Sou do tempo que, quando queríamos apontar erros de uma novela, destacando que ela soava inverossímil, dizíamos que ela era mexicana, independentemente da real nacionalidade da produção. A década era 1990 e, como uma sucursal daquele país, o SBT (ou TVS) exibia um título mexicano atrás do outro, de Carrossel a Simplesmente Maria, passando por A usurpadora e pelo trio Maria Mercedes, Marimar e Maria do Bairro. Nos anos 2000, o burburinho diminuiu um pouco, mas já era tarde: Thalía já era uma estrela no Brasil e o kitsch já tinha virado cult como um passe de mágica.
Pois a onda está de volta. E, pasmen!, pelas mãos do Globoplay. O serviço de streaming da Globo tem até um lugar separado para as novelas estrangeiras no menu. Ali estão títulos como os clássicos oitentistas e noventistas, casos de A usurpadora e Maria do Bairro. Mas também há produções recentes, como Império de mentiras, lançada em 2020 no México. No catálogo há cerca de um mês, a novela escrita por Giselle González ganha 10 capítulos a cada semana.
É interessante ver como as novelas mexicanas se aproximaram das nossas nesse tempo. Mesmo que ainda haja muitos traços do exagero (e que ótimo que haja!), elas estão mais naturalistas, seja no texto, seja nas atuações. Ou será que nós é que miramos uma certa mexicanização?
Império de mentiras é o clássico folhetim, a começar, claro, por um amor impossível. O investigador da polícia Leonardo Velasco Rodríguez (Andres Palacios) e a marchand Elisa Cantú Robles (Angelique Boyer) se conhecem quando os corpos da noiva dele e do pai dela são encontrados no mesmo carro. Os dois resolvem investigar os crimes e, como não poderia deixar de ser, acabam se apaixonando um pelo outro, mesmo ele jurando amor eterno à noiva morta e ela tendo que lidar com a linha de investigação oficial que aponta a mãe dela como a principal suspeita dos assassinatos.
A novela ainda traz outros elementos que farão o telespectador ter a certeza de que poderia estar assistindo a uma novela de Walcyr Carrasco: rivalidade entre irmãos, traições, segredos do passado guardados a sete chaves, ciúmes, reviravoltas. Falta só a tortada na cara que (ainda) não veio. Outra similaridade com a obra de Walcyr é que o roteiro segue a receita de obras como A dona do pedaço e O outro lado do paraíso: o didatismo aparece em detrimento do bom texto.
O paralelo não para por aí: o sucesso com o público colocou, na primeira semana, Império de mentiras entre as produções mais vistas do Globoplay, lista da qual ela não saiu mais. Notável exportadora de novelas mundo afora, a Globo, por meio do streaming, inverte a rota e, agora, traz para o país os aclamados folhetins mexicanos, mais títulos turcos e portugueses.
Liga
Os protagonistas de Quanto mais vida, melhor! deram um show na última semana, quando os personagens trocaram de corpos. Mateus Solano, Giovanna Antonelli, Vladimir Brichta e Valentina Herszage mostraram que uma boa composição se faz nos detalhes. Leia a crítica completa dessa transformação no blog Próximo Capítulo!
Desliga
A série da Netflix Um de nós está mentindo tinha tudo para dar certo: vem de um best seller, junta o universo escolar a um crime e ainda tem referência ao clássico O clube dos cinco. Mas dá tudo errado: o roteiro é ruim, os personagens são mal explorados e as atuações não convencem.
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