"Se não fosse o tratamento com o canabidiol, acredito piamente que minha filha não estaria mais no planeta, ela teria ido para o céu", declara Norberto Fischer, 53 anos. O bancário e professor universitário e sua esposa, a paisagista Katiele Fischer, 40, fizeram história como a primeira família a conseguir autorização para importar canabidiol no Brasil, em 2014.
Anny Fischer sofre de um problema genético raro, a síndrome CDKL5, que causa um tipo de epilepsia grave. Antes de iniciar o tratamento com o canabidiol, há oito anos, tinha cerca de 60 convulsões por semana. As crises diminuíram para 20 por semana, tornaram-se esporádicas e, eventualmente, desapareceram.
Depois de ganhar as páginas dos jornais com sua história, Anny completou 13 anos e, segundo Norberto, já não é a bebê da família. Em entrevistas anteriores ao Correio, Katiele e Norberto comemoravam cada pequena vitória da filha, desde gargalhadas espontâneas até as birras para escovar os dentes. Hoje, sonham que cada vez mais famílias possam desfrutar da mesma qualidade de vida que eles.
Depois de passar por um turbilhão, os Fischers se voltaram um pouco mais para seu universo particular, aproveitando, inclusive para vivenciar, em totalidade, todas as novas interações e momentos com Anny, proporcionados pelo tratamento com o CBD. Cada olhar, sorriso e sentimento expressado pela filha são lembretes diários da vitória da família.
"É até difícil falar, sentimos tudo muito de perto. É como se a vida da Anny se esvaísse entre nossos dedos e, mesmo existindo um medicamento, não podíamos fazer nada. Não desejamos que ninguém mais passe por isso. Saber que plantamos uma sementinha que pode contribuir com a alegria e o alívio de tantas famílias é um sentimento muito bom", comemora Norberto.
No entanto, Norberto acredita que ainda há muito o que avançar. A autorização para o plantio, seja por empresas privadas, seja pelo próprio governo, por meio da Embrapa, por exemplo, diminuiria consideravelmente os custos, permitindo que famílias de baixa renda tenham acesso aos medicamentos sem a necessidade de procurar a Justiça.
Legislação
Atualmente, a lei brasileira permite que empresas brasileiras produzam os medicamentos, porém os insumos precisam ser importados, uma vez que o plantio da cannabis não é permitido. Pessoas com receita médica para medicamentos à base da cannabis também podem solicitar autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar os remédios.
No último dia 4, a Anvisa publicou autorização sanitária de mais dois produtos à base de cannabis. A novidade deles, em relação aos outros cinco já aprovados, é que são compostos por extratos vegetais, ou seja, possuem em sua composição um conjunto de substâncias extraídas da planta, ao contrário dos demais, que são compostos por canabidiol isolado.
O médico Renato Anghinah ressalta a importância dessa nova autorização. Em um momento inicial, o foco ficou somente em cima do CBD, o que até facilitou a diminuição do tabu e do preconceito em cima dos medicamentos. O CBD isolado não tem, por exemplo, nenhum tipo de efeito semelhante ao da maconha, uma vez que o que causa efeitos psicotrópicos são altas doses de tetrahidrocanabinol (THC).
Porém, rompidas as barreiras iniciais, é importante ampliar a discussão. Existem condições de saúde nas quais somente o CBD isolado não é o tratamento mais adequado ou eficaz. Pacientes com dores crônicas ou intensas se beneficiam muito mais de compostos que também contêm THC.
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