Embora menos comuns que cães e gatos, os roedores se tornam companheiros cada vez mais presentes nos lares brasileiros. Segundo a última estimativa do IBGE, em 2018, foram contabilizados cerca de 2,3 milhões de répteis e pequenos mamíferos de estimação — os roedores são contabilizados nesse grupo. Conhecidos por serem fofos, inteligentes e silenciosos, eles podem se adaptar a pequenos espaços e criar laços com diversos perfis de tutores.
De acordo com a Portaria de nº 93 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que regulamenta quais animais são domésticos e podem viver em casa sem autorizações especiais, são seis espécies: camundongos, chinchilas, porquinhos-da-índia, hamsters, ratazanas e ratos. Outras espécies exóticas também podem viver sob os cuidados humanos, como a capivara, maior roedor do mundo, mas, nesse caso, são exigidas licenças expedidas pelo Ibama atestando que o local é adequado para o animal.
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Os mais populares são hamsters, chinchilas e porquinhos-da-índia, segundo o médico veterinário Matheus Krüger, da Exotic Life, clínica veterinária exclusiva para animais silvestres e exóticos. Apesar disso, existem muitas pessoas que têm gerbos, também conhecidos como esquilo-da-mongólia ou gerbil, e os ratos mercol ou twister, comumente utilizados em experimentos científicos, o que os leva a serem conhecidos como "ratos de laboratório". Diferentemente do que muitos acreditam, coelhos não integram o grupo, mesmo compartilhando muitas características com os roedores e também não necessitando de uma documentação específica para viver em ambiente doméstico.
Vantagens
"O que percebemos que motiva os tutores a terem roedores é, sobretudo, a praticidade", afirma a bióloga e médica veterinária Karolina Vitorino, da clínica Mundo Silvestre, exclusiva para animais silvestres e exóticos. Ou seja, eles exigem um manejo que tende a ser mais fácil, ou seja, depende menos de cuidados, como passeios constantes. Além disso, não causam alguns transtornos, como latidos, que podem gerar problemas com vizinhos.
Outro ponto importante é que os roedores demandam um espaço menor em casa, porque a maioria precisa somente de gaiolas e outros recintos reduzidos. "Você pode criar um hamster em uma gaiola relativamente pequena, que é um espaço inadequado para um cachorro, mas que, para o hamster, será um palácio", compara Karolina.
A maioria dos roedores tem hábitos noturnos e, com as rotinas cada vez mais intensas, muitas vezes, esse é o período que as pessoas têm disponível para interagir e cuidar dos animais. É o caso de Ryan Castro, responsável pelos hamsters Geraldo e Douglas. Desde novembro do ano passado, quando ganhou Roberta, também hamster, o estudante tem interesse pelos pequenos roedores. A roedora, que teve filhotes que estão disponíveis para adoção, morreu na última semana, mas não sem deixar sua marca na vida de Ryan, que criou laços com o pequeno animal.
Além do amor pelos bichinhos, Ryan conta que acha positivo o fato de eles dormirem durante o dia, pois é quando ele estuda e trabalha. Assim, à noite, os companheiros estão acordados e, quando o estudante chega em casa, pode acompanhá-los, seja observando utilizarem a rodinha, seja interagindo diretamente com eles. O jovem pontua que cada um tem uma personalidade. Douglas, por exemplo, é mais sociável e carinhoso. Com três aquários espaçosos, equipados e limpos com a frequência adequada, os hamsters vivem de forma confortável e feliz.
Espaço adequado
Apesar de precisarem de menos espaço que cães e animais de maior porte, cada roedor tem particularidades e demandas distintas para seus recintos. O veterinário Matheus Krüger esclarece: "Cada espécie tem uma necessidade. Os porquinhos-da-índia, por exemplo, são indicados a viver em um ambiente de um andar só. Já os ratos gostam de gaiolas maiores, com vários andares e degraus para pularem e se divertirem". Por isso, o tutor deve ter muita atenção com a demanda do roedor, pois mesmo tendo diversas características comuns, não demandam o mesmo tratamento.
E, ao contrário do que muitos acreditam, as gaiolas não são indicadas para animais como hamsters e gerbis. Nesses casos, o ideal é que sejam criados em terrários de vidro, que nada mais são do que aquários com substrato no chão, que eles possam cavar, e com enriquecimento ambiental, como rodas e espaços adaptados para eles. "As gaiolas podem machucar as patas, que, em contato constante com a grade, podem acabar feridas", explica Matheus.
Outro ponto importante de atenção é que os roedores são extremamente sensíveis ao calor. "O ambiente que eles ficam não pode ter corrente de ar, mas deve ser fresco e bem ventilado, porque eles tendem a ter urina com odor forte", alerta a veterinária Karolina Vitorino.
Problemas de saúde
Os tutores devem ficar atentos a alguns aspectos da saúde dos roedores. Segundo o veterinário Matheus, os problemas digestivos e odontológicos costumam ser os campeões em consultas, em decorrência de dietas inadequadas. Não é porque o animal é herbívoro que consumir apenas folhas, sem planejamento, será suficiente. Isso pode causar uma série de alterações e deficiências nutricionais. Para evitar problemas do tipo, o veterinário recomenda: "Deve ocorrer uma consulta de orientação, antes de começar a cuidar do animal ou no início, para receber orientações corretas e garantir o bem-estar dele".
Karolina Vitorino reforça que a consulta com veterinário especializado pode garantir, até mesmo, uma maior expectativa de vida. "No caso de animais que nunca vão ao veterinário, a gente vê que eles acabam vindo a óbito muito mais cedo", afirma. Sem o acompanhamento adequado, muitos equívocos podem ocorrer, como, por exemplo, o tutor não saber que deve fazer suplementação de vitamina C em porquinhos-da-índia.
Outros problemas comuns são odontológicos, como hipercrescimento dentário em alguns roedores e problemas dermatológicos, como sarna e infecções fúngicas, especialmente se forem comprados em feiras ou criadouros sem os devidos critérios de higiene e segurança. Por isso, é importante ter responsabilidade e fazer uma análise cuidadosa antes de decidir trazê-los para casa.
Responsabilidade e amor
Uma história de tutora responsável e comprometida com os animais é a de Isabela Klin, bancária. Por causa do amor pelos animais, hoje, ela é também estudante de medicina veterinária e está construindo um espaço em casa para melhor cuidar deles. "Louca por animais", como se descreve, Isabela faz resgate nas ruas há muitos anos. Ela já teve peixes, tartarugas e outras espécies. A história com roedores começou por meio do perfil do Instagram @clubinhodapenelope, grupo especializado em resgate de gatos, que divulgou um porquinho-da-índia que tinha sido abandonado em uma caixa de papelão. "Foi amor à primeira vista", relata.
Danny, como foi batizado, ganhou, um mês depois de ser acolhido, outro porquinho para companhia, o Elvis. Os roedores são animais que não podem viver sozinhos, mas não é recomendado que ocorra contato com outras espécies, como cães e gatos, pois pode ser perigoso para eles. Isabela nunca deixou Danny e Elvis interagirem com os três gatos e três cachorros que também viviam na casa. Sobre a convivência, a bancária conta: "Eles são assustadinhos, não é como cachorro e gato, mas, até por isso, quando eles vêm até você, parece que é uma conquista, justamente por serem mais difíceis. E assim eu fui conhecendo mais o mundo dos roedores".
Após Danny e Elvis, a bancária adotou quatro esquilos-da-mongólia idosos. Ela conta que, devido à idade avançada, foi difícil lidar com os problemas de saúde, mas sempre houve muito amor envolvido, que compensou tudo. "É impressionante como a gente consegue amar tanto um bichinho tão pequeno", emociona-se. Outra espécie que entrou na vida de Isabela e do marido, Amir Khodr, foram os ratos twister, que a tutora descreve como divertidos, carinhosos e espertos. Hoje, tem planos de ter chinchila. "Não tem felicidade maior do que ver um porquinho pipocando ou um ratinho abanando o rabo, que nem cachorro, porque escutou nossa voz."
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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