A primeira novela o ator nunca esquece. O tremor, mesmo diante do calor das luzes, o nervoso de contracenar com os ídolos, o susto a cada "gravando". Pelo menos três jovens talentos vêm tirando de letra esse desafio ultimamente: Fernanda Marques, 27 anos, brilha como Cecília de Um lugar ao sol e Leonardo Zanchin e Nicolas Anhert vivem Neném e Guilherme quando jovens em Quanto mais vida, melhor!.
Quando Um lugar ao sol estreou, as atenções estavam todas voltadas para a trama de Christian (Cauã Reymond), que assume a identidade do irmão gêmeo, Renato, quando ele é assassinado. Mas a autora Lícia Manzo guardava uma carta na manga e a lançou nas primeiras semanas: o núcleo de Rebeca (Andréa Beltrão), ex-modelo em plena crise por causa dos 50 anos. É na pele da filha dela, Cecília, que Fernanda Marques chama a atenção a cada cena que aparece. Mãe e filha vivem às turras, especialmente agora que Cecília descobriu um beijo entre Rebeca e Felipe (Gabriel Leone), o namorado da melhor amiga, Bella (Bruna Martins).
Para Fernanda, porém, esse embate entre as duas não é recente. "Vem da ausência que Cecília sentiu da mãe durante a infância. Rebeca sempre estava ocupada por causa do trabalho e, por isso, Cecília cresceu sem a mãe por perto, criando uma distância entre elas. Por mais que a Rebeca tente se aproximar agora da filha, Cecília não consegue manter uma relação como se nada tivesse acontecido, assim como a Rebeca também prefere não tocar no passado. Isso acaba fazendo com que a relação delas fique ainda mais estremecida", comenta a atriz, em entrevista ao Correio.
Apesar de soarem machistas os argumentos para que Cecília fique magoada com a mãe, como a diferença de idade entre Rebeca e Felipe, Fernanda destaca que "o que mais a fere na situação é o fato de a mãe se relacionar com o namorado da Bella, com quem tem uma relação quase de irmã. Cecília sente como se fosse mais uma facada no coração, pois ela vai ter que lidar com a Bella depois. Por mais que a Cecília propague a liberdade feminina, acredito que, pela pouca idade, ela ainda tenha certos preconceitos enraizados."
O que também pode soar como provocação é o ingresso de Cecília na carreira de modelo, o que aumenta a rivalidade e as comparações entre as duas. O curioso é que a jovem não gosta do mundo da moda. "Cecília odeia o universo da moda, mas não tem a intenção de confrontar Rebeca, inclusive só vai a fundo pelo incentivo da mãe. Ela apenas enxerga na carreira de modelo uma possibilidade de conseguir dinheiro para conquistar a independência e se mudar de casa, para não precisar conviver mais com a mãe e o padrasto, com quem ela tem uma péssima relação", contrapõe Fernanda.
Logo na estreia, Fernanda tem uma joia nas mãos. Uma personagem rica, com várias nuances e tramas delicadas, como o estupro de que foi vítima numa festa. Estreante com ar de veterana, a atriz vem se destacando e fazendo bonito.
Versão em flashbacks
Se, para Fernanda Marques, uma das dificuldades era contracenar com atores mais experientes, como Daniel Dantas, Marco Ricca e Andréa Beltrão, para Nicolas Anhert e Leonardo Zanchin, o desafio era criar o mesmo personagem que os consagrados Mateus Solano e Vladimir Brichta, o Guilherme e o Neném de Quanto mais vida, melhor!.
"Eu e Mateus tivemos algumas conversas, estudando e entendendo como seria o corpo e o jeito do Guilherme, mas também fui atrás de outros trabalhos dele. Havia um duplo desafio de interpretar um personagem novo e que ainda teria uma continuidade em outro ator. Era importante saber como ele reverberaria no corpo e nos trejeitos do próprio Mateus. Foi uma dupla pesquisa", conta Nicolas.
Para o rapaz de 22 anos, a primeira emoção sentida no set foi "uma mistura de medo e empolgação. Mas, logo quando cheguei, fui muito bem recebido pela equipe e pelo restante do elenco e me senti muito abraçado. O medo passou, e a empolgação ficou ainda maior. Foi uma experiência incrível".
Nicolas parece que foi realmente fisgado pelo audiovisual. Este mês, ele estará na minissérie Passaporte para a liberdade (a partir do dia 20, no Globoplay) e no filme Lulli (dia 26, na Netflix). No primeiro, ele será Hans Becker, líder da juventude nazista. "Além das cenas de ação, meu personagem ainda tinha o sotaque alemão no inglês", adianta o ator, lembrando que a série será falada em inglês.
Em Lulli, a pegada é mais leve. Cinco amigos de personalidades diferentes são surpreendidos quando um deles, a Lulli (Larissa Manoela), toma um choque e passa a ler o pensamento das pessoas sem querer. "O choque é um pano de fundo para muitos assuntos que queremos discutir. É uma história divertida, mas com uma mensagem muito bonita por trás", define.
Quem também não esconde a empolgação de estrear em Quanto mais vida, melhor! é Leonardo Zanchin. "É aquele sonho de criança, que depois virou objetivo. E quando atingimos um objetivo, temos que nos orgulhar. Enfrentei diversos desafios, futebol, mergulho com cilindro, preparação física e mental, lidar com lente de contato, pois o Brichta tem olhos castanhos e os meus são verdes", enumera o rapaz, que, nas cenas em campo, acabou descobrindo uma habilidade.
"Tive muitos treinos de futebol junto com o Vladimir, treinos sozinho com o treinador, e também em casa fazia meu dever. Foi feito um grande campo dentro de um dos Estúdios da Globo, isso foi surreal. Eu nunca me dei bem com o futebol, mas gosto. Fiquei muito feliz de me dar bem nos treinos, tinha um melhoramento, um resultado proveitoso a cada dia de treino. Até descobri que sou bom de esquerda", diverte-se Leonardo que, quando soube que iria dividir o personagem com Vladimir Brichta, "deu mais frio na barriga ainda."
Tanto Nicolas como Leonardo ressaltam que o crescimento deles vem do dividir os sets com atores como Elizabeth Savalla. "Iniciar com essas pessoas, e seguir com elas, me fez amadurecer muito como ator e na vida também, como pessoa", finaliza Leonardo.
Três perguntas // Fernanda Marques
Cecília é mais nova que você. Já ter passado pela fase em que ela está te ajudou na composição?
De certa forma, sim. Mas somos muito diferentes. Minha relação com a minha mãe é bem diferente da relação que a Cecília tem com a mãe dela. Somos muito parceiras, existe muito respeito e admiração. Mas, como Cecília, eu também tive problemas em relação à aceitação com o meu corpo comigo mesma.
Os conflitos da obra de Lícia Manzo giram em torno da família. Como é a sua relação com a família?
Tenho uma relação incrível e de muito amor com a minha família. Venho de origem humilde. Meus pais vieram do sertão, passaram algumas dificuldades e eu nasci na periferia de São Paulo. Ver a mudança de vida que tivemos, as oportunidades que surgiram e o crescimento da minha família me dá muito orgulho e força para seguir em frente. Acredito que nossos laços se fortaleceram ainda mais pela história e parceria de vida. Além disso, um dos sonhos da minha mãe na juventude era se tornar atriz e, hoje, poder atuar e ver que eles podem acompanhar meu trabalho pela televisão é uma conquista compartilhada com todos da minha família. Nós vibramos juntos.
Além de atriz, você estudou arquitetura. Como uma profissão pode ajudar a outra?
As artes sempre fizeram parte da minha vida desde criança. Sempre tive facilidade em desenhar e criar. Por isso, escolhi na época arquitetura como uma segunda carreira. Mas na construção de uma personagem, misturo todos os tipos de arte como música, escrita, poesia e até desenho ou interesses artísticos em algo específico. Dependendo da personalidade delas, eu costumo criar um caderno composto de tudo um pouco, uma espécie de diário para cada uma. Eu não pretendo terminar arquitetura, mas tenho admiração pela profissão e tudo que ela engloba. Atualmente, estou para terminar a faculdade de Artes cênicas, falta um semestre.