Há quem diga ser na adolescência que as tendências são mais apreciadas e seguidas, enquanto outros afirmam ser este o momento mais disruptivo da vida, em que o objetivo é ser diferente. De toda maneira, estilo e personalidade andam lado a lado e, consciente ou inconscientemente, os jovens deixam pistas de como desejam ser vistos e em quais grupos querem se encaixar.
Esta fase, apesar de confusa e delicada, é também muito passível à criatividade e, no que tange à moda, não é diferente. Roupas e acessórios adquirem novos significados, podendo quebrar estereótipos e até mesmo expressar a liberdade de querer — e poder — ser quem é. Na série americana Sex Education, da Netflix, isso fica evidente quando os estudantes, acostumados a um ensino mais liberal, são obrigados a vestirem uniformes, mas nem por isso deixam seus estilos, algo importante para eles, de lado, buscando complementá-los de outras maneiras.
Postura moderna
Nas escolas brasileiras, é comum que haja a determinação do uso de uniformes e, para a psicóloga Elen Alves, especialista em infância e adolescência, há um fator curioso nessa imposição: a existência de uma lei e, consequentemente, de limites. “A lei necessita existir na vida de todos, e na do adolescente é fundamental até para ele ter algo a questionar. Sem lei, não há questionamentos, e o adolescente pode se perder por não ter os limites de forma clara”, evidencia. Ao mesmo tempo, ter espaço para mostrar ideias e defender pontos de vista é primordial e, também, necessário.
Para a estudante Maria Clara Teixeira, 16 anos, há, no seu estilo, a expressão da sua identidade e é neste momento que ela permite deixar a imaginação fluir para fazer suas criações. “Eu gosto de usar e misturar tudo, porém tenho algumas preferências, como a moda dos anos 1990 e 2000. Faixas no cabelo e roupas coloridas são minhas peças favoritas”, pontua. Já na escola, os acessórios são o destaque: anéis, pulseiras, braceletes e brincos. Além disso, a maquiagem é um complemento importante e em que criatividade é mais depositada, sendo os delineados futuristas sua marca registrada.
Grande apreciadora da moda, em geral a jovem acompanha e inspira-se em conteúdos de maquiagem e looks, tendo como influenciadoras preferidas a Elviedesu e a Avani Gregg. Sobre a relevância em identificar-se com determinado estilo, ela acrescenta: “Essa é uma das maiores formas que temos de expressar nossa liberdade, deixando sair toda arte que há em nós”. Do mesmo modo, Elen explica que essa linguagem releva aspectos da nossa subjetividade e, na adolescência, isso se deve à reorganização da identidade, dos interesses e dos gostos.
No caso da estudante e modelo Hanna Luísa da Silva, 17, há grande diversificação na forma como se veste e se identifica, atrelada aos estilos hip-hop, vintage e gótico. Isso se deve às inspirações em artistas que admira, entre elas, Rihanna, Zendaya, Chloe Bailey, Normani e Iza, mulheres que utilizam seus protagonismos para chamarem atenção a causas feministas e antirracistas. Para a estudante, esses são tópicos importantes: “Como uma mulher preta eu gosto muito de expressar meu estilo através do meu cabelo, colocando tranças, fazendo penteados e utilizando perucas” destaca. Na escola, os acessórios não ficam de lado — durags, bandanas e presilhas são os mais usados.