Especial

Os reflexos emocionais

Não somente implicações físicas são observadas em quem se submete ao uso de remédios para emagrecer, a dietas restritivas e a procedimentos estéticos. Os efeitos emocionais são igualmente preocupantes e, se não tratados, podem resultar em transtornos alimentares sérios, como a bulimia e a anorexia.

Hoje, com as redes sociais e o turbilhão de conteúdos relacionados à beleza, as meninas são afetadas cada vez mais cedo por autocobranças e inseguranças com o próprio corpo. "A adolescência é um período de descoberta e afirmação de si e, numa sociedade que associa a magreza à felicidade e a contenção do corpo a valores morais positivos, a aparência ganha excessiva importância como parte dessa identidade", esclarece a psicóloga clínica, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Glícia Maria.

Assim, é preciso atentar-se ao momento em que essas preocupações com a própria imagem deixam de ser vaidade e tornam-se uma doença. O medo intenso de engordar e a autoavaliação extremamente centrada no peso e na forma corporal são algumas características de transtornos alimentares, diagnosticados quando os comportamentos vinculados ao controle do corpo, como exercícios intensos e restrições alimentares severas, causam prejuízos físicos, emocionais e sociais.

Conforme aponta Glícia, mais de 70 milhões de pessoas no mundo têm algum transtorno alimentar e cerca de 20% corre risco de ir a óbito devido ao agravamento da doença, normalmente acompanhada por quadros de depressão e ansiedade. "Muitas pessoas com anorexia e bulimia acabam restringindo não apenas a alimentação mas também as interações sociais relacionadas ao comer, para evitar a alimentação ou o julgamento externo do comportamento atípico", afirma a psicóloga, em concordância com o que apontou a nutricionista Thaís Muniz.

Vale lembrar que, apesar de existir predisposição hereditária no que tange à origem dos transtornos, os hábitos alimentares transmitidos pela cultura familiar têm um peso enorme. "Elogios" como "Você está tão linda agora que emagreceu!" ou comentários como "Não acredito que fulana vai repetir mais um prato!" são significativos no desenvolvimento de vários traços e comportamentos.

As possibilidades de tratamentos para essas condições incluem psicoterapia e, em alguns casos, intervenção farmacológica. Já as internações podem ser consideradas em casos mais extremos. "Repensar o corpo, a materialidade enquanto potência criativa, que nos permite ter prazer, confortar, trabalhar, lutar e experienciar o mundo é um ato revolucionário de amor-próprio e de cuidado em saúde mental. Ainda que as redes sociais discordem", finaliza Glícia.

 

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