Com a idade, é natural que a musculatura do intestino fique enfraquecida. E a depender da pressão durante os movimentos peristálticos (contração e relaxamento que fazem parte da digestão), a camada intestinal mais interna pode inflamar, resultando na formação de pequenas bolsas parecidas com saquinhos. Essas estruturas são chamadas divertículos. "Um sinal do envelhecimento do intestino", entende Daniele Couto, proctologista do Hospital DF Star, da Rede D'Or.
Mais da metade da população acima dos 60 anos tem divertículos, sendo que a incidência aumenta entre os mais idosos. A médica explica que a maioria passa por essa alteração tranquilamente, sem sintomas, e, muitas vezes, sem sequer saber da condição. É que nem todo mundo que tem divertículos (diverticulose) apresenta ou mesmo apresentará diverticulite, que é o quadro inflamatório.
O coloproctologista Paulo Gonçalves de Oliveira esclarece que a diverticulite é uma doença adquirida, relacionada à idade e a alguns hábitos alimentares, como baixa ingestão de fibras. A patologia é relativamente nova: "Os relatos que temos são do século 20 em diante. Possivelmente, devido ao envelhecimento da população global e a doenças relacionadas", justifica.
Não se sabe ao certo o que provoca uma crise, que vem acompanhada de dor abdominal persistente que não passa com remédio. Já nesse momento, Daniele orienta que é hora de buscar atendimento médico. Na forma mais grave, o paciente vai ao banheiro e evacua quase somente sangue.
Depois de passar e tratar uma urgência do tipo, é preciso cuidar da alimentação e, se necessário, suplementar algum nutriente. A adoção de um estilo de vida saudável em um todo pode ajudar a prevenir os sintomas. O ideal é que a pessoa que convive com diverticulite de repetição tenha um médico de confiança que o acompanhe no caso de uma crise.
Saiba Mais
Diverticulose
Diferentemente da diverticulite (o sufixo “ite” sinaliza que é doença inflamatória, como em "apendicite"), a diverticulose refere-se somente à presença de divertículos. Usualmente, essas estruturas não provocam sintomas.
Incidência
- Mais da metade da população acima dos 60 anos tem divertículos.
- Desses, entre 10% e 20% terão alguma complicação, podendo ter diverticulite.
- Quando isso acontece, a maioria não é grave, podendo ser tratada clinicamente.
Fonte: Sociedade Brasileira de Coloproctologia.
Causa
É a inflamação dos divertículos, que são saquinhos frágeis que se formam na camada mais interna do intestino.
Fatores de risco
- Idade avançada.
- Alimentação pobre em fibras, o que torna o hábito intestinal inadequado, como ir ao banheiro a cada quatro dias, por exemplo.
Sinais
- Dor intensa e persistente que tende a ser na parte inferior esquerda do abdômen, no “pé da barriga”. Isso porque as fezes costumam estar mais secas na extremidade do cólon, no intestino grosso, na região chamada sigmoide.
- Abdômen distendido e inchado.
- Alteração da função do intestino de forma súbita.
- Em alguns casos, febre.
Exames relacionados
- Tomografia computadorizada (principalmente em caso de suspeita).
- Colonoscopia, indicada para avaliação dois ou três meses após a fase aguda.
- Exames de sangue.
Tratamento
Abordagens mais recentes apostam em mudanças na alimentação (durante uma crise, retiram-se as fibras da dieta), uso de medicação tipo Buscopan e muito líquido. Isso se o paciente estiver com boa saúde e imunidade.
Quando o corpo não responde ao tratamento, podem ser indicados:
- Antibióticos
- Drenagem de abscessos, caso o divertículo esteja com acúmulo de pus, devido à infecção e à inflamação
- Cirurgia, que consiste na retirada de um segmento do intestino. Pela complexidade e riscos, é menos comum
É mito…
Que sementes e grãos são responsáveis diretos por obstruir os divertículos. Eles não favorecem a diverticulite!
Outras doenças inflamatórias intestinais
- Doença de Crohn: causa diarreia, cólica, sangramento retal e, às vezes, febre. Por ser crônica, os medicamentos ajudam no controle dos sintomas, mas não tem cura.
- Retocolite ulcerativa: inclui, principalmente, diarreias. Aqui, também por ser crônica, o objetivo do tratamento é tirar o paciente da crise e evitar que aconteça.
Palavra do especialista
O que provoca uma crise de diverticulite?
Em tese, é a obstrução dos sacos diverticulares, que leva à infecção ou à inflamação. Não está claro o que pode ou não tapá-los. Assim como na apendicite, há quem coma de tudo e não tenha complicações.
A doença tem um elo genético ou associação hereditária?
Não existe comprovação nesse sentido. O que parece acontecer é uma tendência familiar, porque os parentes dividem os mesmos costumes alimentares. E os hábitos alimentares e intestinais, por sua vez, influenciam na diverticulite.
A vida do paciente muda muito depois do diagnóstico, já que ele precisa adequar a alimentação?
A mudança costuma ser grande porque a maioria dessas pessoas tem o hábito intestinal inadequado. Uma vez saudável, o paciente deve estar com o consumo de fibras em dia e, se necessário, até suplementar, seja com superalimentos, seja com cápsulas via oral.
A diverticulite está relacionada ao aparecimento de outras doenças (intestinais ou não)?
Não. A diverticulite é considerada benigna e não tem associação com doença maligna, como câncer. O que acontece é que a faixa etária em que é mais comum coincide com o aparecimento de outras patologias.
Paulo Gonçalves de Oliveira é coloproctologista e membro remido da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.
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