Saúde

Excessos nas festas de fim de ano podem provocar problemas de saúde

Fim de ano é sinônimo de comilança, confraternizações e estresse. Especialistas falam da importância de manter o equilíbrio físico e mental em dia

Carolina Marcusse*
postado em 19/12/2021 08:00
 (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)
(crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

Os períodos festivos de fim de ano são lembrados como um momento de excessos em todos os aspectos, desde gastos com presentes, roupas novas para festas e, claro, com a alimentação, já que é a época das ceias, das confraternizações e dos pratos tradicionais. Apesar de ser um momento com pontos positivos, como reencontro de pessoas queridas e comemorações, essa série de exageros pode desencadear diversos problemas, tanto físicos quanto emocionais e financeiros, e pode representar riscos a longo prazo.

Bernardo Martins, gastroenterologista do Hospital Santa Lúcia Norte, explica que os principais problemas causados na saúde pelo exagero na ingestão de alimentos são dores e distensões abdominais, náuseas, vômitos, diarreias, além da possibilidade de desencadear refluxo, gastrite, azia, pirose (sensação de queimação) e outros desconfortos. Ele reforça que o exagero pontual causa consequências e, se perpetuado, pode levar a ganho de massa e propensão a doenças cardiovasculares.

Outro perigo está relacionado à demasia do uso do sal e à pouca hidratação, com alto consumo de bebidas alcoólicas e refrigerantes, o que pode causar uma série de problemas, que vão desde dores de cabeça até um possível aumento de pressão e retenção de líquidos.

Problemas gástricos

Com os excessos de fim de ano, há a possibilidade do agravamento de doenças já existentes ou das que o indivíduo têm propensão, como cálculos renais, cálculo biliar e outras inflamações. O gastroenterologista Bernardo Martins reforça a importância de, mesmo em períodos festivos, manter o equilíbrio, pois, assim, também é possível prevenir a disbiose — um desequilíbrio na microbiota intestinal, que pode ser causado por excesso de açúcares, gorduras e até uso de medicamentos sem a indicação adequada.

Caso ocorra a alteração, na maioria dos casos, a recuperação ocorre de forma natural, com consumo de fibras e alimentação saudável. O médico esclarece: "Assim que se recupera a rotina alimentar, o organismo vai voltando a ser o que era antes".

No entanto, há casos que demandam acompanhamento profissional, que pode incluir antibióticos para controle de bactérias patogênicas e probióticos para cultivar as bactérias boas que compõem a flora intestinal.

Riscos ginecológicos

Além dos problemas gástricos, potencializados pelo exagero e descontrole, pode surgir uma série de problemas ginecológicos, com destaque para a candidíase, infecção fúngica. A médica ginecologista Érica França explica que a doença está relacionada com a acidez vaginal, que, quando sofre diminuição de pH, favorece a proliferação de fungos.

Um dos fatores responsáveis por essa mudança são os alimentos fermentativos, como o álcool, carboidratos simples e açúcares em geral, que tornam o ambiente mais ácido. Érica explica que o simples consumo do alimento não causa a doença, mas, se o sistema imunológico e o intestino estiverem prejudicados, podem levar ao aparecimento da patologia.

Além disso, leite e derivados podem desequilibrar o meio vaginal por causa da inflamação intestina — a flora intestinal em desequilíbrio leva ao aumento de mucos e forma o ambiente ideal para o fungo candida. "Se existem alimentos causando inflamação na mucosa intestinal, ou seja, se estão modificando a permeabilização de substâncias, de toxinas, é facilitada a preferência errada de bactéria,s e isso faz com que o meio fique mais ácido", detalha a ginecologista.

Contudo, a recomendação não é de total restrição de doces e álcool, mas a moderação é uma aliada importante nesta época, associada ao consumo de alimentos que promovam um bom hábito intestinal, como os que contêm fibras. Alimentos integrais são bem-vindos, como grãos, cereais, além de iogurtes naturais, frutas, legumes e verduras. Ou seja, uma dieta balanceada e completa, que também favorece o sistema imunológico, importante para as pessoas acometidas com a candidíase.

Ansiedade e saúde mental

Outro ponto importante quando se trata dos excessos de final do ano é que a mudança de bactérias pode afetar também a produção de triptofano, o precursor de serotonina, responsável por promover a sensação de prazer e bem-estar. O fim de ano, para muitos, é um momento que traz uma série de preocupações, incertezas e ansiedade. Por isso, a psicóloga Rosana Lima recomenda o acompanhamento terapêutico, pois, mesmo que possam existir sentimentos comuns, cada um tem características individuais que podem ser devidamente acompanhadas por profissionais.

Um dos pensamentos que mais sobrecarregam as mentes neste período é o sentimento de não ter realizado todas as resoluções do ano que se finda, principalmente com o constante contato com as mídias sociais, que, dependendo de quem a pessoa acompanhe, pode mostrar realidades irreais. "Nas redes sociais, a gente acaba estabelecendo modelos que, às vezes, não são praticáveis. E, se os modelos que são seguidos são muito diferentes da minha pessoa, eu vou, sim, me sentir insatisfeita", aponta Rosana.

Estabelecer metas realistas pode auxiliar a lidar com o período. Mas a psicóloga alerta que a rigidez de metas para todo o ano pode não ser interessantes, já que ocorrem muitas mudanças nesse espaço de tempo, que fogem do controle e de qualquer planejamento. Por isso, metas restritas aos três primeiros meses podem ser efetivas e objetivas, já que a realidade está mais próxima com o momento atual.

Recomendações gerais

Nesta época de exageros, os cuidados básicos são sempre interessantes para ajudar a remediar possíveis danos e também os prevenir. O equilíbrio é a chave na alimentação, pois, segundo o gastroenterologista Bernardo Martins, não devem existir nem jejuns prolongados, nem demasia de consumo. Um sono reparador e hidratação são relevantes para manter tanto as funções mentais quanto as fisiológicas funcionando bem.

Palavra do especialista

Quais são os tipos de exageros mais frequentes?

Pode-se dividir em dois tipos de exagero: o pontual e o crônico. O pontual é quando há um episódio de excessos, que podem ser desencadeados por datas comemorativas, como aniversários, feriados e viagens. Já o exagero crônico é aquele que se torna um hábito, que vai além daquele momento específico, que se perpetua por semanas, meses e até anos. Ambos levam a alterações no organismo, em diferentes níveis.

Qual a recomendação alimentar para este período?

É importante ficar atento ao equilíbrio da composição nutricional. Não exagerar nos alimentos gordurosos, nem em algum grupo específico, como se restringir a consumir somente proteínas, por exemplo. E, claro, tentar ingerir frutas, legumes, verduras nesse meio tempo. Lembrar da salada, que ajuda na composição das fibras alimentares para manter a flora intestinal. E para quem intolerâncias, alergias e sensibilidades, manter a privação e o controle também nas festividades.

De que forma este período pode ser aproveitado sem grandes consequências depois?

Para manter o equilíbrio, temos que tentar cultivar sempre hábitos saudáveis, intermediando os excessos. Então, atentar-se para o sono, não ter muita privação dele, descansar o corpo e não deixar a hidratação de lado, porque o excesso de comida e bebida faz com que a gente beba muitos líquidos com altas concentrações de sódio, como refrigerantes, águas gaseificadas com sabores e bebidas alcoólicas. Tudo isso faz com que esqueçamos da hidratação corporal, que precisa ser água mineral.

Bernardo Martins é gastroenterologista do Hospital Santa Lúcia Norte

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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