Alice Castro, 55 anos, orgulha-se da sua moto, da marca Harley-Davidson, e dos lugares onde o veículo a levou. Aos 19 anos, era desquitada, pois na época não existia o divórcio, possuía tatuagens e dirigia sua motocicleta até o Banco do Brasil, onde atuava como bancária. Passava uma imagem rebelde para quem observava de fora, principalmente por ser uma mulher. Mas, para ela, o conjunto representava a autonomia que agora tinha.
A paixão e o interesse pelo mundo do motociclismo não são recentes, ela recorda de ficar impressionada com propagandas na infância e de admirar a lambreta que o avô dirigia em casa. O sonho de uma moto própria não demorou a chegar. Ela adquiriu uma Honda XLX 250R no ano de 1987. Para Alice, dirigir representava uma grande realização pessoal e uma liberdade indescritível, pois sentia que, sobre a moto, tinha controle e segurança. E, apesar de, desde 2011, ser proprietária de uma Harley, que se tornou sua marca pessoal, ela se considera apaixonada por motos, independentemente da marca ou da cilindrada.
Mesmo que o termo venha associado a algo pejorativo para algumas pessoas, Alice se descreve como motoqueira e incentiva outras mulheres a tentarem. "Toda mulher nasceu para pilotar, a diferença é que algumas ainda não sabem", afirma. Para descrever a sensação de dirigir, ela faz um paralelo com a infância: "É como quando você brinca de super-herói e se sente imbatível, com a capa levantando com o vento". Além da sensação de bem-estar e da adrenalina, Alice aponta como muito importante ter, eventualmente, aprendido a mexer com a moto, pois, por ser uma máquina, entender como funciona e seu manejo trouxe ainda mais confiança e sensação de realização.
Coragem certamente está no dicionário da motoqueira, que já foi até o Nordeste pilotando sozinha, além de ter percorrido todo o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. "Só não fui para o Norte de moto, mas está nos planos", garante. A experiência fica mais vívida e amplia os horizontes, segundo Alice. Para ela, estar dentro de outros meios de transporte é como estar em uma cápsula, que não permite que a experiência seja vivida de forma integral. Em cima da moto, ela consegue sentir desde a temperatura do ambiente até detalhes e aromas: "Uma experiência única", conta.
Plataforma
Alice criou um perfil no Instagram para servir de álbum de fotografias para suas aventuras. Com o tempo, viu seu alcance aumentar e hoje conta com mais de 48 mil seguidores na rede. Ela utiliza a plataforma para servir de referência, incentivo e apoio para mulheres que têm o interesse comum: motociclismo, mesmo que da garupa. "Se toda menina for incentivada, vai ultrapassar limites", declara. Limites esses que, segundo a motoqueira, existem por causa da sociedade machista que insere as mulheres em uma categoria de submissão e as priva da liberdade e de viver aventuras.
Para vencer o receio que algumas podem ter de pilotar, Alice recomenda conhecer mulheres na área e confiar em si mesma. Foi por isso que, em 2011, criou um grupo no Facebook chamado Mulheres Motociclistas e Apaixonadas por Motos para disseminar informação e conectar motociclistas, além de compartilhar vivências e incentivar interessadas. O grupo, atualmente, conta com mais de 17 mil pessoas e permanece ativo até hoje. A página de mesmo nome, criada após o grupo, conta com mais de 40 mil curtidas e compartilha fotos de mulheres que fazem parte da comunidade de motociclistas espalhadas pelo país.
Alice também fez parte da diretoria do Harley Owners Group (HOG) Brasília Chapter até 2015. Antes dela, nenhuma mulher no Brasil havia ocupado a posição de diretoria do grupo, que é um clube de marketing comunitário patrocinado e operado pela Harley-Davidson para entusiastas das motocicletas da marca. Em 2014, iniciou o grupo Ladies of Harley em Brasília, que tem uma atuação semelhante a do HOG. Ela conta que em todos esses anos fazendo parte desses espaços seu principal objetivo foi incentivar o motociclismo, pelo qual é apaixonada e que a inspira de igual forma, nas poesias, crônicas e contos que escreve.
* Estagiárias sob a supervisão de Sibele Negromonte
Para conhecer e se inspirar (mais)
Eu sou Malala: A história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã,
de Malala Yousafzai.
O livro da candidata mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz mostra a luta pelo direito à educação feminina e a história de Malala e sua família, em meio às inseguranças do país. A ativista se tornou um símbolo global de protesto pacífico e defende a luta por igualdade.
Dona do Meu Destino
A startup surgiu com objetivo de ensinar mulheres sobre o funcionamento de automóveis, como realizar a escolha, identificar falhas e economizar quando der problemas, para não ser enganada em oficinas mecânicas. Além dos cursos pagos, dá dicas práticas nas redes sociais de forma leve e acessíveis.
Mais informações no Instagram:
@donameudestino
Grandes mulheres que fizeram maravilhas, de Kate Pankhurst
Com indicação para crianças a partir dos 3 anos, o livro visa inspirar as pequenas leitoras com histórias de mulheres pioneiras em carreiras tradicionalmente masculinas que mudaram o mundo.
(Reprograma)
É uma iniciativa de impacto social que foca ensinar programação para mulheres cis e trans que não têm recursos e/ou oportunidades para aprender a programar. O projeto visa combater a desigualdade de gênero no setor da tecnologia por meio da educação, já que, hoje, as mulheres representam menos de 1/3 da força de trabalho em TI.
Mais informações em: reprograma.com.br
Dona Conserta
Uma iniciativa de manutenção residencial para mulheres, por mulheres. O serviço garante mais tranquilidade para mulheres que frequentemente se sentem inseguras com profissionais desconhecidos em casa. A equipe realiza os mais variados serviços, que incluem a parte da pintura, reformas, montagem de móveis e até mesmo com relação à parte elétrica e hidráulica.
Mais informações em: donaconserta.com.br
Um teto todo seu, de Virginia Woolf
O ensaio é um clássico texto feminista. Baseado em palestras de Virginia Woolf nas faculdades de Newham e Girton, em 1928, traz reflexões a respeito das condições sociais e produções literárias femininas da época, que ainda são atuais e pertinentes.
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