Saúde

Febre maculosa: quando o perigo esconde-se no carrapato

Transmitida pela picada do pequeno animal, a febre maculosa é uma doença que pode causar complicações graves, como inflamação cerebral e insuficiência respiratória, caso não seja descoberta a tempo

Com a morte de dois policiais militares no Rio de Janeiro devido a complicações originadas pela febre maculosa, a doença voltou a ganhar atenção. Causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida pela picada de um carrapato específico, chamado carrapato-estrela, a patologia, também conhecida como doença do carrapato, tem maior predominância na região Sudeste, mas pode ocorrer em outras localidades, em menor incidência. "Ela não é uma doença nova. É mais vinculada com pessoas que andam por regiões montanhosas e de campo", explica o médico infectologista Werciley Júnior, coordenador do Hospital Santa Lúcia.

A febre maculosa é mais comum nos meses de junho a outubro, quando os carrapatos estão mais ativos. Contudo, para desenvolver a doença, é necessário estar em contato com o carrapato por seis a 10 horas. A doença tem cura, mas, para evitar complicações graves, é necessário que o tratamento se inicie logo após a manifestação dos primeiros sintomas. Paralisia, inflamação do cérebro, insuficiência respiratória ou insuficiência renal são algumas das situações que podem colocar a vida do paciente em perigo.

O médico clínico do Hospital Santa Marta Asa Norte Gabriel Resende avalia que o espectro da doença vai desde características mais leves até mais graves. "Uma das principais complicações da febre maculosa é a infecção do sistema nervoso central, causando encefalites, confusão mental, delírio, entre outros sintomas ligados ao sistema central. A gente não pode excluir também a letalidade desse tipo de bactéria na via aérea superior e inferior, principalmente quando atinge os pulmões."

Principais sintomas

De acordo com o infectologista Werciley Júnior, os sintomas da febre maculosa podem demorar de dois dias a duas semanas para aparecer, e em alguns casos, podem ser difíceis de ser identificados, podendo comprometer o tratamento da doença.
Quando aparecem, os sintomas mais comuns são:
· Febre acima de 39ºC e calafrios;
· Dor de cabeça intensa;
· Conjuntivite;
· Náuseas e vômitos;
· Diarreia e dor abdominal;
· Dores constantes nas articulações;
· Insônia e dificuldade para descansar;
· Manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos
· Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
· Gangrena nos dedos e orelhas.

Como tratar?

O médico clínico do Hospital Santa Marta Asa Norte, Gabriel Resende, afirma que o tratamento se baseia no controle da doença para evitar que se chegue a formas mais graves. Esse controle é feito da seguinte forma:
· Assim que os sintomas pós-picada do carrapato se iniciam, como uma febre de origem indeterminada, deve-se procurar uma unidade de saúde;
· Por se tratar de uma bactéria o tratamento é feito por antibiótico via oral;
· Mas em casos mais graves, em que é necessária a internação, o tratamento é feito por antibiótico via parenteral.
· O tratamento básico com antibióticos e a resolução dos sintomas associados à febre maculosa duram de 7 a 10 dias.

Passo a passo da prevenção

Segundo Gabriel Resende, as medidas de prevenção estão relacionadas aos hábitos pessoais. São elas:
· Evite áreas que apresentem infestação de carrapatos ou onde a circulação de febre maculosa é reconhecida;
· Ao participar de atividades de trabalho ou de lazer, em áreas arborizadas, com vegetação alta e gramados, use roupas claras para facilitar visualização de carrapatos no corpo e assim a sua remoção imediata;
· Durante as atividades, use sapatos fechados, camisa de manga longa, luvas calças e repelentes de insetos;
· Depois de realizar atividades nesses ambientes com risco de ser picado por carrapato, lembre-se de checar todo o corpo e remover os carrapatos que estejam aderidos com uma pinça;
· Quem tiver animais de estimação, deve sempre fazer uma investigação para ver se esses animais não contém carrapato.

*Fonte: Ministério da Saúde e Gabriel Resende, médico clínico do Hospital Santa Marta Asa Norte.

Palavra do especialista

Como é feito o diagnóstico da febre maculosa?

O diagnóstico é por suspeição clínica, ou seja, pela suspeita de ter sido picado por carrapato aliado aos sintomas. De exames, sorologia ou detecção de PCR é indicada para detectar os fragmentos deixados pelo carrapato. Só que para se manifestar na sorologia demora de 5 a 7 dias após o contágio.

Quais são os fatores de risco da doença?

Os maiores fatores de risco são pessoas com imunidade baixa e doenças prévias que podem deixar os sintomas mais intensos.

A febre maculosa é uma doença grave?

A febre maculosa não é grave por si só. Mas como tem a possibilidade dela evoluir para quadros mais graves, ao atingir o coração, fazendo miocardite, ou ao atingir o cérebro, fazendo lesões cerebrais, ela pode levar ao óbito.

Werciley Júnior, médico infectologista e coordenador do Hospital Santa Lúcia

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte