Bichos

Projetos unem acolhimento de animais e respeito ao meio ambiente

A criatividade e o desejo de ajudar motivam iniciativas a produzirem abrigos para cães, gatos e pássaros a partir de materiais recicláveis

Quem não se lembra de estudar, no ensino fundamental, o significado dos "três erres", no que tange à necessidade de um consumo mais consciente? Reduzir, reaproveitar e reciclar são conceitos levados a sério pelo projeto Reciclapet (@recicla.pet), idealizado pela advogada Jéssica de Albuquerque, e pelo empreendimento Ninhos do Cerrado (@ninhosdocerrado), da artesã e educadora social Joana Darque. No primeiro, o foco está na reutilização de caixas de leite e sacos de ração para a confecção de abrigos para animais de rua; no segundo, a principal atividade desenvolvida é a reciclagem de papelão para a produção de casas de passarinhos.

O Reciclapet surgiu no inverno de 2020, no Gama, quando Jéssica e outra amiga notaram o sofrimento que cães e gatos de rua passavam por conta do frio. Não bastasse a fome, alguns não resistiam às baixas temperaturas e morriam de hipotermia. Decidiram, então, por conta própria, utilizar papelão e comprar lonas para improvisar pequenas casas, acrescentando potes de sorvete com água e ração. O desejo de ajudar aumentou, mais amigos se juntaram à proposta e os abrigos foram aprimorados, produzidos hoje com materiais como caixa de leite limpa e inteira, sacos de ração vazios, arame recozido e telha.

Reciclapet/Divulgação - Casa produzida pelo projeto Reciclapet abriga uma mãe e seus filhotes

Ainda que o ideal seja que os animais estejam em lares e tenham uma família, a realidade é bem distinta e complexa. Os abandonos são frequentes e há filhotes que não resistem por muito tempo nas ruas, como confirma a protetora Catiane Marques, que, inicialmente, resgatou uma cachorra com quatro filhotes e, atualmente, acolhe 15 cães e sete gatos. "Por meio das redes sociais, conheci o Reciclapet e pedi ajuda com casinhas e comida. De prontidão, eles vieram. Os abrigos são bastante resistentes e vêm também com cobertas e comedouros", completa.

Entre algumas histórias memoráveis, Jéssica recorda a de um cãozinho idoso e cego abandonado em uma das moradias produzidas pelo projeto, fato que gerou comoção pública e teve um final feliz: o peludo foi adotado e levado diretamente a um veterinário para receber os cuidados adequados. Além disso, encontraram um morador de rua dormindo em uma das casas e é comum mães com filhotes, em situações lamentáveis, procurarem pelo abrigo. "Todas as histórias são emocionantes, mas as mais marcantes são as de animais que foram abandonados por seus 'donos'. Eles sofrem muito mais do que os que já nasceram nas ruas, pois são muito carentes", recorda.

Reciclapet/Divulgação - Raul, Jéssica de Albuquerque, Jéssica Coelho e Camila em feira de adoção realizada pelo projeto Reciclapet

Mais de 120 casinhas já foram entregues em todo o Distrito Federal e, mensalmente, o projeto promove feiras de adoção dos animais que cuidam e daqueles resgatados por protetores, contando com mais de 40 acolhidas. Contribuem, ainda, com castrações e carona solidária para os pets, além de fomentarem campanhas de conscientização e de ajuda a outros protetores.

Os cuidados com animais doentes também têm espaço na iniciativa, já que eles se mobilizam para aplicar vermífugos, antipulgas e carrapaticidas nos pets. Atualmente, além de Jéssica, o Reciclapet conta com a atuação de Raul Gustavo, Jéssica Coelho e Camila Carlos.

Pássaros bem abrigados

Ninhos do Cerrado/Divulgação - Joana Darque e as casinhas produzidas pelo empreendimento Ninhos do Cerrado

O empreendimento familiar Ninhos do Cerrado, do casal de artesãos e educadores sociais Joana Darque e Sávio Cortes, produz casas para passarinhos a partir da reciclagem de papelão encontrado nas ruas, resultante do descarte de lojas e mercados. A partir de um processo de confecção demorado e completamente manual, são feitas as formas para os produtos, que, em seguida, devem ser deixados, em torno de uma semana, para secar. Por fim, há o momento das colagens e da pintura, sendo esta última realizada com tintas à base de água, para não contaminar as pequenas aves.

A cada casinha manufaturada, são retirados em torno de 400g de papelão das ruas, material que deixa de ser descartado indevidamente e gera menos lixo no meio ambiente. Não é a primeira vez, porém, que o casal utiliza da reciclagem para criar produtos e proporcionar renda. Há 10 anos, Joana e Sávio fabricam luminárias com canos PVC, que, inicialmente, eram recolhidos de entulhos de construção civil. "A reciclagem sempre fez parte da nossa vida. Inclusive, como professora em uma ONG, ensino sobre esses processos de produção", ressalta a artesã.

Apesar de a iniciativa ser bastante recente, os resultados têm sido positivos, já que a empresa recebe com frequência pedidos de encomendas pelas redes sociais, até mesmo para entrega em outros estados. A temática das pinturas é inspirada em animais e plantas do cerrado e entre os pássaros que já habitaram as pequenas e coloridas residências estão canário-da-terra, o Garrincha, tico-tico-rei e beija-flor. Cada casinha custa, em média, R$ 65 e os pedidos podem ser feitos pelo Instagram Ninhos do Cerrado.

Como ajudar o projeto Reciclapet?

Doando materiais para confecção dos abrigos: caixa de leite limpa e inteira, fita durex, sacos de ração vazios, tesoura, pistola de cola quente, bastões de cola quente, estilete, folha branca, cobertores, potes de sorvete, arame recozido e telha;

Doando ração;

Contribuindo com valores para castração, compra de remédios, vermífugos e antipulgas;

Adotando um animal ou tornando-se padrinho de um pet.

* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Reciclapet/Divulgação - Raul, Jéssica de Albuquerque, Jéssica Coelho e Camila em feira de adoção realizada pelo projeto Reciclapet
Reciclapet/Divulgação - Casa produzida pelo projeto Reciclapet abriga uma mãe e seus filhotes
Ninhos do Cerrado/Divulgação - Joana Darque e as casinhas produzidas pelo empreendimento Ninhos do Cerrado