Saúde

Metabolismo em equilíbrio: por que a tireoide é tão importante para a saúde

Glândula essencial para o bom funcionamento do organismo, a tireoide precisa se manter saudável. Saiba quais são os sinais de alerta para um possível problema e conheça os tratamentos disponíveis

Por Carolina Marcusse*
postado em 13/02/2022 08:01
 (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)
(crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

A tireoide é uma glândula que secreta hormônios essenciais para diversas funções metabólicas do corpo. Tem atuação em todas as fases da vida, pois conta com importante papel no crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes e permanece indispensável para a fertilidade, a memória, o sistema cardiovascular, o ciclo menstrual, a regulação do colesterol, o peso adequado e até o funcionamento do intestino.

Por ter esse caráter básico de garantir que o corpo funcione adequadamente, algumas disfunções podem ser percebidas com facilidade. No entanto, apesar de alguns sintomas serem evidentes, a recomendação é que sempre ocorra uma avaliação do médico de confiança do paciente, de preferência um endocrinologista, que é apto para diagnosticar disfunções na glândula.

Entre os principais problemas, estão o hipotireoidismo, quando não há produção suficiente de hormônios da tireoide; o hipertireoidismo, caracterizado pelo excesso desses hormônios no organismo; e os nódulos, que são relativamente comuns, e os cânceres de tireoide.

Alguns famosos, inclusive, já se manifestaram sobre o assunto publicamente. A atriz Carla Diaz teve a descoberta de um câncer na tireoide após o surgimento de um nódulo que, depois da biópsia, foi diagnosticado como maligno. Outra situação semelhante foi a da musa inspiradora da música Garota de Ipanema, Helô Pinheiro. Em ambos os casos, o desfecho foi cirúrgico e positivo, as duas tiveram uma boa recuperação. 

Hipotireoidismo

De acordo com a médica endocrinologista, o hipotireoidismo é uma condição em que não há produção suficiente de hormônios da tireoide, a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4). Por isso, a pessoa acometida pode sentir fadiga e sonolência, mesmo com descanso adequado, intolerância ao frio, inchaço causado pelo excesso de líquidos e ganho de peso. É como se o organismo funcionasse de forma mais lenta, devido à falta de hormônios necessária.

A principal causa é autoimune. O que significa que o próprio corpo gera anticorpos que interferem no funcionamento da tireoide. Para tratar a condição, é possível utilizar medicação e realizar reposição hormonal, além de ser necessário que o paciente se alimente bem e tenha hábitos de vida saudáveis, como a ingestão de iodo na medida correta. Sob nenhuma hipótese é recomendada a automedicação e o abandono do acompanhamento profissional, essenciais para o sucesso do tratamento.

Hipertireoidismo

Por outro lado, o hipertireoidismo é caracterizado pelo excesso dos hormônios T3 e T4 no organismo, que também impacta negativamente no corpo. Há a possibilidade de ser autoimune, como o hipotireoidismo, mas também pode ser causado por uma produção autônoma. A médica Brenda Leal informa que os sintomas incluem taquicardia, tremores nas extremidades, pele pegajosa devido ao excesso de sudorese, intolerância ao calor, insônia, irritabilidade e perda de peso mesmo com aumento da ingestão alimentar.

O tratamento não é generalizado, depende do que levou a esse aumento da produção dos hormônios. Em alguns casos, são utilizados medicamentos para regular a frequência cardíaca, os tremores e outros sintomas que afetam diretamente na qualidade de vida do paciente acometido do problema. Em associação a esses, podem ser utilizados remédios para o controle hormonal com dosagem adequada ao quadro clínico. Pode haver ainda uma cirurgia para realizar a remoção da tireoide, seja de uma parte, seja de toda ela.


Nódulos de tireoide

A maior parte dos nódulos são benignos e só são removidos em circunstâncias específicas, como foi o caso do ator Bruno Gagliasso, que removeu um cisto não cancerígeno e não necessitou de um tratamento longo e complexo. "Em alguns casos, eles podem ser identificados durante o exame físico, com o toque, mas a sua maioria é descoberta por meio de exame de imagem da região cervical, como uma ultrassonografia", esclarece a médica endocrinologista Bruna Borges.

Risco aumentado

Brenda Leal informa que os fatores que levam ao aparecimento de problemas, como os nódulos, estão relacionados à tireoidite de Hashimoto, à predisposição genética, e à carência de iodo na dieta. Por isso, deve existir um cuidado maior caso já existam casos na família de disfunções na tireoide e um rastreio de possíveis problemas mais frequente. Além disso, a alimentação é indispensável para prevenir uma série de doenças e desequilíbrios, tanto na tireoide quanto no restante do organismo.

Fora os cuidados básicos, Bruna Borges alerta: "Existe uma prevalência no desenvolvimento de nódulos tireoideanos em mulheres, e a incidência aumenta com o avançar da idade". Desse modo, os exames de rotina são indispensáveis, pois sempre é preferível a intervenção precoce, evitando, assim, maiores complicações e piora nos possíveis sintomas.

Outro ponto de atenção, segundo a profissional, é que existem diversos "gatilhos" para o desenvolvimento de uma doença tireoidiana. "Os três principais vilões da saúde da nossa tireoide são as toxinas ambientais, os alimentos inflamatórios e as deficiências nutricionais. Uma parte significativa dessas exposições são acumulativas no nosso organismo, o grau de interferência vai depender da sensibilidade de cada um, além da predisposição genética", explica Bruna.

Técnica moderna e minimamente invasiva

Segundo Rodrigo Gobbo, diretor médico do Centro de Medicina Intervencionista do Hospital Israelita Albert Einstein, cerca de 40% da população terá algum nódulo tireoidiano ao longo da vida. "Felizmente, a esmagadora maioria é constituída de nódulos benignos, entre 90% e 95%", completa o médico. Levando em consideração que boa parcela das pessoas pode vir a desenvolver nódulos, desde 2018 o Hospital Israelita Albert Einstein utiliza a técnica de ablação por radiofrequência para trazer um tratamento menos invasivo e que traz mais qualidade de vida para os pacientes.

"A técnica está incluída em um grupo de terapias ablativas conhecidas como térmicas, ou seja, em que conseguimos obter a morte do tecido tratado, no caso os nódulos tireoideanos, por meio de extremos de temperatura letais especificamente nas áreas tratadas, e com bastante e necessária precisão", descreve Gobbo. A precisão é um diferencial do método, que consegue, com menor tempo de realização e sem anestesia geral, preservar a porção saudável da tireoide, evitando, assim, a demanda por reposição hormonal por toda a vida, caso houvesse uma cirurgia invasiva removendo ou lesionando parte da glândula.

"No caso dos cânceres, nossa meta é uma redução de 100% em até 18 meses", afirma Antônio Rahal, médico radiologista intervencionista do Hospital Israelita Albert Einstein. Ele explica que em estudos sul-coreanos, com número de pacientes maior, pois o país utiliza a técnica há mais tempo, os resultados são animadores, com pacientes livres da malignidade e com preservação da tireoide.

Essa eficácia terapêutica descrita pelo especialista é tamanha a ponto do tratamento estar sendo estudado para outros problemas além dos nódulos, principalmente para pacientes com risco cirúrgico elevado. Além disso, Antônio Rahal relata que outro cenário relevante é o de pacientes que passaram por cirurgia e tiveram reincidência ou ainda metástases detectadas em linfonodos cervicais, onde a ablação tem tido "excelentes resultados em casos bem selecionados".

Palavra do especialista

Quais são os principais distúrbios e problemas que podem acometer a tireoide?

São o hipotireoidismo, o hipertireoidismo, a tireoidite, os nódulos e o câncer de tireoide. O hipotireoidismo se caracteriza por uma baixa produção dos hormônios, cuja principal causa é autoimune (hipotireoidismo de Hashimoto). Já o hipertireoidismo ocorre pelo excesso de hormônios tireoidianos, que pode ser de causa autoimune (doença de Graves) ou por um produção autônoma. A tireoidite é uma inflamação da glândula que pode evoluir com hipertireoidismo, hipotireoidismo ou até mesmo sem alterar sua função. Nódulos de tireoide são relativamente comuns e a grande maioria são benignos. Por meio do exame de ultrassom, podemos avaliar as características dos nódulos e a necessidade ou não de biópsia. Já o diagnóstico de câncer é feito por biópsia, e o tratamento é cirúrgico.

Existe uma alimentação adequada para quem possui algum desequilíbrio na tireoide?

Alguns alimentos podem contribuir para a melhora da qualidade de vida em pacientes com hipotireoidismo, enquanto outros podem piorar. Sal em excesso, por exemplo, que é enriquecido de iodo por lei, pode atrapalhar o funcionamento da tireoide. Uma boa dieta inclui grãos integrais, alimentos in natura, castanhas, frutas e vegetais. Entretanto, não é possível controlar o hipotireoismo, por exemplo, apenas com a alimentação. A reposição hormonal deve ser implementada em conjunto com devido acompanhamento médico.

Com relação a nódulos na tireoide, quando descobertos, quais são as possibilidades de tratamento para o paciente e quais cuidados devem ser tomados?

A grande maioria dos nódulos são benignos. Por meio do ultrassom podemos observar algumas características que chamam a atenção para a malignidade, inclusive o tamanho dele. Caso tenha um conjunto dessas características, solicitamos uma biópsia. E caso o nódulo não seja suspeito, apenas fazemos o acompanhamento, geralmente anual, com o ultrassom. Uma característica que o paciente pode acompanhar e observar é se há crescimento do nódulo.

Brenda Leal é médica endocrinologista da clínica Invitta

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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