Especial

A potência do parto de Ana Thainá Filgueiras: "Passei 18 horas em trabalho de parto"

Neste Dia das Mães, conheça histórias de mulheres que, entre dores e alegrias, têm a comum a força para gerar, dar à luz e maternar, cada uma ao seu modo

por Letícia Mouhamad* e Carolina Marcusse*
postado em 08/05/2022 10:17 / atualizado em 16/05/2022 10:08
 (crédito: Arquivo pessoal )
(crédito: Arquivo pessoal )

A fotógrafa Ana Thainá Filgueiras, 25, tinha planos de fazer um curso de design de moda quando descobriu a gravidez. Apaixonada por moda, já havia feito cursos de corte e costura e de estilo pessoal. A notícia foi um baque, visto que ainda morava com os pais e tinha acabado de perder o emprego de professora em uma escola de modelagem. “O que vou fazer da vida? O que darei ao meu bebê? O dinheiro que restou não pagava sequer um pacote de fraldas. Ferrou”, pensou, na época. “Quando contei para minha mãe, curiosamente, ela respondeu que já sabia antes de mim. Mãe sempre sabe e, hoje, também sou assim com Elis”, completa, aos risos. Tudo foi se acertando e, atualmente, a pequena está com quatro meses.

Nos três primeiros meses, tentou aceitar a situação que fugiu ao seu controle e evitava pensar demais no parto por ser algo que temia, em especial pela dor. Além disso, a jovem tinha pavor de hospitais. Esse período foi marcado por fortes enjoos e pelo medo de perder o bebê. Posteriormente, mais tranquila, Ana começou a acariciar a barriga com maior frequência e a conversar com sua filha. “Pensava ‘se eu comer algo gostoso, ela vai aproveitar também e vai ficar alegre’”, conta.

Como tudo correu bem, a cesárea não foi uma opção. Sobre a dor, descreve que a sensação é como se seu útero fosse arrancado do corpo — as cólicas eram muito fortes. “Você suporta, mas acha que vai morrer. Nesse momento, eu só queria a minha mãe”. Além desta angústia, o enjoo e os vômitos foram uma constante.

No hospital, a fotógrafa teve certeza do quanto esse momento é particular para cada mãe: algumas pariam rapidamente, outras sofriam por horas, como ela, que passou 18 horas em trabalho de parto. Se após esse período, Elis não nascesse, seria necessário fazer uma indução, possibilidade que aterrorizava a jovem. Mas não precisou. Em alguns minutos, sua filha veio ao mundo e o maior sentimento no momento foi de alívio.

Depois, na maternidade da enfermaria, ouviu e compartilhou histórias com outras mães (no quarto, ficavam cerca de seis mulheres), fato que a confortou e a fez sentir-se menos sozinha. O parceiro, Eduardo Almeida, sempre esteve ao seu lado.

No decorrer dos primeiros meses, o choro manifestou-se com frequência. “Chorei quando não consegui dormir, quando coloquei uma roupinha especial nela, quando a imaginei já adolescente, quando ela sorriu pra mim. Às vezes, chorava só de olhá-la”. E algumas regras, que antes Ana jurou que seguiria a fio, caíram por terra; o uso da chupeta foi uma delas. Para a educação da pequena, nada de pressão nem de determinações incompreensíveis. “Não acho correto que as crianças recebam sempre ‘nãos’ como justificativa para tudo. As coisas precisam ser explicadas”.

Com os avós a postos para presentear a neta com um tablet, a jovem delibera: nada de tecnologias por enquanto. Já com relação à alimentação, o desejo é que a filha siga um caminho diferente ao seu, que adora guloseimas, daí a vontade de mudar os próprios hábitos para incentivá-la; por isso, excessos com a comida já foram bastante reduzidos. Para além disso, ter mais paciência, responsabilidade e demonstrar seus afetos foram virtudes que se mostraram mais presentes com a maternidade.

O sentir-se mãe ainda é um processo. “A ficha não caiu cem por cento. Quando pensava em ser mãe, me imaginava com um emprego estável, uma vida mais organizada. Me sinto um pouco frustrada, mas entendo que o que ela mais precisa eu posso e consigo oferecer: amor e cuidados ilimitados. Apesar de tudo, me considero uma mãe forte”, conclui.


Os benefícios da fisioterapia obstétrica durante a gestação


Há mudanças fisiológicas durante a gravidez — alterações cardiovasculares, posturais, respiratórias, gastrointestinais e urinárias — que podem causar descompensações, caso não sejam cuidadas. Hipertensão gestacional, diabetes gestacional, falta de ar, inchaço, escapes de urina, dores na coluna e na região pélvica, são alguns exemplos, como aponta Serise Amaral, fisioterapeuta e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação, da Universidade de Brasília.

Todas essas complicações podem ser prevenidas e controladas com o acompanhamento fisioterapêutico obstétrico e um programa de reabilitação para essas gestantes. Os objetivos são desenvolver a consciência corporal, principalmente da região pélvica, e dar autonomia e encorajamento às mulheres para o momento do parto.

Conforme explica Aline Teixeira, fisioterapeuta, especialista em saúde da mulher e professora da UnB, os benefícios das intervenções fisioterapêuticas para o parto são: redução da dor; redução da duração do tempo de trabalho de parto; diminuição das doses de reforço analgésico; diminuição do uso de analgesia farmacológica; melhor experiência e satisfação no parto; ausência de efeitos adversos para o binômio mãe-bebê; maior tolerância a dor; contribuição para a autonomia da parturiente; e repercussões positivas nos parâmetros fisiológicos, incluindo os respiratórios, dentre outros.

10/04/2014. Crédito: Gustavo Moreno/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Janet Balaskas, obstetra inglesa durante visita a Casa de Parto em São Sebastião.
10/04/2014. Crédito: Gustavo Moreno/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Janet Balaskas, obstetra inglesa durante visita a Casa de Parto em São Sebastião. (foto: Gustavo Moreno/CB/D.A Press)

Sobre a posição mais adequada para o trabalho de parto, a especialista recomenda aquela que for mais confortável para a mulher e frisa que é necessário respeitar essa escolha, já que o corpo “trava” quando se sente ameaçado. “O que acontece é que com o excesso de intervenções feitas durante o trabalho de parto, as mulheres acabam perdendo o protagonismo e a confiança na sua fisiologia e ancestralidade”, explica.

Para este momento, o ideal é que haja zelo, paciência, orientações com suavidade e, principalmente, intervenções consentidas e baseadas em evidências. “Precisamos entender de uma vez por todas que as mulheres sabem parir e nossa função é ajudá-las no encorajamento, confiança e atuação interprofissional, sem sermos invasivos”, complementa Aline.

Recentemente, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) instituiu que o Hospital Regional de Santa Maria, referência em partos de alto risco, conte com fisioterapeutas 24 horas no centro obstétrico. O propósito é fortalecer o cuidado com a mãe no pré-parto e no pós-parto, estimular o parto natural e humanizar o atendimento com aplicação de técnicas que trazem aconchego.

As dores da violência obstétrica

O parto é uma situação em que a mulher ou pessoa com útero precisa de assistência e cuidado, é caracterizado por ser um momento intenso, de vulnerabilidade. Por isso, a advogada e coordenadora do Núcleo de Estudos de diversidade sexual e de gênero do CEAM da UnB, Silvia Marques, afirma que a maior parte das pessoas só identificam que sofreram a violência depois. O que explica o porquê de, muitas vezes, as vítimas não agirem na hora.

Como uma das causas, Marques aponta a violência estrutural. “A gente vem entendendo a violência obstétrica como uma violência de gênero, porque é uma violência que incide sobre os corpos femininos e também sobre corpos transgêneros. Sobre homens trans ou pessoas não-binárias que passam por situações de puerpério. Então existe uma concepção patriarcal por trás disso, do domínio desses corpos, da violação, desses corpos”, explica.

Há uma falsa compreensão de que lutar pelo fim da violência obstétrica é ser contra, por exemplo, cirurgias cesarianas. Muitas vezes esse problema se refere a uma cirurgia cesariana que era necessária e não foi feita na mulher. Além de ser uma violência sistemática, apresenta diferentes formas, como física, psicológica e moral. No caso da violência física, manobras como Kristeller, que consiste em fazer pressão na barriga da mulher com mãos e braços, uso de fórceps sem necessidade e episiotomia são alguns exemplos.

A peregrinação em busca de hospital e atendimento também é um tipo de violência obstétrica, já que pode gerar um dano físico. Passar por situações constrangedoras, como ofensas morais à questão da sexualidade, não poder gritar ou manifestar dor, ou, ainda, ter o bebê levado no pós-parto, sem a mulher não saber onde ele está são casos de violência psicológica.

Erros médicos na hora do parto, anestesia sem necessidade, objetos deixados dentro da mulher são fatores que completam a lista. E, para finalizar, há a violência patrimonial, quando são cobrados valores indevidos para a realização do parto. Por exemplo, quando querem cobrar uma taxa para que o acompanhante entre na sala, sendo que ter essa presença é um direito.

Mas, afinal, o que fazer nesses casos? É possível realizar uma denúncia ao Ministério Público, para que se procure um advogado que entre com uma ação contra o hospital ou contra o profissional de saúde ou. Vale lembrar que considera-se que a violência obstétrica é sofrida durante todo o ciclo gravídico puerperal. Do momento da concepção ao puerpério. Cabe também entrar com uma ação de danos morais e até materiais, no âmbito da responsabilidade civil dos hospitais.

É possível também fazer denúncias às ouvidorias dos hospitais, inclusive, junto aos conselhos de ética. “Nem todo parto termina com um bebê fofinho, por isso, toda informação é importante e deve ser disseminada”, finaliza Silvia.

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