O que vem à mente quando você pensa em carnaval? Blocos de rua? Desfiles de escolas de samba? Fantasias? Confetes? Para algumas pessoas, essa celebração marca momentos que ficam guardados na memória afetiva, seja por apresentarem novas amizades, seja por abrirem as portas para um novo amor. Muitas vezes, também são a recordação de épocas de maior leveza na vida, como a infância, e por que não de histórias engraçadas para serem compartilhadas, aos risos, futuramente? Veja, a seguir, alguns relatos — saudosos — de pessoas apaixonadas pela festividade de Momo.
Memória marcada na pele
Sair de casa rumo aos blocos de carnaval e voltar com uma tatuagem mal cicatrizada não estavam nos planos dos amigos Matheus Ribeiro e Letícia Barbosa, em 2018, quando escolheram curtir a folia juntos. A aventura começou quando os estudantes desviaram do caminho do bloquinho para passar no shopping, visando comprar glitter e adereços.
A vitrine de uma loja, conhecida por fazer tatuagens e vender artigos de rock, chamou a atenção e ambos se interessaram por flashes — tatuagens prontas — que estavam na promoção. O "Ei, vamos fazer uma tattoo?" partiu de Letícia, e Matheus, alcoolizado, concordou. Ele fez uma âncora; ela, um ramo de flores. Quando já estavam no bloco, embalados pelas músicas, se esqueceram dos desenhos em suas peles. "A mistura de Corote e sol não deu muito certo e a cicatrização foi bem mais lenta do que o esperado", conta Matheus, a gargalhadas.
Foi no ensino médio que eles se conheceram e, depois, na faculdade, chegaram a cursar a mesma graduação durante um período. Desde então, não se afastaram mais, tornando-se parceiros de várias outras comemorações. Hoje, a tatuagem marca, além das aventuras de carnaval, a amizade entre os dois, e o acontecimento tornou-se uma daquelas histórias boas demais para serem guardadas em segredo.
"Eu não lembro de uma vida sem carnaval"
Interior do Pará, anos 1980, bandas tocando marchinhas, familiares reunidos e a expectativa para experimentar as fantasias. Essas são algumas das lembranças de infância da professora e jornalista Caroline Vilhena, quando indagada sobre as suas melhores memórias da folia. Hoje, com 38 anos, ainda gosta de aproveitar as festas ao lado dos amigos e dos filhos, Pedro e Laura, mas as maiores recordações ficaram mesmo nos tempos de criança.
A justificativa está na relação saudável que sua família tinha com essas festividades, já que era um momento de reunião, de alegria e, principalmente, de celebração do lúdico, do brincar. Mesmo com avós muito religiosos, o carnaval nunca foi considerado algo profano ou errado; assemelhava-se mais aos encontros de Natal, com muito afeto e diversão. "Era festa dia e noite. No domingo, íamos para a missa. Depois, bloco de carnaval de novo!", conta, aos risos.
As fantasias, diferentes a cada ano, eram costuradas com carinho pelas avós e esperadas ansiosamente pela pequena Caroline. Nos bailes, as danças e o divertimento eram compartilhados com os primos, que se deslocavam da capital para o interior, e juntavam-se ao restante da família na casa da avó. Já o pai e os tios vestiam-se de mulher e partiam para os blocos de rua. As marchinhas eram cantadas e tocadas por bandas da cidade, com letras conhecidas de cor pela comunidade. Todos comemoravam.
Depois que os avós faleceram, a professora não voltou mais para Belém e, por um tempo, as comemorações tornaram-se menos recorrentes. "A vida adulta 'engole' a gente, já não temos tanto tempo para pensar em festas e fantasias, por exemplo", explica. Mas o amor pelo carnaval nunca deixou de existir e o objetivo é passar esse sentimento para os filhos, visto que, para ela, foi muito saudável. A última folia que comemorou foi em 2020, antes da pandemia, em Salvador, e a expectativa é que, ano que vem, as celebrações retornem.
Neste ano, os planos são outros: como estará de mudanças e sem a presença dos filhos, a folia será mais modesta, sem festas. "A ideia é colocar uma música no café da manhã e aproveitar a energia, mesmo que seja fazendo uma faxina", ressalta. Apesar de não comemorar como antes, Caroline sempre sente o clima do carnaval, que, segundo ela, "acontece dentro da gente" e é um momento de se reconectar com a infância e a ludicidade.
Unidos por Momo
Ele, professor de educação física e mestre de bateria; ela, professora de história e passista. Ambos apaixonados por carnaval e juntos há 13 anos. A história começou em uma escola de samba, a Acadêmicos da Asa Norte, onde se conheceram. Charli Rosa foi fazer uma apresentação e Anderson Chaves já era da escola. Começaram a namorar e casaram-se em 2015. A relação deu frutos e, hoje, eles têm uma filha de 4 anos, chamada Liah.
Parte da rotina da família gira em torno da folia. Anderson é carioca e, com frequência, o casal se apresentava em escolas de samba do Rio de Janeiro, além de marcarem presença em eventos semelhantes em São Paulo. "Vivemos o carnaval a todo momento", destaca Charli. Para este ano, infelizmente, grandes comemorações estão restritas, o que não os impede de festejar de maneira moderada.
O casal tem gravado lives de agremiações e, na quinta, ensaiaram na quadra da Acadêmicos da Asa Norte, para preparar o que será apresentado na transmissão ao vivo que ocorrerá no dia 19 de março. Extraoficialmente, eles se reunirão com os amigos em sua casa para escutar samba enredo, assistir aos desfiles dos anos anteriores e se divertir. "Não vivemos sem uma batucada", garante a passista.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte