Em dias ensolarados e frescos, nada mais agradável que levar os animais de estimação para passear e gastar energia, atividade essencial para a saúde física e mental dos peludos. Entretanto, muitos tutores se esquecem de fazer a higienização correta das patinhas ao chegarem em casa, mantendo nessa área microrganismos que podem prejudicar o bem-estar dos pets. Além disso, os cuidados habituais devem ser considerados, como a hidratação e o corte das unhas, pois previnem problemas futuros.
A médica veterinária Letycia Brandão, pós-graduanda em clínica médica e cirurgia de pequenos animais, lembra que essa parte do corpo de cães e gatos é tão ou mais sensível que os pés humanos, já que, diferentemente das pessoas, que utilizam calçados, as patas estão sempre expostas — a altas temperaturas, à umidade e até a produtos químicos presentes no chão. A umidade, por exemplo, facilita a concentração de matéria orgânica e altera a permeabilidade nesses locais, tornando-os suscetíveis a fungos e bactérias.
“Se o animal passeia em locais higiênicos, não há necessidade de grandes intervenções em todos os passeios. Para passeios corriqueiros, o uso de lenços umedecidos próprios para cães ou do banho a seco são suficientes para manter as patinhas limpas” esclarece Letycia. Já em relação aos cuidados cotidianos, manter a tosa higiênica em dia é essencial, pois os pelos entre os coxins, os “dedos”, ficam aparados e evitam o acúmulo se sujeiras.
Outro ponto positivo dessa prática é que ela facilita a limpeza diária da região e dispensa o uso de secador, evitando ressecamento e lesões provenientes do uso prolongado de fontes de calor, como completa a médica veterinária e residente em patologia animal Ana Lívia Sousa.
Para a higienização, o uso de produtos adequados também faz toda a diferença. No mercado, é possível encontrar loções, sprays e hidratantes específicos para os bichos, além de objetos que auxiliam nesse processo, como os copos limpa-patinhas. As veterinárias desaprovam veementemente o uso de produtos químicos e de limpeza doméstica, como água sanitária, álcool (líquido ou em gel), desinfetantes e multiusos. “Substâncias que podem agredir a nossa pele também podem machucar, até mesmo de forma mais severa, a pele dos nossos pets” ressalta Ana.
A jornalista Alexia Oliveira compreende bem esses cuidados ao aplicá-los em seu gato Thor, de sete anos, resgatado das ruas por ela em 2020. Por ter sofrido quando estava abandonado, o felino desenvolveu problemas de saúde relacionados à respiração e tornou-se, inicialmente, bastante arisco a procedimentos de higiene. Com o tempo, utilizando o reforço positivo e fazendo dos momentos de limpeza uma brincadeira, a tutora conseguiu remediá-los melhor e, entre os cuidados diários, ela cita a escovação dos pelos e a hidratação das patinhas.
Em relação à higienização dessas áreas, Alexia não costuma dedicar muito tempo, já que Thor é criado exclusivamente dentro do seu apartamento, fato que a faz limpar os pelos e as patinhas do pequeno apenas periodicamente. A veterinária Letycia Brandão salienta que os gatos, por natureza, se limpam sozinhos e não necessitam de intervenções que não sejam terapêuticas e por orientação médica. Além disso, sugere que os felinos possuam criações indoor, isto é, sem sair de casa, o que faz com que eles sujem menos as patas que os cães.
Outro cuidado indispensável é o corte adequado das unhas dos animais, que exige precisão e cautela para evitar machucados e estresse. Por isso, o corte deve ser feito apenas na ponta da unha, a fim de impedir que alcance a parte vascularizada e cause sangramentos e dor, como destaca a veterinária Ana Lívia. A jornalista e tutora do Thor não recomenda que os “pais de pets” se arrisquem nessa tarefa, caso não se sintam seguros. Ela, por exemplo, aproveita as consultas de rotina do seu gato, para deixar essa missão a cargo dos veterinários.
Para os tutores que se sentirem seguros nessa atividade, Ana lembra que o reforço positivo pode ser uma boa saída: “A recompensa com petiscos funciona como reforço positivo para os animais que não ficam confortáveis com essa prática, assim o pet entende que o corte de unha não é uma prática ruim, e sim que traz benefícios”. Outro ponto que gera dúvidas constantes entre os pais é a utilização ou não de sapatos e meias nas patas. Sobre esse tópico, Letycia evidencia que o uso pode se dar somente durante os passeios, pois se utilizado de forma constante, cria um ambiente abafado, úmido e escuro.
Sem maiores problemas
De modo a evitar que cães e gatos desenvolvam problemas sérios nas patas, é importante que os tutores façam sempre uma vistoria nessa área, uma vez que os pets normalmente demoram para reclamar de machucados ou incômodos. “A lambedura excessiva das patinhas, por exemplo, principalmente quando acompanhada de mordeduras, é um sinal de alerta para algumas patologias que podem surgir na região estando ou não relacionadas ao manejo inadequado no momento da higienização das patinhas”, adverte Ana Lívia. As mãozinhas encharcadas, avermelhadas ou inchadas são alguns sintomas de possíveis disfunções.
Ademais, alergias, dermatites e intoxicações podem ser resultados da má conduta no momento da limpeza, já que lamber as mãos e os pés é um hábito muito comum nos animais domésticos, principalmente felinos. Por isso, episódios de vômito, secreção nos olhos e no nariz, lesões na língua e apatia devem alertar os tutores a procurarem atendimento médico rapidamente. De forma geral, Letycia recomenda que manter as patas sem umidade e sujeiras permite que a pele mantenha sua permeabilidade e uma flora saudável, prevenindo doenças.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira