Quando falamos em Páscoa, muitos associam a data a dias de descanso, coelhinho e ovos de chocolate, mas o feriado vai muito além e até os símbolos usados comercialmente têm origem na história religiosa. Para os cristãos, a Páscoa marca a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo. Ela é comemorada na mesma época do feriado judaico chamado Pessach, celebração da libertação dos hebreus da escravidão do Egito.
O Domingo de Páscoa, quando as famílias costumam se reunir e trocar ovos de chocolate no Brasil, marca o dia da ressurreição e é antecedido pela Semana Santa, que conta a trajetória de Cristo desde a Última Ceia.
A maioria dos símbolos relacionados ao feriado, atualmente, têm suas origens nas práticas cristãs, mas alguns acabaram se misturando às tradições pagãs ao longo da história. Assim surgem, além dos costumes religiosos, hábitos sociais relacionados e vividos mesmo por aqueles que professam outras crenças.
Professor no curso de filosofia e teologia na Universidade Católica de Brasília, Gidalti Guedes da Silva explica que a sociedade costumava estar quase completamente inserida nos ritos religiosos, mas a divisão entre Estado e Igreja foi afastando a sociedade de algumas simbologias.
Embora tenham se afastado da interpretação religiosa, muitos mantiveram a celebração. "As festas cristãs são muito ligadas à comensalidade, giram em torno da comida e da reunião familiar. Isso fortalece a família e os grupos sociais, por isso continua se mantendo."
Ovo de Páscoa
Embora a troca de ovos de chocolate seja uma importante parte da celebração de Páscoa no Brasil e em outros lugares do mundo, poucos sabem o seu significado. Os ovos são historicamente associados à fertilidade e ao surgimento de vida nova.
Povos da Antiguidade se presenteavam com ovos decorados, em celebrações de passagem de ano e de estações, marcando a chegada de nova vida por meio das colheitas. Embora existam diversos registros dos antigos rituais, não há comprovação histórica de quando ocorreu a associação com a Páscoa. "A humanidade sempre teve cultos de fertilidade e muitos desses símbolos se repetem em tempos e culturas diferentes, se consolidando. Festividades baseadas na gratidão a divindades também fazem parte da história do homem", diz Gidalti.
Embora não exista um consenso, é amplamente aceito que os motivos para a consolidação da tradição de trocar ovos decorados e escondê-los para que as crianças os encontrem estão conectados ao conceito de renascimento e renovação. Acredita-se que os ovos de chocolate tenham sido criados na França, no século 19, e se popularizado na Páscoa. Com o passar dos anos, o costume se consolidou.
O padre Rafael Souza dos Santos, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, explica que, religiosamente falando, não há problema em usar ovos decorados ou de chocolate para demonstrar afeto e inserir as crianças nas celebrações. "Não há nada de errado, fazemos até nas igrejas. O importante é não reduzir a ressurreição a uma data comercial. A troca de chocolates é uma forma de carinho e de celebrar a união familiar, mas sem nos esquecermos de Jesus e do real significado da Páscoa."
O coelho
Assim como o ovo, o coelho, capaz de ter ninhadas com até 10 coelhinhos, de quatro a oito vezes por ano, é frequentemente associado à fertilidade. Há registros históricos que mostram que no Antigo Egito o mamífero era sinônimo de abundância de vida. Há, ainda, os que associam o animal ao renascimento por ser um dos primeiros mamíferos a sair da toca após o fim do inverno.
"Na perspectiva histórica, não é possível precisar a origem do coelho e dos ovos de Páscoa. No máximo, é possível saber que não há uma única versão, mas diversas, todas válidas, narradas pelos mais diferentes povos e culturas", esclarece o doutorando em história pela Universidade de Campinas (Unicamp) Jefferson Ramalho. O padre Rafael acredita que a associação do coelho à distribuição dos ovos está fortemente ligada ao comércio e à publicidade.
Gidalti acredita que exista uma espécie de conveniência na substituição dos verdadeiros símbolos da Páscoa por coisas mais amigáveis. Para ele, historicamente, os feriados cristãos são domesticados e transformados em algo mais suave. "A Páscoa é também a paixão de Cristo, a crucificação. É a perseguição e morte de inocentes por uma ideologia, é uma celebração que combate o sistema", ressalta o professor.
Círio pascal
O padre Rafael lembra que, mesmo que grande parte das pessoas pense logo nos chocolates ao ouvir falar da Páscoa, um dos principais símbolos para os cristãos é o Círio pascal. Aceso, ele é a Luz de Cristo. A vela tem uma inscrição em forma de cruz e as letras Alfa e Omega, a primeira e a última letra do alfabeto grego, indicando que Jesus é o princípio e o fim. Na cera, costumam ser incrustados cinco cravos de incenso, que simbolizam as chagas de Cristo.
O cordeiro e a cruz
O animal, que antigamente era sacrificado em rituais, simboliza o sacrifício de Cristo para expiar os pecados da humanidade. Por isso, Jesus é chamado de Cordeiro de Deus. A cruz é a forma como Jesus morre para trazer a salvação, tornando-se também um importante marco no catolicismo.