Chega o final do ano e, um pouco mais reflexivos, nos pegamos pensando sobre o que o próximo ciclo guarda. E enquanto, aos poucos, recuperamos a vida pré-pandemia, é natural que estejamos mais do que nunca ansiosos para correr atrás dos planos adiados. Uma viagem que ficou para depois, um reencontro muito aguardado ou uma celebração importante que não pôde ser realizada nos últimos dois anos. Talvez seja o seu caso ou o de alguém que você conheça.
Até então, as pessoas vinham encontrando alternativas e aguardando o momento de pôr tudo isso em prática. É o que o médico psiquiatra Luan Diego Marques, que é pesquisador na Universidade de Brasília (UnB), chama de ferramentas de adaptação. "Muitos chegaram a pensar que em 2021 a pandemia já teria passado e poderíamos, enfim, ter um ano normal. Mas, então, este ano mostrou que os ciclos bons ou difíceis podem vir e voltar, assim como a vida. Com isso, nossa capacidade de adaptação foi intensamente testada nos últimos meses", explica o especialista.
Embora sigamos com a pandemia, agora, o espírito geral é de renovação. Luan afirma que, depois de a humanidade viver muita pressão, 2022 traz a possibilidade de concretizar projetos, o que é muito bom para a saúde mental. Está liberado ficar empolgado com o que está por vir — e isso faz bem!
Nesse ritmo de realizações e novas possibilidades, a Revista te convida a conhecer histórias de pessoas que, muito possivelmente como você, aguardam a chegada do próximo ano para, finalmente, tirar os sonhos do papel e dar aquele start na vida, mais uma vez.
Pôr em prática
Antes executivo de contas, Leandro Gonçalves, 50 anos, hoje, é dono da O Cara do Pão, uma micropadaria artesanal. "O cara do pão", como era chamado, passava de porta em porta em condomínios privados, ia pessoalmente a cantinas de escolas e marcava presença em feiras em embaixadas e praças públicas. Isso até março de 2020, quando o novo coronavírus foi declarado pandemia mundial.
Durante a crise, Leandro precisou levar o modelo itinerante de padaria — por si só, inovador — a outro nível, compensando a então ausência dele no momento das vendas. Aderiu ao delivery, acompanhou o mercado e aperfeiçoou a oferta de produtos. Deu para crescer. "O delivery deu supercerto. Tínhamos uma carteira de clientes interessante e passamos a vender pelas redes sociais", conta.
Mas, sem dúvidas, as perspectivas para o empreendimento em 2022 são melhores. O esquema de entregas foi positivo a ponto de se tornar prioridade para o próximo ano. Em vez de retornar às feiras, Leandro planeja expandir o delivery e desenvolver um site próprio, assim, não fica dependente das redes sociais. E, claro, a ideia é retomar as idas presenciais aos locais de venda. "É algo que eu gosto de fazer, e é uma ideia diferenciada de padaria", reforça.
Para ele, o momento é de treinar e colocar em prática o que projetou para o negócio. Além do delivery, pensa em aumentar a variedade de produtos. Em contato com algumas embaixadas, Leandro tomou conhecimento de várias receitas e alinhou a oportunidade de ampliar o leque do cardápio ao interesse das embaixadas de divulgarem a cultura dos países. Uma das ideias é produzir pães de diferentes partes do mundo: "Todo país tem um tipo de pão. Seria bacana lançar a ideia de fazermos pães do mundo".
O amor em festa
Muito mais que uma festa, o casamento é uma fase de projetos individuais e, claro, muitos planos rascunhados em conjunto. Adiar o evento é reorganizar a cerimônia — da comida ao aluguel do espaço —, remanejar convites e datas e equilibrar as contas com os gastos a mais e alterações no serviço. Consequentemente, assuntos da vida, como mudanças, a decisão de, quem sabe, aumentar a família e quais os próximos passos a serem dados, viram pauta.
Suellen Aguiar e Moizés Borba, ambos de 33 anos, sabem bem o que é contar os dias até o tão esperado casamento. Por causa da pandemia do novo coronavírus, inicialmente eles remarcaram a festa de agosto de 2020 para junho de 2021. "Nessa primeira remarcação, não ficamos chateados. Estávamos preocupados com a gravidade da doença e a segurança nossa, da família e dos amigos, então, foi um adiamento bem confiante", conta Suellen. Ficou decidido que eles se casariam em um momento que já existisse a vacina para covid-19.
Só que teve mais um adiamento. Na data agendada, a vacina ainda não havia chegado aos convidados nem aos próprios noivos. Algumas festas até estavam liberadas no Distrito Federal, mas eles preferiram remarcar mais uma vez. Mesmo assim, o dia 26 de junho não passou despercebida pelo casal. Eles aproveitaram a data para formalizar a união no civil. Fizeram uma reunião intimista, para 20 pessoas.
Suellen e Moizés tiveram tempo também para efetivar alguns outros sonhos. Nesse meio tempo, conseguiram mudar de casa e fazer a lua de mel. Falta comemorar as conquistas com os 150 convidados. "O casamento, até então, está mantido conforme pensamos no início. Já seria realizado em um espaço aberto. Reconfiguramos a distância entre as mesas e a disponibilidade de álcool em gel. Na festa, todos vacinados", garante Suellen.
Planos em andamento
Para os funcionários públicos Sarah Souza, 29, e André Luiz Machado, de 31 anos, foi possível declarar o esperado "sim" perante os amigos e familiares. Eles se casaram em meados de 2021, depois de muitas mudanças na data da cerimônia.
Foram sete anos de namoro. E os preparativos estavam bem encaminhados. Mas a mudança de planos foi necessária para manter todo mundo em segurança. "Estávamos sonhando com o grande dia, mas sabíamos que era hora de cuidar da nossa saúde e da nossa família", diz Sarah. Foi preciso conciliar todas as agendas dos fornecedores para mudar a celebração de setembro de 2020 para julho de 2021.
Mas este não foi um ano fácil para o casal e as respectivas famílias. "A segunda onda nos acertou em cheio. Em março, o André e meus pais pegaram o vírus. Minha mãe precisou ser internada, foi um susto que passou. Em junho, um mês antes da cerimônia, meu avô também adoeceu, cuidamos dele na nossa casa. Infelizmente, ele precisou ser internado e veio a falecer", conta Sarah.
Sem a certeza de que em 2022 as coisas estariam melhores, eles decidiram se casar, então, em 2021, do jeito que desse. Na data, o governo do Distrito Federal havia recém-liberado alguns eventos, mas com número reduzido de convidados e demais medidas de segurança, como uso de máscaras, distanciamento entre as mesas, lugares marcados e sem pista de dança.
"Tínhamos planejado uma festa e teríamos outra. Mas aconteceu. Casamos em uma cerimônia linda, com a presença da família e dos amigos. Claro, tivemos muitas ausências, convidados do grupo de risco que ainda não estavam com as duas doses da vacina e que não se sentiram seguros para ir."
Para 2022, as perspectivas são melhores . O casal celebra, agora, a saúde e está cheio de esperança em um futuro melhor. O que fica para o próximo ano é a vontade de aumentar a família!
Finalmente, Brasil afora!
Sílvio Wallim de Andrade, 61 anos, representante comercial, está com as expectativas altas para o ano que vem. Um dos motivos? Tudo indica que uma viagem especial que era para ter acontecido em 2020 vai sair neste fim de ano e começo de 2022.
Sílvio, a esposa Regiane Andrade, de 55, e o filho deles, Thiago Andrade, de 32, estavam com tudo pronto para partir para o Nordeste, em março de 2020, quando o mundo foi acometido por incertezas. "Nossa reação foi uma mistura de decepção e conformismo, ante tudo que estava acontecendo e, principalmente, por tanto desconhecimento e falta de informação sobre a nova doença", lembra Sílvio.
Ainda que faltasse a filha mais nova, Carolina Andrade, 29, a viagem era muito importante. Há quatro anos que eles não tiravam férias em família. A solução foi esperar.
Agora, de viagem remarcada, eles têm mais uma razão para comemorar: Carolina, que atualmente mora na Colômbia, estará com a família nessa aventura. "O grupo está completo e nossa expectativa é bem melhor. Esperamos, acreditamos e desejamos que 2022 seja um ano melhor para o mundo", completa Sílvio.