Quando pensamos numa vida cheia de significado, vem-nos à mente biografias que contribuíram sobremaneira com a sociedade, como Nelson Mandela, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, entre outros imortais.
Muitos acadêmicos reconhecem que você pode atingir uma existência com significado por três diferentes caminhos: 1) ter uma vida coerente e em harmonia com seus valores; 2) ter objetivos claros e satisfatórios no longo prazo; 3) acreditar que sua vida faz diferença num contexto maior. Essas formas também são conhecidas como coerência, propósito e importância existencial. Entretanto, os resultados de pesquisas publicadas recentemente pelo periódico Nature Human Behavior apontam um quarto caminho para incrementar a percepção de que a vida faz sentido.
Pense naquela paineira carregada de flores rosas que você encontra na esquina de casa logo pela manhã. Se você está aberto e sensível a esses pequenos momentos de beleza, isso permitirá uma conexão com algo maior, a beleza inerente da natureza, fazendo com que você enxergue sua própria existência de outra forma. A isso se dá o nome de apreciação experencial. No modo cerebral de deixar o presente adormecido e virar a esquina sem se dar conta de que algo de espetacular está bem ao seu lado, pensando no boleto que está vencendo hoje, você perderá uma bela oportunidade.
Pesquisadores de três diferentes continentes estudaram mais de 3.000 indivíduos para entender como a apreciação experencial está associada com a percepção de uma vida com significado. Em um primeiro estudo, conduzido no início da pandemia da covid-19, os participantes eram interrogados sobre a forma como eles aliviavam o estresse nesse período. Aqueles que tinham o hábito de modular o estresse por meio da apreciação da beleza natural também tiveram altos índices de percepção da vida com significado.
No segundo estudo, eles tinham que responder se concordavam ou não com afirmações como “Eu aprecio muito a beleza da vida”. Houve uma forte associação entre uma resposta afirmativa e sentido na vida, independentemente dos outros canais de fortalecimento dessa vivência (coerência, propósito e importância existencial).
Finalmente, uma série de experimentos foram realizados em que os voluntários tinham que passar por tarefas. Uma delas, por exemplo, era a de assistir a um documentário inspirador da BBC Planet Earth ou outros vídeos mais neutros, como um tutorial de marcenaria. Aqueles que assistiram ao Planet Earth reportaram que suas existências eram mais valiosas.
Os resultados confirmaram a hipótese dos pesquisadores ao mostrarem que apreciação de pequenas coisas pode fazer com que consideremos nossas vidas com mais sentido. A arte também faz parte dessas pequenas coisas.
Passar por uma lua cheia pensando na listinha de compras que precisa fazer no outro dia é viver no futuro, e isso não faz o mínimo sentido. Assim a vida vai passando sem sentido. A vida acontece no presente momento.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília
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