer é remover o excesso de água, seja com a toalha, seja esperando um pouco até que o cabelo fique úmido naturalmente. Se ele sai da água direto para o secador, os riscos de bubble hair são altos.
Quando aplicamos uma alta temperatura no cabelo extremamente molhado, o choque térmico faz com que a água na parte interna da fibra capilar evapore quase instantaneamente. Assim, a parte de dentro do fio fica preenchida com bolhas de ar e enfraquece. Cristiana explica que o meio-termo é o ideal: o cabelo precisa estar úmido, com água suficiente para permitir a elasticidade e maleabilidade do fio, para que ele seja modelado sem se romper.
Wander acrescenta que quem tem química nos fios precisa ter atenção redobrada, uma vez que a fibra capilar já fica mais fragilizada e suscetível. O hairstylist ressalta a importância do protetor térmico. Cristiana reforça o alerta de Wander. Qualquer fonte de calor vai causar dano, então o protetor térmico não pode ser opcional — se existe o secador, a chapinha ou a escova rotatória, ele tem que estar presente.
"Temos estudos comparativos que mostram que, sem a proteção térmica, o cabelo vai perdendo proteína de dentro para fora, ficando em formato de canudo. É uma erosão interna que acaba quebrando o cabelo", explica a tricologista.
Secadores e escovas
O dano causado por cada ferramenta está muito relacionado à forma de uso. A maioria dos secadores, por exemplo, tem potência de 2000w a 2500w, gerando um calor que pode chegar de 120ºC a 190ºC. Se usados muito próximos aos fios, podem causar danos intensos e graves.
Escovas secadoras, segundo Wander, têm menos potência, chegando a 70ºC ou 90ºC. Mas, se deixadas em contato com a fibra capilar por tempo demais, podem causar mais danos que um secador usado a uma distância mais segura. "Produtos profissionais já vêm com uma série de proteções, como íons e cerâmica. Então, para diminuir os danos, é legal pesquisar antes de fazer uma escolha. E saber usar cada um de forma correta."