Coluna Próximo Capítulo

Novos ventos

Vinicius Nader
postado em 19/12/2021 00:01
 (crédito: João Cotta/ TV Globo)
(crédito: João Cotta/ TV Globo)

Desde que a pandemia interrompeu Amor de mãe e Salve-se quem puder e apressou o final de Éramos seis, não víamos três novelas inéditas nos horários-chave para a teledramaturgia da Globo. Agora estão aí Nos tempos do imperador, de Alessandro Marson e Thereza Falcão, às 18h; Quanto mais vida, melhor!, de Mauro Wilson, às 19h; e Um lugar ao sol, de Lícia Manzo, às 21h.

Além do ineditismo, as três novelas que estão sendo exibidas primam por outro fator em comum: a renovação de autores do gênero. A chegada de novos nomes ao seleto grupo de novelistas da Globo traz também a esperança de um sopro de criatividade e de uma certa ousadia, mesmo que calculada. O interessante é notar que eles têm marcas próprias (claro, a serem desenvolvidas em próximas tramas), mas também bebem da fonte clássica, o que é ótimo.

Thereza Falcão e Alessandro Marson estão na segunda novela da carreira e a segunda juntos. A primeira foi Novo mundo (2017). Nos tempos do imperador não chega a empolgar, como sua prima-irmã da qual é uma espécie de continuação. A trama derrapa em retratos da história, especialmente no que se diz respeito à escravidão no Brasil. Mas não dá para negar: faz um delicioso paralelo com a realidade, tal qual Cassio Gabus Mendes em Que rei sou eu? — essa sim, assumidamente, uma sátira. O discurso negacionista de autoridades diante da epidemia de cólera que atingia o Rio de Janeiro ou a negociação de Lota (Paula Cohen, perfeita em cena) com o deputado Tonico Rocha (Alexandre Nero) para que ele nomeie o filho dela embaixador dos EUA mesmo sem ele ser da carreira diplomática foram exemplos de como a realidade se expressou no histórico império.

Estreante em novelas, mas com experiência em seriados, Mauro Wilson não nega as origens e leva o ritmo das séries para Quanto mais vida, melhor!. O resultado é quase um Carlos Lombardi 2.0, mas sem a turma dos descamisados. O humor rápido, irônico e as cores fortes dialogam com o Lombardi de Perigosas peruas (1992) e Quatro por quatro (1994) e com o Silvio de Abreu de Sassaricando (1987) e Guerra dos sexos (1983).

A mais experiente do quarteto é Lícia Manzo (foto). A autora de Um lugar ao sol estreia no horário das 21h, mas fez sucesso de crítica e público anteriormente com Sete vidas (2015) e, especialmente, com A vida da gente (2011), ambas às 18h. Impossível não notar o DNA de dois mestres do folhetim brasileiro na obra de Lícia Manzo. Manoel Carlos se faz presente a cada cena não desperdiçada, a cada retrato do cotidiano, como as refeições com a família reunida. Isso sem falar em discussões levadas para o universo feminino, como prazer sexual, crise da meia idade, insatisfação com o próprio corpo, entre outras.

O outro mestre a quem Lícia parece render homenagens a cada capítulo é Gilberto Braga. Especialmente no núcleo encabeçado por Ana Beatriz Nogueira como Elenice e nas artimanhas armadas pela Bárbara de Alinne Moraes. Túlio (Daniel Dantas) poderia ser cria de Gilberto. Os ganchos, que te levam a correr para a internet à caça do que vem por aí, também se tornaram uma marca da trama herdada do mestre que nos deixou este ano.

Com tudo isso, Lícia ainda dá a cara dela à novela. Um lugar ao sol é de uma espécie antiga, daquelas que a gente precisava ver todo dia para não perder o fio da meada. Os conflitos se desenvolvem rapidamente para dar lugar a outros ou para se enrolar novamente, como num clássico folhetim. Num gênero que ouvimos que está morto há alguns anos, a chegada dessa moçada cheira a revigoração.

A segunda temporada de Aruanas, no Globoplay, consegue a difícil tarefa de manter a qualidade da primeira. As atrizes Débora Falabella, Leandra Leal, Thainá Duarte e Camila Pitanga estão ainda melhores. Bruno Goya e Vitor Thiré vão pelo mesmo caminho. Ainda tem a temática superimportante da conscientização ecológica.

Ana Maria Braga é das melhores apresentadoras da nossa televisão e domina um "ao vivo" como poucas. Mas ela vem decepcionando com a quantidade de piadas de duplo sentido no Mais você. Puritanismos à parte, não combina com a atração. Periga virar um Silvio Santos em pouco tempo.

Amanhã, a Globo estreia a minissérie Passaporte para liberdade, com Sophie Charlotte e Rodrigo Lombardi

O dia também marca a chegada da minissérie Sex appeal (1993), de Antônio Calmon, ao Globoplay.

Elite: Histórias breves Samuel e Omar estreia amanhã, na Netflix.

A partir de terça, Angélica comanda o Jornada astral, na HBO Max

Terça, o Amazon Prime Video recebe o indicado ao Globo de ouro Behind the Ricardos

Quarta, Emily em Paris chega à 2ª temporada, na Netflix

Também na Netflix um elenco estelar brilha em Não olhe para cima, na sexta. 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação