Fitness & nutrição

Crianças e adolescentes não só podem como devem malhar

Quando o assunto é malhação para adolescentes, a máxima é adaptação. Com alguns ajustes e respeitando o perfil e o ritmo de cada um, eles podem começar aos 11 anos

Giovanna Fischborn
postado em 25/03/2022 15:10 / atualizado em 25/03/2022 15:53
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A musculação e, mais recentemente, o crossfit têm entrado na lista de atividades físicas praticadas por adolescentes. A procura tem ocorrido não só por causa da saúde, mas também porque esse tipo de exercício está em alta. Sem esquecer, claro, que muitos veem uma oportunidade de se juntar aos amigos. E é aí que alguns questionamentos entram em jogo. Afinal, malhar atrapalha ou não o crescimento do adolescente? Há uma atividade mais recomendada para eles?

É importante entender que é na adolescência que o corpo desenvolve habilidades que serão levadas para o resto da vida. Nessa fase, alguns hormônios, como a testosterona, quando somados ao exercício, são um boom para o desenvolvimento físico, motor e cognitivo.

"E todos os tipos de atividade física são bem-vindos nesse momento. Desde as mais funcionais até as mais específicas, como uma modalidade esportiva", afirma Carlos Roberto Teles, coordenador de educação física e esportes do Colégio Sigma. O que muda é a aptidão e a afinidade do adolescente com essa ou aquela prática. E é esse gosto que define, em grande parte, os resultados que ele terá.

Na opinião de Carlos, a musculação, se feita de forma correta, respeitando o nível de força e pesos indicados para a faixa etária e perfil de cada um, tem tudo para trazer ganhos. E, claro, é recomendado o acompanhamento de um professor, principalmente nessa fase inicial: "Primeiro, para entender se o indivíduo está com boa condição de saúde; depois, para avaliar os modelos de treino. Por último, é importante a orientação em relação às cargas e às repetições que ele deve executar".

Luciano França, especialista em treinamento para crianças e adolescentes e coordenador do programa Teen na academia Unique, recomenda os exercícios de força já entre os 10 e 11 anos, a depender da maturidade corporal. Sobre a relutância de alguns em acreditar que esse tipo de treino beneficia o adolescente, ele desmistifica: "Isso vem muito da ginástica, que tem atletas de baixa estatura e muito musculosos, mas que é algo característico do esporte e, ainda assim, seletivo".

Na academia em que trabalha, o crossfit tem uma versão para os mais jovens, que é o crosskids, em que os alunos desenvolvem mobilidade e técnica. Nos treinos de parada de mão, por exemplo, eles usam a parede como apoio, até conseguir se soltar dela e executar os movimentos livremente. Em outros momentos, os alunos usam cano de pvc como apoio e, na maioria das vezes, sem carga. "A decisão de colocar peso depende muito da estatura, do peso e da maturidade corporal. Só a partir dos 16 e 17 que aconselhamos a pegar peso de verdade", avalia.

Malhar ajusta a postura, principalmente quando ela é curva. Fortalece joelhos, tornozelos e, em vez de fazer mal, ameniza aquela dor de crescimento, que, segundo Luciano, acontece porque a musculatura é fraca.

Na intensidade certa

Com uma rotina intensa de tarefas, provas e muitas preparações, alguns adolescentes abrem mão da atividade física para estudar. Mas o exercício não deve ser excluído dessa conversa. Os dois universos, não tão distantes assim, andam de mãos dadas.

Carlos Roberto Teles ressalta que malhar ou praticar algum esporte agrega pontos positivos aos estudos — ajuda a controlar a ansiedade, melhora a concentração na hora da leitura, no aprendizado, e contribui para o raciocínio lógico.

O estudante Davi Varella, de 13 anos, adora ir à academia. Lá, faz calistenia (conjunto de exercícios nos quais se usa apenas o peso do corpo) e vôlei toda semana. Além disso, luta judô desde os 4 anos, uma herança do pai, que foi um grande lutador. Ele também joga futebol, que funciona bem para quando tem um tempo livre.

Davi conta que a escolha pela calistenia veio por influência de alguns amigos, que já praticavam. "Quis aprender para me sentir enturmado e estar mais próximo dos outros." A modalidade exige muito domínio dos movimentos do corpo, no solo e nas barras.

De mais ou menos um ano para cá, tempo em que se dedica regularmente à calistenia e ao vôlei, Davi conseguiu regular o peso e, desde então, mantém a boa forma com muita saúde. "Sempre tive uma alimentação saudável, mas não era tão ativo. Agora, com muita dedicação, eu me sinto animado para me exercitar e praticar qualquer esporte."

E ele consegue equilibrar bem as demandas escolares com todas as atividades físicas que faz. Precisando estudar um pouco mais ou com uma prova importante a caminho, Davi prioriza a escola, mas, se sobra tempo, vai malhar. "Às vezes, arrumo um cantinho na academia mesmo para fazer os deveres e não ficar com pendências. No geral, dá para balancear bem os dois", conta.

Nesse sentido, Luciano França reforça a importância da avaliação prévia para guiar as atividades que o adolescente fará e, assim, estimular que ele persista numa vida ativa. "Antes de começar os trabalhos, perguntamos tudo que o aluno faz da vida, o tempo livre que tem, o que gosta de fazer e se tem alguma doença, dificuldade ou lesão. Só assim, conseguimos encaminhar para o que ele mais precisa e vai gostar de fazer."

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