A psicoterapeuta corporal e terapeuta de casais Nartan Lemos, 52, explica que os humanos têm dois conjuntos de necessidade, um de estarem juntos, se sentirem pertencentes e conectados aos outros. A vontade de amar e ser amado, de encontrar o companheirismo em outra pessoa.
Ao mesmo tempo, temos a necessidade da individualidade. "Precisamos nos lembrar que, antes de ser um casal, somos indivíduos. Preciso saber quem eu sou e do que eu gosto antes de me aventurar com o outro", diz a terapeuta.
Nartan acrescenta que a autonomia é uma questão de bem-estar e saúde. Na convivência saudável consigo mesmo, é possível abrir espaço para a vivência proveitosa com o outro. Dentro desse contexto, a psicoterapeuta observa que viver em ambientes separados pode ser uma das maneiras de conservar a própria singularidade. "Precisamos nutrir nossa individualidade, e cada pessoa encontra uma maneira diferente de fazer isso. Pode ser com hobbies, amigos, estudos, trabalho. Ter horários para o lazer e uma rotina de acordo com seus gostos."
Apesar de não ser necessário estar longe fisicamente para manter os próprios hábitos, ter um espaço só seu onde possa explorar a si pode ajudar aqueles que têm um pouco mais de dificuldade.
O que é meu e o que é seu
Para entender a forma como nos relacionamos e os hábitos cotidianos, Nartan ressalta o processo de individualização, definido pelo psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung. Quando começamos a amadurecer, passamos a entender o que pertence ao nosso pai ou à nossa mãe e o que pertence a nós.
Quando entendemos o que herdamos, analisamos o que faz sentido para nós. O que vamos manter e o que não desejamos perpetuar. A partir de então, surge o seu jeito, unindo o que mantemos dos nossos pais ao que criamos por nós mesmos.
Ao nos relacionarmos com outra pessoa, principalmente ao morar junto, misturamos a nossa individualização à do outro e nem sempre isso funciona, apesar do amor e do desejo de manter o relacionamento.
Surgem assim os novos formatos de relação, nos quais é possível manter o romance e o companheirismo sem que questões cotidianos se tornem obstáculos. Morar em casas separadas, namoro e casamento aberto, relações poliamorosas fazem parte dessas descobertas sociais.
"O importante nisso tudo é descobrir o que você quer, o que funciona para aquele casal. O foco aqui é o que os parceiros sentem e o que querem, independentemente do que a sociedade diz que é o correto. Ao se permitir, é mais fácil encontrar a felicidade", completa a terapeuta.
Entre a fazenda e a cidade
Para encontrar esse equilíbrio na vida pessoal, Nartan e o marido, o agricultor e empresário Luiz Mano Velho, 59, passaram a viver cada um em sua casa ao longo da semana. O arranjo surgiu como uma maneira de ajustar a vida separada de cada um ao relacionamento.
Luiz gosta da natureza e seu trabalho exige que passe mais tempo na fazenda. Nartan tem filhos de outro casamento que moram com ela e seu trabalho como terapeuta requer que ela esteja em Brasília.
Juntos há seis anos e vindo de outros relacionamentos, Nartan e Luiz têm três e cinco filhos, respectivamente, e, depois de experimentar as vivências tradicionais em suas relações, encontraram um arranjo que funciona para eles.
Além do aspecto profissional, a saudade deixada pelos dias longe faz com que cada reencontro seja incrível. "A distância alimenta a relação, é o nosso tempero especial. Isso permite que a gente esteja em um estado enamorado, sempre encantados um com o outro", diz Luiz.
Para ele, nem sempre percebemos o valor do outro em nossas vidas no cotidiano. Quando existe a saudade, Luiz acredita ser mais fácil entender o quanto o parceiro nos acrescenta. Nartan acrescenta que o modelo é nutritivo, permitindo que o tempo juntos seja mais prazeroso.
Casados no civil, os dois não perdem a chance de dormir abraçados. Quando vem a Brasília, Luiz fica na casa de Nartan. Aos fins de semana, ela aproveita para fugir para a fazenda e curtir o marido e o ar puro.
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Um banheiro para chamar de seu
Diferentemente de Nartan e Luiz, o bancário Marcelo Netto, 42 anos, e a comunicóloga Tatiana Coelho, 35, moram na mesma casa e dividem o mesmo quarto e a cama todos os dias. O casal, no entanto, estabeleceu um limite quando se trata do banheiro.
Os dois estão juntos há cinco anos e, segundo Marcelo, a ideia de um banheiro para cada um foi de Tatiana. Tatiana jura que a ideia é capaz de salvar casamentos. Com bom-humor, ela explica que é muito organizada e o marido é bagunceiro.
“Sendo no banheiro dele e não no meu, o Marcelo pode espalhar tudo e tomar banho até com a bicicleta que eu nem ligo. Além disso, acho banheiro a coisa mais íntima do mundo e gosto de ter essa privacidade”, completa.
Sobre o quarto, apesar de entender os casais que preferem dormir cada um em sua cama ou até em cada casa, eles acreditam que a ideia não se encaixa na relação dos dois. Para Marcelo, o ato de dormir juntos ajuda na resolução de eventuais conflitos.
Para Tatiana, compartilhar a cama faz parte do pacote. O casal ressalta, porém, que manter a individualidade e respeitar o espaço do outro são imprescindíveis em um casamento de sucesso. “Amamos a companhia um do outro, mas não precisamos fazer absolutamente tudo juntos, os reencontros fazem parte do casamento”, complementa Marcelo.
Respeito, confiança e diálogo são as palavras mágicas para encontrar o equilíbrio entre a individualidade e o casal. “Não somos um, somos duas pessoas que juntaram trajetórias, escolhemos estar juntas. A base é a confiança, conversamos sobre as inseguranças e tentamos que cada um resolva as suas”, finaliza a comunicóloga.
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