Curtos, médios ou compridos; claros ou escuros; secos ou molhados. Qual tutor nunca reparou (e se encantou) no focinho do seu amigo de quatro patas? Essa região apresenta características e estados bem específicos, que, independentemente da sua pluralidade, cumprem a mesma função: regular a temperatura do animal por meio da respiração, refrescando a narina e o organismo. Mas, afinal, como os focinhos são classificados e o que é levado em conta nessa divisão?
Em cães e gatos, a categorização se dá pelo comprimento do nariz em relação ao crânio. Existem três tipos: braquiocefálicos, mesocefálicos e dolicocefálicos. No primeiro caso, os animais têm o crânio bem compacto e as vias aéreas superiores dispõem de uma estrutura bastante estreita, além de possuírem uma deformidade óssea das conchas nasais. Tal anatomia dificulta a passagem de ar e a troca de calor, resultando na baixa oxigenação.
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Por isso, é comum que cães com esse traço apresentem menor resistência física e estejam sujeitos à síndrome do braquicefálico, condição na qual o prolongamento do palato mole — tecido macio na parte de trás do céu da boca —, em conjunto com a dificuldade respiratória, pode provocar desde um desconforto respiratório durante exercícios até a morte por obstrução aguda das vias.
Nesse contexto, é importante que os tutores estejam em alerta e sigam algumas recomendações, como indica a médica veterinária Rebecca G. Terra (@veterinariabsb): mantenha o peso do animal e um condicionamento físico aceitável, estimulando exercícios físicos moderados e adequados; proteja-o do calor excessivo; controle a ansiedade do peludo e não o exponha a cruzamentos arbitrários, que podem disseminar ainda mais características indesejáveis. Entre as raças que se encaixam nessa classificação estão pug, shihtzu, buldogue, boxer e pequinês, em cães; e persa, birmanês e shorthair exótico, em gatos.
"Você sabia?<br><br>As ranhuras nos focinhos dos pets são como as nossas digitais, únicas!"
Nos mesocefálicos, estão os focinhos com comprimento médio, proporcionais ao crânio, sem nenhuma tendência obstrutiva ou para doenças. Entre os agraciados com esse tipo de estrutura respiratória estão os cães golden retriever, beagle, labrador, pastor alemão, jack russel e os sem raça definida; e os gatos maine coon, bengal, sphynx e, também, os vira-latas.
Já nos dolicocefálicos, essa região é fina e comprida e há uma tendência um pouco maior de tumores nasais e infecções fúngicas, não associadas à anatomia específica deles. Aqui, incluem-se doberman, afghan hound, dachshund e galgo; entre os gatos, o oriental shorthair e o siamês.
"É importante frisar que o formato do aparelho respiratório superior não garante a ausência de doenças ou malformações. Vale realizar um acompanhamento preventivo com médico veterinário sempre", explica Rebecca. E sobre os felinos braquiocefálicos, ela acrescenta: "Acredito que, por autopreservação, eles têm a tendência de serem mais quietos e preguiçosos".
Com relação à maior sensibilidade dos gatos para certas doenças, a médica veterinária Ana Lívia Sousa descarta correlações ao formato do focinho, mas ressalta que o ideal, para prevenir outras condições no plano nasal, é manter o animal dentro de casa, com janelas teladas e sem nenhum acesso à rua.
Cor e temperatura em questão
Há quem já tenha se perguntado se a mudança de cor no focinho dos felinos pode indicar algum problema de saúde. E a resposta é positiva. "Apesar das modificações serem um processo natural, quando ocorrem na fase adulta, uma das possíveis causas é o pênfigo eritematoso, embora não seja frequente", destaca Ana Lívia. A doença autoimune, também conhecida como Senear-Usheruma, afeta a face e pode resultar na despigmentação do plano nasal.
Já com relação à umidade, é mito considerar que focinho seco está, necessariamente, atrelado a doença ou a febre. Isso porque temperatura e umidade podem variar ao longo do dia e, se não vierem acompanhadas de nenhum outro sintoma e o animal estiver bem hidratado, não há por que se preocupar. A dica é lembrar que, normalmente, quando os peludos estão em atividade física, esse local fica úmido e gelado, como forma de resfriar o corpo, e quando estão em repouso ou acabam de acordar, ficam mornos e secos. Qualquer alteração na pele, entretanto, como descascamento, ferida ou secreção deve ser comunicada ao veterinário.
Agitação sob controle
Foi na primeira consulta veterinária que a arquiteta Daniela Malcher foi orientada sobre os cuidados adequados para ter com Lola, sua buldogue francês que, atualmente, está com dois anos. Por ser braquiocefálica, a peluda fica com hipertermia facilmente, então, a recomendação inclui cuidados com a exposição ao sol e com longas caminhadas.
Quando ocorre de a temperatura subir excessivamente, a tutora logo a resfria com banhos e pedras de gelo. Coração acelerado e respiração ofegante são alguns dos indicativos de que a agitação precisa ser controlada. Na praia, por exemplo, Lola ficou pouco tempo, já que a areia quente provocava hipertermia rapidamente.
A arquiteta se recorda, ainda, da situação em que, no último Natal, ao tentar embarcar com a buldogue, foi impedida. "A companhia aérea me orientou a comprar o contêiner de transporte, emitir a guia com a veterinária e providenciar as vacinas. Mas, na véspera do embarque, fui até o balcão no aeroporto para tirar uma dúvida, levando a Lola com tudo o que me foi pedido, e soube da proibição do embarque", relata.
A justificativa da proibição da empresa foi de que, no mesmo mês de dezembro do ano passado, um animal braquiocefálico veio a óbito em seu bagageiro. Isso porque os pets com esse formato de focinho não suportam o barulho da aeronave e a descompressão do local, ficando com taquicardia. A família decidiu não arriscar e, por sorte, conseguiu alguém para cuidar do cão.
Depois desse episódio, Daniela pesquisou equipes especializadas em promover o transporte de cães em voos internacionais, que permitem que animais nessa condição viagem dentro da cabine com o passageiro. E encontrou. "Os planos são viajar no fim do ano com a Lola, e já tomamos as providências para que ela faça Brasília-Portugal na cabine conosco", comemora.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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