A palavra menopausa vem do grego men, que quer dizer mês ou luas — marcadores temporais, ciclos —, e pausis, que significa pausa, término. A Sociedade Norte-Americana de Menopausa estima que o mundo terá 1 bilhão de pessoas entre a perimenopausa (pré-menopausa) e a pós-menopausa até 2025. Como disse a jornalista Mariza Tavares, no lançamento Menopausa: o momento de fazer as escolhas certas para o resto da sua vida, "ninguém deve se sentir só nessa".
Se a adolescência funciona como uma explosão hormonal, o fim do período reprodutivo é marcado pela queda de estrogênio (ou estrógeno) e progesterona, que são hormônios ovarianos, entre os 45 e os 55 anos. A irregularidade da menstruação é o principal sintoma. Considera-se que a mulher está oficialmente na menopausa quando passa 12 meses sem menstruar. Esse é um processo fisiológico e natural, não um defeito ou uma doença.
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No entanto, essa parada costuma vir com ondas de calor (os fogachos), suor noturno, dificuldades para dormir e insônia — adaptação que pode ser bastante incômoda. Por isso, a médica endocrinologista Dolores Pardini, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), recomenda que, feita uma avaliação médica, a mulher comece o tratamento tão logo perceba os sinais.
E quando o assunto é conter o incômodo, a terapia hormonal é considerada padrão ouro, além de ser indicada em casos específicos — dependendo das complicações dessa fase, em caso de menopausa precoce ou quando ela acontece de modo cirúrgico. A reposição é feita com a administração de hormônios derivados do estrogênio, que podem estar associados ou não à progesterona, ou derivados da testosterona, em dose compatível ao organismo feminino. Podem ser tomados via oral, que é o mais comum, aplicados via transdérmica (na pele) ou vaginal.
Quando começar
O período que a reposição é recomendada chama-se janela de oportunidade. Em geral, vai até 10 anos depois do início da menopausa. "É quando os ganhos superam os riscos", pontua a médica. Se a menstruação fica irregular antes de a mulher chegar aos 40, o que costuma vir com alguns problemas de saúde, é indício de falência ovariana prematura, conhecida como menopausa precoce. Como mencionado acima, os hormônios são recomendados principalmente para pessoas nessa condição.
E a hora de suspender? Segundo a endócrino, as indicações sobre o tempo da terapia são controversas. "Acompanho mulheres na faixa dos 80 anos que seguem fazendo reposição, claro, supervisionadas. E continuam sentindo-se bem", acredita. Quando se suspende o uso de hormônios, os sintomas voltam. "O que vejo é que a paciente que sente incômodos, uma vez que inicia a reposição, não abre mão. Os motivos mais comuns para desistir costumam ser mesmo o preço do hormônio ou porque o médico não deu todas as instruções", completa.
A servidora pública Milene Guimarães, de 49 anos, iniciou a reposição quando ainda estava no climatério, a chamada pré-menopausa. Nessa transição, sentia alterações de humor, calorões, a menstruação irregular e algumas sensações físicas, com perda do tônus muscular e queda de cabelo. Para confirmar a decisão pelos hormônios, fez exames de sangue e de imagem solicitados pela ginecologista.
Milene faz uso percutâneo de um sachê de estradiol e toma comprimido de progesterona via oral. "Com nove meses de terapia hormonal, eu me sinto mais disposta que antes da entrada no climatério, quando dormia e não descansava, estava inchada e lenta", conta.
Riscos, dúvidas, mitos
Algumas mulheres terão poucos efeitos, mas o que sentem é intenso e incômodo. O contrário também é verdade. Há quem apresente vários sinais típicos da menopausa, mas de forma leve. O impacto disso na vida da paciente e o estilo de vida que ela leva são fatores decisivos para a indicação. A reposição não é nem precisa ser para todas. "Mais que a prescrição de hormônios, a terapia sistêmica considera os hábitos alimentares, qualidade de sono, prática de atividade física, controle de doenças crônicas e saúde mental. É preciso também pensar na interação dos hormônios com ansiolíticos, antidepressivos, fitoterápicos e vitaminas", explica a médica Denise Gomes, especialista em genitoscopia e histeroscopia.
O medo das reações adversas costuma ser motivo para muitas rejeitarem esse método. Denise observa que a reposição, enquanto administração exógena de hormônio sintético, tem, sim, alguma associação com cânceres hormônio-dependentes e com a aceleração de um câncer que já existe. Mas esse cenário varia. Quem tem alto risco para a neoplasia, histórico familiar para a doença ou alteração prévia em exame de imagem é que precisa ter mais atenção e avaliar contraindicações.
A relação do uso de hormônios com acidente vascular cerebral (AVC) também é pauta importante. O risco é maior quando há outros fatores de perigo, como tabagismo, sedentarismo e obesidade. Para Dolores Pardini, o sobrepeso já predispõe à doença e, por vezes, coincide com a idade que a mulher entra na menopausa e com o envelhecimento natural, o que explicaria o risco maior para AVC.
Ainda nesse sentido, a diminuição na produção de estrogênio ajuda a justificar a tendência a outros eventos cardiovasculares na menopausa — não, necessariamente, por causa da reposição. É que o estrogênio é um hormônio com função vasodilatadora que evita o acúmulo de LDL ("colesterol ruim") nos vasos sanguíneos e facilita o HDL ("colesterol bom"), e ele está em falta nessa fase.
Denise Gomes aponta, ainda, um comportamento comum, que esconde a falta de informação de qualidade: "Muitas mulheres acham que, por terem acompanhado a transição menopausal das mães, tias e avós, é normal passar por alguns desconfortos e que isso não merece cuidado". Quando, na verdade, mesmo a indisposição, as mudanças de humor, a queda de libido e a secura vaginal podem precisar de tratamento.
É bom lembrar que a efetividade de qualquer método, em especial o uso de hormônios, varia de mulher para mulher. "Não podemos esperar a mesma resposta ou padronizar eventos colaterais para todas", reforça a ginecologista.