Saúde

Câncer de pele também pode ocorrer no couro cabeludo

Com a maior parte escondida pelos fios do cabelo, a pele sobre a cabeça oferece proteção natural, mas nem por isso está livre de riscos de desenvolver câncer

Ailim Cabral
postado em 20/03/2022 08:00
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Carolina do Norte, nos Estados Unidos, apontou que os melanomas no couro cabeludo e pescoço podem ser mais agressivos do que aqueles que aparecem em outras áreas do corpo -  (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Carolina do Norte, nos Estados Unidos, apontou que os melanomas no couro cabeludo e pescoço podem ser mais agressivos do que aqueles que aparecem em outras áreas do corpo - (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

Quando falamos em cuidados com o couro cabeludo, é comum que as pessoas se atentem somente aos aspectos relacionados à higiene e aos cuidados com a raiz dos fios de cabelo. Porém, a pele que protege a cabeça também está exposta a outros perigos, como ao aparecimento de câncer de pele. Existem três tipos principais desse tumor, e todos podem aparecer na região da cabeça.

O carcinoma basocelular (CBC) está mais relacionado à exposição solar e contempla cerca de 70% dos casos; 25% dos casos são de carcinoma espinocelular (CEC), relacionados a danos excessivos; e cerca de 4% são melanomas, mais ligados a fatores genéticos.

Entre eles, o que tem o pior prognóstico é o melanoma, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em 2020, a estimativa de novos casos no Brasil foi de 8.450, sendo 4.200 em homens e 4.250 em mulheres. Em 2019, 1.978 pessoas morreram com melanoma.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Carolina do Norte, nos Estados Unidos, apontou que os melanomas no couro cabeludo e pescoço podem ser mais agressivos do que aqueles que aparecem em outras áreas do corpo.

A equipe analisou 50 mil casos e descobriu que os pacientes com câncer de pele nessa área têm o dobro de risco de morrer, quando comparados aos que têm a doença nos braços ou nas pernas. "Essas pessoas são mais propensas a ter câncer que se espalha para o cérebro do que aquelas com melanoma nos braços, nas pernas ou no tronco", explica Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA).

Fique atento!

- A região do couro cabeludo, muitas vezes, é esquecida e as lesões podem passar despercebidas. Segundo Fabiane Brenner, coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), elas podem aparecer de diversas maneiras, como feridas que não cicatrizam e sangram com facilidade, manchas escuras ou pintas com as características ABCD.

- O A se refere à assimetria, o B às bordas irregulares, o C às cores variadas, como mais de duas, e a letra D ao diâmetro, que, se for maior que 6 mm, deve ser verificado.

- A coceira excessiva da região também pode ser considerada motivo de alerta. As lesões visíveis são mais facilmente percebidas em pessoas com pouco cabelo ou fios claros, por isso, ao sentir algum incômodo, é importante pedir ajuda para identificar possíveis sinais.

- O câncer de pele no couro cabeludo também é mais comum em pessoas com pouco cabelo, cabelos e pele mais claras e que passam muito tempo com a cabeça exposta ao sol, principalmente em horários de pico.

- O tratamento mais indicado é a ressecção cirúrgica do tumor, com margens livres de segurança, ou seja, a retirada do sinal, mancha ou tumor.

- A cirurgia mais usada nessa região é a micrográfica de Mohs, método com o qual o cirurgião consegue mapear as células tumorais para uma retirada completa da lesão com a certeza de margens livres já no intraoperatório.

- Os pacientes que já tiveram cânceres de pele precisam ter atenção redobrada a novos sinais.

- Por ficar mais escondido, pode ocorrer o diagnóstico tardio. E esse tipo de tumor pode criar metástases até mesmo em regiões mais distantes, como nas mamas e nos pulmões.

- Para proteger o couro cabeludo, muitas das medidas são semelhantes à proteção contra o câncer de pele como um todo: evitar a exposição direta ao sol e, quando for inevitável, usar chapéu, boné ou qualquer outro método de barreira para proteger o couro cabeludo.

- Indivíduos calvos devem sempre usar protetor solar no couro cabeludo e reforçar durante o dia.

Palavra do especialista

Existem pessoas mais predispostas a ter esse tipo de câncer?

Os idosos têm maior risco, pelo envelhecimento da pele e mais anos de exposição à radiação solar. Pessoas calvas ou com alopecia precisam ter cuidado redobrado com a exposição ao sol (usar chapéu, boné e evitar exposição direta, além de uso de protetor solar nos calvos), por ser esse o maior fator de risco.

Pessoas com cabelo mais denso ou escuro correm menos riscos que os calvos ou pessoas com fios ralos?

Sim. Os calvos e pacientes com alopecia perdem a proteção de barreira contra os raios ultravioleta que o próprio cabelo faz.

Ele é mais perigoso que o câncer de pele em outras regiões?

Depende do tipo histológico. Os cânceres de couro cabeludo podem ser carcinomas basocelulares, carcinosarcomas espinocelulares ou melanomas. A diferenciação é feita, principalmente, pela biópsia. O melanoma de couro cabeludo é um tumor de comportamento mais agressivo. Além disso, por ser uma região mais difícil de visualizar, muitas vezes, o diagnóstico é tardio, o que reduz as possibilidades curativas.

Pode ocorrer metástase no cérebro?

O melanoma maligno pode ter metástases em todo o corpo, inclusive no cérebro. Se for um carcinoma basocelular, o risco é mais de crescimento contínuo e invasão das estruturas por contiguidade, ou seja, se não for ressecado o tumor pode invadir a calota craniana, o osso abaixo do couro cabeludo, e evoluir em profundidade.

Existem outras áreas pouco inspecionadas onde o câncer de pele pode se “esconder”?

Sim. Além do couro cabeludo, que é difícil de ver, na região do dorso nem sempre conseguimos olhar. A planta do pé também pode ter lesões que passam despercebidas. Por isso é tão importante ter como rotina uma avaliação dermatológica para análise dessas áreas de difícil inspeção pelo próprio paciente.

Alessandra Leite é médica oncologista clínica do Hospital Santa Lúcia

 

 

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