A castração é vista por muitos como uma cirurgia desnecessária para cães e gatos que vivem dentro do lar, principalmente se for o único pet da casa ou se divide o espaço com outro do mesmo sexo. No entanto, a decisão de castrar um animal de estimação vai muito além de evitar que o amigo de quatro patas se reproduza. Mantê-los sem castração pode acarretar uma série de problemas, entre eles, o desenvolvimento de doenças graves.
A superlotação de abrigos com animais abandonados é outra situação a ser levada em consideração. Para a veterinária Paula Raphaela, a castração é fundamental para o controle de natalidade. "Diminui a quantidade de cães e gatos desabrigados, além da consequente redução da transmissão de doenças — tanto genéticas, quanto zoonoses."
Isabela Scolari, responsável pelo gato Bento, 3 anos, adotou o felino já com a castração e as vacinas em dia, realizadas pela ONG Miau Aumigos, que o resgatou da rua. Mas afirma que, se ele não tivesse passado pela cirurgia, submeteria o pet ao procedimento de qualquer forma, pois ele não foi acolhido pela família para fins reprodutivos, mas, sim, para companhia. A estudante sabe bem os perigos de ter um animal não castrado, já que, antes de Bento, cuidou de outros dois gatos, que eram agitados e tentavam fugir do apartamento, provavelmente influenciados pelo cio de fêmeas que vivem na região.
Saúde e bem-estar
Em algumas clínicas, o preço da cirurgia pode ser bastante elevado e inacessível, principalmente de fêmeas, que demandam um procedimento mais longo e complicado, mas a veterinária Paula Raphaela reforça que a castração é definitiva, logo, será uma intervenção única, para toda a vida. Além do fato de que pode sair mais barato, se comparado com os valores e o tempo de tratamento que possíveis patologias podem acarretar, como câncer de mama, infecções de útero, tumores em testículos e na próstata — todas enfermidades que têm seu risco aumentado em animais não castrados.
A veterinária completa que a castração é essencial para a qualidade de vida dos animais e para a longevidade, pois, quando passam pela cirurgia e são bem-cuidados, eles têm longa expectativa de vida. Gatos, por exemplo, podem chegar a viver bem entre 15 e 20 anos — além de o procedimento facilitar a vida do tutor de muitas formas, já que não terá que lidar com fugas frequentes do animal em busca de parceiras, no caso dos machos, ou de sangramentos e mudança de comportamento durante o cio, no caso das fêmeas.
Uma alternativa à castração e seu preço elevado são as injeções anticoncepcionais. A princípio, elas podem parecer uma solução simples, já que são comercializadas em alguns pet shops e cumprem a função de controlar o cio da fêmea, evitando os miados altos e frequentes ou uma possível gestação. No entanto, o veterinário Rafael Bonorino alerta que a escolha pode gerar uma série de riscos a longo prazo, como o câncer, e avisa que não é uma conduta recomendada e utilizada por veterinários atualmente, pois não prioriza a saúde do animal e pode ter efeitos fatais.
Comportamento e hábitos
Além da prevenção relacionada à saúde dos animais, a castração proporciona uma série de mudanças comportamentais nos animais, resolvendo diversas reclamações de tutores, como a marcação de território, comum entre os machos, que podem fazer as necessidades dentro de casa para deixar seu cheiro e sua marca no ambiente. Outro ponto importante é a melhora do temperamento. Machos em seus ambientes naturais disputariam por territórios e pela sucessão dos descendentes, por isso, tendem a ser mais agressivos e agitados, mesmo sem a presença de fêmeas por perto.
É o caso de Thor e Romeu, os cães de Gabriela Porto. Ela conta que realizou o procedimento cedo em ambos, seguindo a recomendação veterinária para mantê-los saudáveis e também para evitar possíveis conflitos entre eles e fugas.
No caso dos gatos, além do perigo de feridas em brigas e de atropelamento, eles podem contrair uma série de doenças nesses momentos, como a FIV (vírus da imunodeficiência felina), transmitida por mordidas e arranhões de animais infectados, e a FELV (vírus da leucemia felina), infectada por saliva e secreções. Ambas as doenças não têm cura e podem levar a uma morte precoce. No caso da FELV, a expectativa de vida após o diagnóstico é de, no máximo, dois anos.
Caso o tutor tema que, com a castração, o animal mude a personalidade completamente, essa não é, necessariamente, uma realidade. Rafael Bonorino explica que, caso o animal tenha o propósito de proteger a casa, como cães de guarda, a cirurgia não os deixará mansos ou menos alertas, pois passaram por um treinamento que não será afetado. Outras preocupações dos tutores de animais, principalmente das raças pitbull e rottweiler, são o enfraquecimento e o ganho de peso. O veterinário reitera que isso não deve ocorrer se houver o cuidado adequado com a ração e a manutenção de exercícios físicos frequentes.
É preciso, porém, ficar atento à idade correta para fazer o procedimento, a fim de não gerar consequências indesejadas para os animais, como problemas de desenvolvimento. Rafael recomenda que a castração seja feita antes do primeiro cio, mas alerta que, se realizada muito cedo, pode afetar o crescimento do animal e também dificultar a recuperação do animal, pois ele precisa ter uma estrutura e um sistema imunológico preparados para se recuperar de uma cirurgia invasiva.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte