Moda

Conheça as diretrizes que norteiam o tamanho da roupa feminina

Ora apertadas, ora folgadas. O desafio em encontrar roupas que sirvam satisfatoriamente ao corpo da brasileira reacende o debate sobre a falta de padronização do vestuário feminino

Letícia Mouhamad*
postado em 27/03/2022 08:00
 (crédito: Valdo Virgo)
(crédito: Valdo Virgo)

Escolher a peça que parece ideal. Experimentar. Tentar ajustá-la ao corpo. Trocar a numeração. Sentir desconforto. Desistir. As experiências em provadores de roupas podem ser animadoras para umas, mas também bastante frustrantes para outras, em especial para mulheres com menor estatura e corpos mais curvilíneos, assim como para o público plus size.

Muitas vezes, não há uma numeração de vestimenta que seja padrão — "visto M" ou "opto por peças de tamanho 40"? —, dado que as modelagens podem variar conforme o tecido e a fôrma de referência. Pensando nessas dificuldades, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou, em dezembro do ano passado, a Norma NBR 16933, que apresenta novas diretrizes para os tamanhos de roupas femininas no Brasil.

A fim de adequar-se aos biotipos mais comuns das brasileiras, o Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário da ABNT e representantes do setor (Senai CETIQT, estilistas, entidades, como a Associação Brasileira do Plus Size, e redes varejistas) conduziram um estudo que identificou como tipos corporais mais usuais o "retângulo", no qual busto, cintura e quadril estão alinhados, e o "colher", em que o quadril, mais marcado e arredondado, é maior que o busto (veja quadro).

Na prática, o que muda? Em vez de a classificação das peças se basear em letras e números, o método agora adotado, conhecido como centimetragem, apresenta às consumidoras as dimensões para cada biotipo, considerando o perímetro da cabeça, do pescoço, dos ombros, do busto, da cintura, do quadril, das costas, da coxa, do joelho e da panturrilha até o tornozelo. Trata-se de um recurso já utilizado em outros países, como os Estados Unidos.

A professora de design de moda Rafaella Lacerda lembra, entretanto, que as marcas não são obrigadas a seguirem essas normas, o que não garante que a padronização seja generalizada. "A minha sugestão é que as lojas fiquem atentas e sigam a padronização da ABNT como referência, chegando a um ponto comum e considerando o que dá certo na própria empresa. Existem marcas que desenvolvem produtos com foco no usuário, e a padronização para elas pode ser um tiro no pé", pondera.

Enquanto a mudança não acontece…

Fernanda Moraes tem dificuldade em encontrar peças que caiam perfeitamente em seu biotipo e vê com bons olhos as mudanças da ABNT
Fernanda Moraes tem dificuldade em encontrar peças que caiam perfeitamente em seu biotipo e vê com bons olhos as mudanças da ABNT (foto: Arquivo pessoal)

Para a dentista Fernanda Moraes, 26 anos, a dificuldade em encontrar roupas que se adaptem ao seu corpo é frequente. Com as calças jeans, o problema está na medida da cintura, que fica folgada, enquanto no quadril serve perfeitamente. E, mesmo trocando de numeração, o transtorno permanece. Já nas blusas, o incômodo está no aperto das mangas que, mesmo em tamanhos diferentes, mantêm-se justas. Por isso, não define um número certo de vestuário. "Sempre digo que visto 40 ou 42. Depende da roupa."

Keyla Pires, professora de softwares aplicados à moda, explica que ainda existem muitos erros referentes à modelagem, derivados, em grande parte, dos processos de enfesto do tecido, no qual é estendido em camadas e cortado em pilhas. Podem ocorrer equívocos também no momento da costura. "Quando um mesmo modelo de calça é costurado por duas pessoas diferentes dentro de uma indústria de confecção, os resultados podem ser diversos", completa.

O desafio de Fernanda é compartilhado pela funcionária pública aposentada Ziame Pires, 54, que percebe a relutância das marcas em acompanhar as mudanças corporais, em especial, relacionadas ao corpo da brasileira. Isso porque as empresas ainda seguem um padrão que tem como referência corpos magros e altos, fato que exclui muitas mulheres da oportunidade de terem mais peças à sua disposição.

A maior dificuldade, para ela, está em encontrar roupas mais formais que tenham o caimento adequado. Calças sociais sempre precisam de ajustes na barra; e os blazers, quando moldam-se aos ombros, ficam enormes em altura, quase como um modelo oversize que, segundo a aposentada, "a deixa sem curvas e mais baixa ainda". Quando estava trabalhando, a opção que encontrava era mandar fazer as peças com uma costureira, alternativa que saía mais cara.

A questão financeira, aliás, também é afetada: "A falta de padronização faz com que tenhamos que pagar duas vezes, primeiro na loja e depois na costureira, para fazer os consertos", critica Ziame. Keyla Pires adverte que isso traz desconforto e frustração para os consumidores, por acharem que seus corpos não se encaixam no que está em alta no mercado de vendas.

No dia a dia, a aposentada opta por roupas mais folgadas e com maior elasticidade, vestuário que, no geral, tem ganhado mais adeptos, como é o caso das calças pantalonas. Apesar de considerar que as peças não ficam perfeitas no corpo, normalmente não é necessário fazer consertos, além de serem mais confortáveis.

Alguns pontos positivos das mudanças na tabela de medidas são: a redução do desperdício de materiais, a diminuição no tempo de provador e nas operações de troca e devolução de produtos e a facilidade na realização de compras em lojas físicas e virtuais. A professora Rafaella Lacerda, porém, reflete com cautela acerca do assunto e crê ser um diferencial as marcas terem a própria tabela de medidas, já que fideliza os clientes.

"É aquela história da calça jeans perfeita que você só encontra naquela determinada loja. Se a padronização fosse obrigatória, todas as marcas seriam iguais, sem diferencial", avalia. Ainda assim, reconhece que as empresas não têm contemplado os formatos diversos de corpos: "Quando uma marca cria sua tabela de medidas, ela não muda com frequência e acaba não se atentando a mudanças corporais contemporâneas", justifica.

E fora dos provadores, como comprar com segurança?

Tanto Fernanda Moraes quanto Ziame Pires relatam empecilhos nas compras realizadas pela internet, em especial ao caimento e à modelagem, que não são como o esperado. Nesses casos, para evitar erros, seguem as dicas:

- Opte por lojas que disponibilizem sua tabela de medida em centímetros, a fim de que as consumidoras possam conferir suas proporções com uma fita métrica.
- Atente-se ao tipo de tecido — o elastano, por exemplo, costuma se adaptar a várias silhuetas.
- Observe as medidas da modelo, para verificar caimento e comprimento.
- Por fim, cheque a política de trocas dos sites. Se a dúvida sobre o tamanho da peça persistir, decida por uma peça maior.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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