Quando a médica veterinária Jarina Santana notou que Branco, seu cãozinho de 10 anos, já não tinha a mesma disposição para correr e brincar com os amigos, uma chave virou em sua cabeça: seu "filhote" estava envelhecendo. Emocionalmente, o peludo tornou-se mais dependente, desejando dormir junto aos tutores e choramingando ao ficar sozinho em casa.
A partir daí, os cuidados redobraram, especialmente no que tange à parte dietética, locomotora e cardiológica. As consultas de checape se intensificaram e a dieta se modificou; agora inclui complexo vitamínico e ômega-3. Em casa, as adaptações também foram necessárias: mais potes de água, esteira antiderrapante e cercado na escada.
Além da diminuição de energia, o pet idoso também apresentará pelos grisalhos — os cães mais cedo que os gatos. E, para saber de forma fidedigna a sua idade, é preciso que um profissional avalie a arcada dentária. A regra popular dos sete anos, por exemplo, a qual estipula que um ano do cachorro corresponde a sete anos dos humanos, não passa de um grande equívoco, pois trata-se de uma visão antropocêntrica e que desconsidera o metabolismo dos animais. O que se sabe é que, normalmente, bichanos maiores envelhecem mais rápido que os menores.
Mas, para que os pets cheguem à "melhor idade", é preciso considerar aspectos que interferem em sua longevidade. Segundo a médica veterinária Letycia Brandão (@de.pataempata), pós-graduanda em clínica médica e cirurgia de pequenos animais, sete fatores são fundamentais: a higiene; a saúde bucal; a vermifugação e a vacinação periódica; a castração precoce, que previne câncer, doenças do sistema reprodutor e problemas comportamentais; a alimentação adequada; e, claro, muito carinho.
O tempo de qualidade com os familiares também é essencial para evitar inquietações. "O estresse pode abaixar a imunidade, causar ansiedade, depressão e todo um desequilíbrio do sistema imunológico, abrindo portas para doenças oportunistas", explica Letycia. Como todas as doenças tendem a aparecer mais com o passar da idade, é importante que os pets sejam acompanhados por veterinários periodicamente.
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Momento de adaptações
Aos 17 anos, o pinscher Sigmund Freud, Freudinho para os íntimos, vivenciou muitas aventuras. Já idoso, precisou realizar uma cirurgia no joelho depois que levou um "chega para lá" de um cão bem maior que ele. Apesar da boa recuperação, houve sequelas — ele não corre mais com outros cachorros, gosta de ficar isolado e, segundo a tutora Analúcia Santos, servidora pública aposentada e artesã, tornou-se mais rabugento com os companheiros da matilha.
A experiência em cuidar de animais em idade senil faz parte da rotina da família que, no passado, zelou também pela velhice da mãe de Freud; a peluda chegou a ficar cega e surda por problemas congênitos. Por isso, o controle médico e as preocupações vieram de forma mais natural. Hoje, a atenção à quantidade e à qualidade alimentar, ao ambiente e às brincadeiras é constante.
No cotidiano, as adaptações foram notáveis. Como o cão sempre dormiu com a tutora e não conseguia mais saltar para a cama, foi necessário construir uma escadinha para que ele subisse sem grandes esforços. Além disso, o pequeno passou a se alimentar separadamente dos outros cachorros, para evitar estresse em eventuais disputas. Para a artesã, o segredo dos cuidados adequados está em observar as novas necessidades do animal e proporcionar a melhor qualidade de vida possível.
Jarina Santana, por exemplo, optou por instalar uma fonte de água para Branco e surpreendeu-se ao perceber que o ato de se hidratar despertou o interesse do cão, tornando-se uma brincadeira. A veterinária, que atualmente é residente em clínica médica de pequenos animais no Hospital Veterinário da UPIS (@hvetupis), frisa que, neste momento, é importante dar preferência a passatempos que despertem a curiosidade e as descobertas.
É preciso, entretanto, ter cautela ao generalizar as necessidades dessa fase, pensando sempre na demanda que soa mais ideal para seu amigo de quatro patas. Isso porque é possível que um pet geriatra ainda tenha disposição e condições semelhantes a quando era jovem, e mudanças na rotina podem tornar-se motivo de frustração e nervosismo.
E por falar em estresse, é comum os tutores relatarem que o animal ficou mais ranzinza com a idade, mas esse comportamento pode indicar transtornos que merecem atenção. "As alterações cognitivas podem surgir como distúrbios sensoriais ao ouvir um comando ou ao terem dificuldade de enxergar um obstáculo, tornando- os mais reativos como proteção ao novo desconhecido. O melhor é sempre avaliar a origem dessas mudanças", esclarece Jarina.
De toda forma, não é segredo que os peludos desenvolvem maior companheirismo aos seus cuidadores, questão proporcional ao tempo de convívio. Quanto à adoção de outros bichos, em especial de filhotes, é primordial pesar benefícios e malefícios, já que a energia de um pet mais novo tende a ser maior que a de um idoso, por exemplo. O ideal, portanto, é respeitar o limite de cada um.
Dicas práticas
•Adapte-se à fase e crie uma rotina de brincadeira, exercícios, passeios, enriquecimento e conforto ambiental;
•Opte por introduzir rações ricas em proteínas, mais úmidas ou que sejam específicas para a necessidade nutricional do animal. A depender do caso, com auxílio de um profissional especializado, é possível também fazer a transição para uma dieta natural;
•Ajuste o acesso à alimentação utilizando comedouros mais altos, rampas ou luzes noturnas;
•Em passeios, estabeleça distâncias curtas e diminua a intensidade;
•Evite pisos escorregadios e íngremes e facilite o acesso a locais altos;
•Mantenha a caminha e os pertences dele em locais arejados, distante de correntes de vento e de contato direto com o sol;
•Faça checapes para avaliação hematológica de função renal, hepática, glicêmica, odontológica, cardiológica e geral, pelo menos uma vez ao ano;
•Tenha paciência e não economize nos doses de amor e atenção.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte