Ensino remoto

A onipresença digital

Com a tecnologia inovando as formas de aprendizagem, as escolas se adaptam para atender às demandas do mundo cibernético

Por Azelma Rodrigues Especial para o Correio E Gabriela Chabalgoity
postado em 23/01/2022 00:01
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Internet 3.0. Realidade virtual. Internet das coisas (IOT). Robótica.Conexão 5G. Redes sociais. Realidade aumentada. Gamificação. Metaverso. Aula no mundo cibernético. Não há dúvidas sobre a expansão das formas de comunicação trazidas pela tecnologia, permitindo interação e colaboração ilimitadas. Quando se trata da Educação, agora, fica cada vez mais difícil imaginar o velho quadro negro e o professor com giz e apagador, não é mesmo?

Com a propagação da internet e a onipresença de dispositivos que se conectam a ela, surge um novo tempo na Educação, onde é possível aprender a qualquer hora e em qualquer lugar.

Para 2022, o desafio das escolas é medir se estão adaptadas à nova realidade. Se dispõem das ferramentas tecnológicas adequadas à demanda voraz de estudantes "nativos digitais", que ficaram mergulhados no acesso escolar remoto de forma compulsória, com a pandemia. Sorvendo novos formatos de aprendizagem e novos conteúdos. Inovando a maneira de aprender.

"Os modelos tradicionais de ensino ficaram ultrapassados nesse pós-pandemia. O grande impacto da tecnologia no mundo escolar foi a criação de um hiato muito grande, do ponto de vista da atratividade. Que conteúdos o professor vai ofertar? Como ajustar uma enormidade de informação ao perfil de cada  aluno?", pergunta-se o especialista em Tecnologia da Informação (TI) e humanista digital Gilberto Lima Junior. "Não há mais como reter alunos em carteiras enfileiradas ao modo antigo".

As mudanças são saudadas como positivas. "A tecnologia vem para melhorar a qualidade do ensino, otimizar, expandir, integrar, ajudar a interatividade. O papel da tecnologia na educação é o de aproximar mais os alunos ao conteúdo lecionado, tornar mais atrativo o estudo e facilitar o trabalho dos professores", afirma Filipe Emídio Tôrres, doutorando em Engenharia de Sistemas Eletrônicos e Automação na Universidade de Brasília (UnB). "Vai ajudar a reduzir a reprovação escolar", diz ele, que defende o modelo educacional híbrido, presencial e online.

Customização
da aprendizagem

Algumas escolas já estavam no mundo tecnológico, antes da pressão da pandemia. É o caso do Leonardo da Vinci. "Os professores, a equipe técnico-pedagógica e os funcionários já haviam passado, mesmo antes da pandemia, por treinamento para uso das ferramentas da plataforma Google for Education", conta a diretora executiva, Michelle Manzur. Tanto que em 2020, conquistaram o selo Escola Referência Google for Education. E conseguiram fazer uma rápida transição do presencial para o remoto, na fase emergencial.

Manzur garante que a escola disponibiliza equipamentos e conteúdos curriculares "atualizados e atrativos, e utiliza inteligência artificial" para elaborar planos de estudos individuais. Além de personalização do ensino. "Nosso Projeto TecVinci passou a ganhar ainda mais força. Desde o 1°ano do Ensino Fundamental, as tecnologias digitais de informação e de comunicação são usadas para potencializar e personalizar a aprendizagem", pontua.

Em termos de efeito comportamental, Beatriz Q., 16 anos, aluna do Leonardo, é um exemplo interessante. Ela conta que teve problemas na adaptação aos novos tempos da escola. "No início, foi mais difícil, já que era algo totalmente novo". Mas as dificuldades não foram de entendimento ou manejo dos avanços tecnológicos e, sim, da falta de disciplina exigida no modelo antigo. "Com o ensino remoto, fico muito mais livre, já que não tem ninguém me vendo, ou mandando eu fazer alguma coisa", comentou.

Já no Sigma, direção e corpo docente foram surpreendidos pela pandemia e a exigência por mais tecnologia. "Com o ano letivo já iniciado, em 2020 tivemos que adequar e adaptar um monte de estratégias que a gente não utilizava de forma on-line. Fazer o professor se tornar um membro digital, engajar todos, foi um desafio muito grande", explicou André Barreto, coordenador do ensino fundamental.

Segundo ele, todo esse movimento "trouxe o professor para mais perto do aluno, aproximou com o uso das redes sociais. E o remoto aproximou ainda mais as famílias, de olhos e ouvidos na aula on-line dos filhos".

Barreto explica que as novidades vão surgindo a vapor. "Hoje, a gente tem essa questão da customização da aprendizagem, que é uma tendência para o futuro. Desenvolver essas habilidades cognitivas mais complexas, colocando o aluno como protagonista de seu processo de ensino e aprendizagem", diz o professor.

Adaptação
e reflexão

Do ponto de vista do estudante, para alguns a adaptação é gradativa, ainda. Maria Luiza C., 16, conta que gostou das transformações digitais introduzidas pela Casa Thomas Jefferson, onde faz curso de idioma. "O meu processo de adaptação foi mais demorado, porque tenho dificuldade em manter a concentração no ensino a distância", disse.

O período de aulas remotas, segundo ela, exigiu paciência dos professores porque, como ela, outros alunos também tiveram dificuldades. "Os professores foram muito compreensivos. Com o tempo, e a ajuda deles, me acostumei".

Adaptação bem mais fácil para os mais novos "nativos digitais", a garotada que já nasceu tendo celular e internet. É o que mostra a escola Arara Azul, cujos alunos estão na faixa de zero a 10 anos.

"É inegável que as nossas crianças nasceram em um mundo tecnológico e a tecnologia faz parte da vida delas desde muito cedo, mesmo antes de saberem ler e escrever. A tecnologia é um importante aliado dos professores, veio para colaborar e melhorar o trabalho dentro de sala, estimular o desenvolvimento das crianças e seu aprendizado, e muito longe de substituir os professores. É um caminho sem volta", diz Niara Borges, diretora pedagógica.

Para encarar os novos tempos, a escola correu atrás de mais apoiadores e facilitadores em tecnologia educacional. Neste ano, "as aulas serão desenvolvidas com as ferramentas tecnológicas e a utilização cada vez mais atuante do protagonismo inserido nos processos autodidáticos, como por exemplo espaços makers, aulas invertidas, dentre outras didáticas evolutivas na construção de uma aprendizagem com foco na criticidade e reflexão aos valores ecológicos e humanitários", complementa a diretora.

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  • Filipe Emídio Tôrres, da UnB:
    Filipe Emídio Tôrres, da UnB: "Vai ajudar a reduzir a reprovação escolar" Foto: Arquivo Pessoal
  • André Barreto:
    André Barreto: "Fazer o professor se tornar um membro digital, engajar todos, foi um desafio" Foto: Arquivo Pessoal
  • Maria Luiza, aluna da Casa Thomas Jefferson:
    Maria Luiza, aluna da Casa Thomas Jefferson: "Os professores foram muito compreensivos" Foto: Arquivo Pessoal
  • Beatriz estuda no Leonardo da Vinci:
    Beatriz estuda no Leonardo da Vinci: "Com o ensino remoto, fico muito mais livre" Foto: Arquivo Pessoal

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