Saborear frutas e legumes apenas caminhando até o jardim de casa e colhendo o que nasce por ali é um privilégio que pode ser dividido não só com a sua família humana, mas também com os parentes de quatro patas e até os que têm asas.
Quem cultiva em casa costuma manter os pets longe das plantações, seja para proteger as mudinhas, seja o próprio animal. Quando o bichinho não tem um alto potencial destrutivo, existe a preocupação de que ele consuma algo que pode fazer mal.
O receio dos tutores é mais do que justificável, uma vez que alguns alimentos, mesmo que saudáveis para os humanos, podem causar desequilíbrios na saúde dos pets. No caso das plantas ornamentais, os perigos são maiores e é importante estar de olho.
Mas isso não quer dizer que não seja possível ter uma bananeira no seu quintal e curtir um momento de paz com seu cão enquanto vocês dois dividem a mesma fruta. Ou que não possam, juntos, colher e petiscar cenouras no lanche da tarde.
Cardápio variado
Da mesma forma que nos alimentamos de carnes, frutas, legumes e verduras, é possível compartilhar o cardápio com os animais de estimação. É a chamada alimentação natural. Porém, levando em consideração as particularidades do organismo de cada pet, alguns cuidados são necessários.
A médica veterinária Simone Porto explica que os temperos, por exemplo, não podem ser consumidos pelos animais. Mas, ao cozinhar um frango, é possível separar parte do alimento sem tempero e preparar o restante para si com condimentos.
Entre frutas e hortaliças, algumas podem ser prejudiciais aos pets. Apesar de reações imediatas e fatais serem muito raras, desconfortos estomacais e diarreias podem acontecer, e o consumo contínuo de itens não recomendados pode trazer transtornos a longo prazo. O labrador Bob, de 8 anos, comia tomate de vez em quando e acabou tendo problemas de pele.
"Nós não sabíamos que cachorro não pode comer tomate e, quando fomos ao veterinário, descobrimos que estava fazendo mal. Desde então, passei a ter um certo receio de dar algo diferente de ração", conta o tutor de Bob, o empresário Rodrigo Gianesini, 32 anos.
Como nunca foi muito fã de ração, Bob vira e mexe descolava alguns pedacinhos de pizza e outras bobagens fazendo cara de coitado. Rodrigo resolveu, então, diversificar o cardápio do pet. Para incentivar Bob a comer, começou a misturar fígado e outras proteínas na ração.
Muitas vezes, os dois comiam a mesma coisa. Antes de temperar, Rodrigo separava a parte de Bob. Mas o processo começou a ficar cansativo e muitas dúvidas sobre o que cães podem ou não comer começaram a surgir.
Foi aí que ele conheceu uma empresa, especializada na alimentação natural de pets, o que mudou a vida de Rodrigo, Bob e dos três shih-tzus da família, Pipoca, 3, Nina, 2, e Pingo, 1 ano e meio. "Bob, que não era muito ávido para comer, ficou louco, adorou! Achei que era porque era novidade, mas, mesmo hoje, dois anos depois, eu coloco e ele vem correndo. Comer bem é uma das felicidades da vida e gosto que ele, Nina, Pipoca e Pingo também possam curtir isso", conta.
Comendo cenoura, beterraba, abobrinha e proteínas variadas, Bob mostrou diferenças em menos de um mês, ficou mais disposto, dormindo melhor e com o físico mais forte. Construindo uma chácara com a família, Rodrigo já pensa em plantar alguns alimentos que possam agradar tanto ele quanto os amigos de quatro patas.
Nathalia Miranda Sobral, 27, uma das criadoras da Rangout, empresa especializada em alimentação natural para pets, conta que o negócio surgiu da própria necessidade, quando ela e o namorado introduziram a alimentação natural na vida do american staffordshire terrier Apolo, 7 anos.
Além de preparar refeições completas e balanceadas para os pets, Nathalia viu a necessidade de orientar melhor os tutores e criou um curso on-line de alimentação natural. "Existem pessoas que querem preparar a comida em casa e outras que não têm condição de terceirizar esse serviço. Acho importante que elas possam alimentar seus pets de forma saudável e bem orientada", diz.
A empresária acredita que, da forma como diversificamos nossa alimentação, é importante agir do mesmo jeito com os animais. Fazendo uma analogia da ração com suplementos artificiais para humanos, ela explica que muitos nutrientes e vitaminas podem ficar deficitários.
Simone Porto acrescenta que a introdução da alimentação natural deve ser feita de forma gradual e acompanhada por um profissional. As rações industriais são balanceadas e, ao fazer a transição, é importante saber a quantidade de carboidratos, proteínas e verduras a serem compensados para evitar tanto excessos quanto deficiências.
Outro ponto importante destacado pela veterinária é a necessidade de cozinhar todos os alimentos. "Alguns, como batata crua, podem liberar substâncias tóxicas, além do risco do uso de agrotóxicos e da presença de micro-organismos", esclarece.
Entre as principais vantagens desse tipo de alimentação está a possibilidade de personalizar a dieta do pet de acordo com as necessidades nutricionais. Além, é claro, do gosto dos animais. Cães e gatos têm alta palatabilidade, ou seja, sentem e diferenciam os sabores. Nos felinos, o sentido é ainda mais apurado.
Para todos
Para atender quem deseja diversificar a própria alimentação e dos pets, a Isla Sementes criou uma linha específica. Cultivando essas sementes, você pode deixar seu animal perto da plantação sem medo de intoxicação ou mal-estar e incrementar a dieta do pet de forma mais saudável.
Ao lançar a novidade, Andrei Santos, diretor de planejamento da empresa, comenta que a ideia foi unir algumas das grandes tendências que se destacaram durante a pandemia: a adoção de animais e o cultivo de hortas. "Tanto os pets quanto as hortas são coisas que vivenciamos em casa e foi onde mais ficamos nos últimos anos. Vimos pessoas querendo começar uma horta, mas com medo de isso trazer riscos para seus animais", comenta Andrei.
Surgiu, então, a ideia de fazer uma espécie de curadoria e facilitar a vida dos tutores. Pensando nos animais mais comuns nas casas brasileiras, cães, gatos e pássaros, foram escolhidas hortaliças e frutas que podem ser consumidas sem medo pela família toda.
Entre os preferidos, Andrei destaca a cenoura, um snack ideal para todos os pets, e a beterraba. Os cães também gostam muito da melancia, enquanto os pássaros preferem as folhosas e os felinos adoram a grama dos gatos.
Para evitar
Vale para cães e gatos, sendo que, no caso dos felinos, os efeitos são mais nocivos, ressalta a veterinária Simone Porto.
•Batata crua
•Uva e uva-passa
•Alho
•Cebola — ataca glóbulos vermelhos
e pode causar anemias
•Feijão — causa náuseas, vômitos
•Mandioca — pode ser usada, mas
não deve ser consumida em excesso
•Tomate — tem alta acidez, causando
problemas estomacais e tonturas
•Abacaxi — tem acidez pode ser
muito tóxica
•Laranja e limão — menos ácidos
que o abacaxi, mas também podem
causar desconfortos
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