Para alguns, prática; para outros, insuficiente, a telemedicina deslanchou como a possibilidade de atendimento médico mais viável durante a pandemia. Segundo dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), pelo menos metade da população brasileira realizou serviços de saúde on-line nos últimos 12 meses de 2021, com a maior parte do público pertencente às classes A e B. Mas, para além dos atendimentos remotos, quais outras novidades no campo da saúde podem beneficiar os pacientes e facilitar o trabalho dos profissionais desta área?
Na 27ª edição da Feira Hospitalar, ocorrida no São Paulo Expo, foi possível conferir as tendências do desenvolvimento tecnológico na saúde, com destaque para as esferas de reabilitação, transição, desospitalização, infraestrutura e gestão. A DGS Brasil, empresa especializada em soluções de diagnóstico e logística hospitalar, tem fórmulas que englobam todo o cuidado contínuo do paciente — desde a prevenção até a saída do hospital, por meio do desenvolvimento de softwares para cada etapa do cuidado contínuo.
Atender a todas essas etapas, que priorizem o histórico do paciente, é importante para obter melhores desfechos clínicos. Conservar a carteira de vacinação, por exemplo, é um primeiro passo fundamental nesse processo. Hoje, com aplicativos como o Conecte SUS, disponível para o público, já é possível ter acesso a essas informações pela tela do celular, entre elas os atendimentos realizados e os medicamentos utilizados. Outras plataformas, como a Global Health, da empresa MV, apresenta vantagens no controle de pacientes crônicos e na diminuição da superlotação.
Segundo o médico Fábio Gastal — superintendente de Novos Negócios da Seguros Unimed e presidente da Comissão Científica do Congresso Internacional de Serviços na Saúde (CISS), da Feira Hospitalar —, muitas dessas inovações tecnológicas já existiam ou estavam sendo desenvolvidas antes da pandemia, mas ganharam maior urgência, com a necessidade de respostas rápidas à disseminação do vírus. Apesar das inúmeras vantagens desse investimento, há profissionais resistentes no que tange à segurança do paciente e à eficiência dos programas. "Na equação entre benefícios e riscos, os benefícios devem ser sempre maiores. Riscos sempre haverá", completa.
Novidades tecnológicas
Entre as iniciativas apresentadas pela DGS Brasil, estão as seguintes soluções:
Home care: pacientes com doenças graves podem receber cuidados paliativos juntamente ao tratamento curativo, que prevê apoio médico, social e psicológico, tanto ao doente Quanto à família, seja no hospital, seja em casa. Isso se dá por meio de ferramentas móveis que integram e coordenam a assistência recebida, além da partilha de informações-chave entre os profissionais da equipe.
AIDA: sistema desenvolvido com o objetivo de realizar a gestão de escalas e turnos dos profissionais de saúde, de forma a automatizar todas as fases do planejamento de equipes.
Medview Evo: novo módulo de gestão para os centros cirúrgicos desenvolvido totalmente para a web. É responsável por orquestrar todos os processos críticos do centro cirúrgico.
As desenvolvidas pela MV são:
Receita Digital: aplicativo que reúne catálogos de diversas redes de farmácias e drogarias, identifica estabelecimentos próximos à localização do usuário e realiza a cotação de preços. Oferece, ainda, a prescrição eletrônica da receita do paciente, integrando os hospitais e as farmácias.
SOUL MV Hospitalar: plataforma de gestão que contempla o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP MV) e gerencia informações clínicas, assistenciais, administrativas, financeiras e estratégicas.
Global Health: plataforma que estimula o autocuidado, auxiliando o usuário a monitorar sintomas e doenças crônicas, além de estimular hábitos saudáveis para garantir a longevidade.
Command Center MV: ferramenta que monitora em tempo real todas as rotinas operacionais e assistenciais realizadas dentro de uma instituição de saúde, de forma a tornar o atendimento mais rápido.
Palavra do especialista
Hoje, com inovações tecnológicas, é possível ter acesso a todo o histórico hospitalar de um paciente, mesmo que ele tenha passado por outras instituições médicas. Qual a importância, a longo prazo, de se preservar essas informações clínicas?
Muitas vezes, ocorre uma defasagem na preservação das informações clínicas de um paciente que, ao se deslocar de um posto ou instituição da rede pública para a rede particular, pode ter certos registros perdidos, a depender da plataforma de prontuário eletrônico utilizada. Na medicina tradicional, há com frequência o contato entre os profissionais de saúde por meio de relatórios físicos que contêm dados sobre a condição da pessoa atendida; é uma comunicação importante também. Ambos os contextos, o mais inovador e o mais antigo, andam lado a lado. Essas informações são documentos médicos que, posteriormente, podem ser consultados para diagnosticar patologias e investigar suas possíveis causas, a partir de todos os sintomas relatados pelo paciente. Além disso, judicialmente podem ser solicitados em investigações, por exemplo.
Quais problemas podem surgir com a descontinuidade de cuidados com o paciente? Para os profissionais e para o setor, quais os maiores desafios para manter esse seguimento?
Muitas pessoas têm dificuldades em retornar ao hospital para dar continuidade a determinados procedimentos médicos, por inúmeros motivos: distância, questões socioeconômicas e familiares ou mesmo complicações de saúde. Com isso, diagnósticos podem deixar de acontecer e tratamentos podem ficar pela metade, prejudicando mais ainda sua vida. É comum, por exemplo, que moradores de regiões mais desfavorecidas venham aos grandes centros em busca de ajuda médica, mas são poucos os que, de fato, permanecem por aqui por conta disso. Por isso, a importância do acompanhamento do paciente desde o nascimento até o momento em que ele vier a falecer, assistência conhecida como cuidado longitudinal.
Quais inovações tecnológicas você acredita que são mais urgentes para o setor médico, pensando no acompanhamento familiar prolongado?
O acesso dos pacientes a essas tecnologias, como os aplicativos que registram vacinas e exames, ainda é bastante dificultado. Isso porque a própria conexão à internet, algo fundamental para manter o contato com o médico e dar continuidade a tratamentos, é praticamente inexistente em determinados locais. Tendo esse recurso, há o prontuário eletrônico, que pode ser acessado a qualquer momento. Vale mencionar que o grau de instrução das pessoas também determina o nível de dificuldade ou facilidade com essas plataformas e programas.
Melchior Meira é médico da família e comunidade, atuante na Unidade Básica de Saúde da Vila Planalto, em Brasília
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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