Popularmente conhecidos como vira-latas, os animais sem raça definida são hoje maioria nas casas brasileiras, segundo o PetCenso 2021, levantamento realizado pela DogHero, maior empresa do segmento de serviços para animais de estimação da América Latina. A predominância dos cães vira-latas é de 40% dos lares, já os gatos chegam a atingir o índice de 98%. Com uma grande variedade de cores e tamanhos, os animais podem viver em lares de perfis diferentes.
O dado do predomínio SRD (sem raça definida) confirma uma movimentação que já era observada nas redes sociais e mídia. No ano passado, um "vira-lata caramelo", por exemplo, foi destaque em uma campanha publicitária de refrigerante e, esse mesmo animal, conhecido como Bambino, conta com mais de 170 mil seguidores no Instagram e mais de um milhão de seguidores na rede de vídeos curtos TikTok. Nos perfis, os tutores mostram o dia a dia de Bambino e de Rogerinho, outro vira-lata, que fazem sucesso.
Um dos motivos para o crescimento de vira-latas no lar é o aumento da quantidade de pessoas incentivando a adoção responsável, acreditam Beatriz Fragoso e Carolina Tonissi, protetoras independentes e responsáveis pelo projeto de resgate de animais Toda vida importa. "As pessoas estão se conscientizando cada vez mais sobre a importância de adotar um animalzinho, em vez de comprar, já que todos merecem ser amados igualmente", afirmam.
Em convergência com a fala das protetoras, a veterinária Ingrid Gomes conta que o acesso à informação e a disseminação de notícias ajudou no processo de percepção do problema social da grande quantidade de animais abandonados. "Além disso, outro fator que fez aumentar o número de animais adotados nos domicílios foi a pandemia. O fato de as pessoas estarem em isolamento por grande tempo estimulou a procura por pets para fazer companhia, tanto aos humanos quanto aos animais que já tinham em casa", completa a profissional.
A adoção da cadela Luna, da tutora Yasmin Muniz, 20, ocorreu por meio de uma parente. "Estavam doando filhotes que foram rejeitados após o nascimento em frente ao trabalho da minha prima, que decidiu trazer para nossa casa", relata. A cadela, que só tinha poucos meses de vida, foi nomeada de Luna e acolhida por toda a família. Hoje, a vira-lata tem por volta de oito anos e, como características marcantes, é rápida, brincalhona e carinhosa. "Ela é muito dócil, nós a temos como uma espécie de anjo da guarda, que está sempre alerta e ao nosso lado para o que precisar", menciona a estudante.
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Pluralidade
Por não ter uma raça específica, não há um padrão de aparência ou de comportamento determinado. Apesar disso, destacam-se algumas características, segundo a veterinária Ingrid: "De forma geral, os animais SRD são muito companheiros e dóceis. Também é comum a notável saúde, uma vez que não há uma seleção genética (existente em animais de raça) que os predispõem para determinadas doenças familiares". Eles também costumam ser muito inteligentes, mas a médica veterinária reforça que, embora frequente, não é possível generalizar essa qualidade.
A grande variedade de animais, como o fato de que existem vira-latas de pequeno, médio e grande portes, faz com que haja vira-latas adequados para diferentes tipos de lares, como apartamentos, e até personalidades. Com relação à pelagem, ela também é variada. O mais comentado nas redes é o vira-lata caramelo, mas existem diversas combinações. Ingrid cita exemplos: "Por ser uma mistura genética, vamos de pelo curto preto, pelo curto caramelo, pelo longo duro (tipo estopinha), com pelos pintadinhos, entre outros".
No caso dos gatos, a diversidade é imensa também. Foi o que levou uma usuária do Twitter a criar um fio, ou sequência de tweets, com "subtipos" para os vira-latas felinos. Entre eles, ela cita o vira-lata pretinho, alaranjado, rajado ou "tigrinho", escaminha, tricolor, frajola e "sialata", que seria uma mistura que provavelmente descende de gatos siameses. A classificação, claro, não é oficial e tem objetivo de entreter, mas chegou a mais de 40 mil curtidas e milhares de respostas na rede social.
Expectativa de vida
Uma dúvida comum está relacionada à expectativa de vida desses animais. Não há um número exato, mas a veterinária Ingrid Gomes afirma que, em média, vivem de 10 a 12 anos. Alerta que tudo varia de acordo com as condições de moradia do bicho e a qualidade de vida e o bem-estar ao longo dos anos. "Uma coisa é certa: pets que têm acesso aos cuidados preventivos desde cedo atingem uma velhice com mais qualidade", informa. Além disso, adverte que o porte influencia na expectativa de vida — os menores tendem a viver mais.
Recomendações após adoção
Grande parte dos vira-latas chega aos lares após resgates ou períodos em ONGs que realizam esse tipo de trabalho. Para a adaptação adequada, a veterinária Ingrid Gomes informa que os bichos sempre vão passar por um período de adaptação, que será mais fácil para alguns, como para filhotes em comparação com adultos, mas que é possível, independentemente da idade. Ela indica paciência e empatia com o animal, que pode passar por um período mais assustado no início até confiar no espaço e na nova família. Para esse período, a profissional recomenda: "Nunca realizar movimentos abruptos e agressivos perto do animal para não assustá-lo, e por fim, dar amor e carinho".
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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