Para muitos tutores inexperientes, a necessidade de adaptar seus lares para os pets é uma informação nova. Para que os animais desenvolvam hábitos saudáveis e estejam seguros, tanto no momento das brincadeiras quanto no momento que o responsável não estiver por perto, é importante se atentar a uma série de medidas e cuidados, garantindo maior bem-estar para os bichos.
A veterinária Marina Reale, da clínica A Casinha, explica a importância de um ambiente onde o animal se sinta seguro, o que funciona, principalmente, na redução do estresse, pois este pode causar alterações fisiológicas, a curto e longo prazo, que podem culminar em doenças. "Animais estressados podem cometer automutilação e desenvolver lambedura por estresse. Os gatos ainda podem parar de comer e apresentarem lipidose hepática ou alterações no trato urinário que podem gerar um quadro de obstrução", exemplifica.
Para construir um ambiente que diminua as chances de problemas graves nos felinos, uma solução é a chamada gatificação. "É basicamente transformar a casa em um ambiente que tem um enriquecimento ambiental para o gatinho", conta Marina.
É a adaptação do ambiente para estimular os comportamentos naturais do animal, criando um ambiente dinâmico e interativo. Um exemplo da gatificação é ter prateleiras e nichos na parede para que os animais possam subir e brincar, pois os gatos são animais que gostam de observar o ambiente do alto, escalar e arranhar.
Além da redução do estresse e do tédio, mantém o animal com menores possibilidades de se tornar sedentário e, consequentemente, engordar. A veterinária acrescenta entre os benefícios a ingestão de água por esses animais, que costumam ter problemas renais com frequência. Para os que não gostam dos nichos e espaços fixos, é possível utilizar caixas de papelão como esconderijos e arranhadores, já que podem ser destruídas sem grandes prejuízos financeiros.
É o caso de Kelly Resende, analista ambiental, que é tutora de cinco felinos. Ela conta que possui algumas adaptações fixas, como nichos, uma torre e arranhadores. Apesar do aparato pronto para os animais, também deixa caixas espalhadas, que vão sendo trocadas periodicamente. "Eles gostam de lugares onde podem observar o movimento, perto de janelas ou em cantos que possam ter uma boa visão do ambiente. Também gosto de ter lugares onde eles possam se esconder quando chegam visitas", relata a tutora, que tem essa preocupação com o bem-estar dos animais e conforto deles.
A veterinária Renata Queiroz conta que a opção da tutora por nichos e espaços para os animais se esconderem e ocuparem é muito positiva: "Em casas multigatos, os nichos multiplicam os territórios disponíveis e eles se sentem mais calmos e relaxados. Tendem a brigar menos entre si". Além dos recintos próprios para os felinos, Kelly conta que tem uma caixa de brinquedos com ratinhos, bolas e cordas para divertir e mantê-los ativos. Outro cuidado indispensável para preparar o apartamento para eles são as telas em todas as janelas, o que evita que ocorram acidentes e limita rotas de fuga.
Mudanças
"O ambiente seguro é o mais básico de tudo, não propiciar que esse animal tenha acesso à rua e corra riscos desnecessários", explica a profissional. Entre esses perigos desnecessários, estão atropelamentos, brigas com outros animais e até mesmo infecções de animais doentes. No caso dos gatos, ainda existe a preocupação com as doenças FIV e FELV (imunodeficiência felina e leucemia felina, respectivamente). Para manter os animais mais "caseiros", é essencial realizar a castração, para diminuir a agressividade e vontade de eventuais escapadas.
Pisos feitos de materiais pouco aderentes, como o porcelanato, por exemplo, podem ser muito prejudiciais para os animais, principalmente à medida que vão envelhecendo. "Os piores inimigos da articulação são os pisos muito lisos, assim os animais têm pouca estabilidade, o que acaba forçando muito a articulação", alerta a veterinária Marina.
Por isso, devem ser selecionados pisos mais porosos. Na impossibilidade desses, a alternativa são tapetes emborrachados, carpetes ou até mesmo tatames de EVA onde o animal fica, diminuindo, assim, os consequentes problemas. No caso de animais que costumam dormir em locais altos, rampas e escadas adaptadas podem ajudar os idosos que tenham dificuldades de subir.
No caso de plantas dentro de casa, os tutores devem fazer pesquisas para garantir que não são tóxicas antes de trazê-las, pois em momentos de descuido o pet pode acabar entrando em contato e ter severas reações. Algumas plantas ornamentais que são tóxicas são os lírios, a espada de São Jorge, comigo-ninguém-pode, azaleia, costela-de-adão, jiboia e dama-da-noite. A atenção deve ser redobrada se existirem filhotes em casa, pois, devido a curiosidade, podem acabar ingerindo.
Novo morador
Para a chegada de um novo animal em casa, adaptações que são utilizadas para bebês podem ser úteis. Caso o local tenha uma longa escada e o filhote ainda não tenha muita coordenação é importante colocar telas protetoras ou portas para limitar o acesso. A veterinária Marina Reale lembra que, no caso de áreas externas com piscinas, é importante colocar proteções ao redor do espaço ou limitar o acesso, para evitar possíveis afogamentos ou traumas. O momento de usar a piscina pode ser muito divertido e prazeroso para o pet, desde que exista supervisão.
Para cães filhotes sem todas as vacinas, que ainda não podem fazer passeios acompanhados dos tutores e gastar energia, a casa deve ser equipada com brinquedos para que o cãozinho não fique entediado e destrua objetos pessoais dos residentes da casa, como sapatos, roupas e até mesmo móveis.
Renata Queiroz também recomenda que nessa idade, os treinamentos básicos de obediência e hábitos de higiene sejam iniciados, pois os cães têm um enorme potencial de aprendizado nessa fase da vida. Para gatos, também é nessa fase que o animal se desenvolve fisicamente e constrói hábitos, por isso, nessa idade será mais fácil acostumá-los com exercícios lúdicos e quais são os espaços exclusivos dele na casa.
A educação deve ser sempre por meio de reforços positivos, para todos os animais, afirma a veterinária. Petiscos e afagos são reforços positivos excelentes, mas é importante que o tutor tenha paciência e tenha em mente que punições não são a melhor estratégia de educar de forma definitiva os animais, que muitas vezes podem não compreender por que estão sendo repreendidos. Caso o tutor tenha muita dificuldade em fazer com que o pet aprenda comandos básicos e os locais onde ele pode fazer as necessidades, um veterinário pode auxiliar nesse processo ou até mesmo um adestrador profissional, que pode melhor direcionar.
Trazer um novo animal para casa quando já se tem outros pode ser um desafio. Para isso, a principal recomendação veterinária é que a adaptação ocorra de forma gradual, "sempre respeitando o animal que está ali há mais tempo". No começo, talvez deixá-los em cômodos separados, tendo a possibilidade de sentir o cheiro um do outro e ir, aos poucos, se acostumando com o novo indivíduo. Por fim, Marina reforça que essa série de cuidados facilita a vida do bicho e do tutor. "O ambiente seguro/confortável gera uma sensação de bem-estar nos animais fazendo com que eles reconheçam o local como sua casa", finaliza.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira