Mercado de luxo

Um bate-papo com Ricardo Almeida, mestre da alfaiataria brasileira

Alfaiate relembra trajetória, iniciada nos anos 1980, e conta quais são os planos para a primeira loja conceito da marca, inaugurada em Brasília

Giovanna Fischborn
postado em 07/11/2021 08:00
Ricardo Almeida começou a carreira vendendo suas peças para marcas renomadas -  (crédito: Ricardo Almeida/Divulgação)
Ricardo Almeida começou a carreira vendendo suas peças para marcas renomadas - (crédito: Ricardo Almeida/Divulgação)

No coquetel da nova loja Ricardo Almeida na capital, notava-se a mão do estilista não só nas peças expostas, mas em todo o ambiente. Os cuidados e a organização do espaço, que fica no Lago Sul, seguiram os últimos comandos de Ricardo, que orientava a equipe até minutos antes de os convidados chegarem. Referência nacional em alfaiataria, ele sentou com a Revista, em meio a uma pausa, para uma conversa sobre ele mesmo, a marca e a representatividade brasileira no mundo da moda.

A Ricardo Almeida iniciou os trabalhos em 1983, produzindo coleções masculinas e femininas para outras marcas, como Richards e Hugo Boss. Com a abertura das importações, no início da década de 1990, passou a investir no próprio nome. "À época, foi uma grande oportunidade, porque a minha maior vontade (e maior frustração) era ter os melhores tecidos", conta. Para se dedicar à confecção, o alfaiate, de espírito workaholic, rompeu as vendas com os lojistas. "A matéria-prima importada encareceu os produtos, e os lojistas não estavam dispostos a pagar. Foi uma decisão necessária naquela fase."

Tecidos, aviamentos e acessórios passaram a ser trazidos, então, do exterior. O resultado? Ternos de caimento impecável e um nome sólido entre os clientes do mercado de luxo. Ricardo abriu as duas primeiras lojas em 1991, em São Paulo. Hoje, são 20 endereços próprios e, de oito anos para cá, voltou a atender multimarcas.

"Somos conhecidos pela alfaiataria. Os paletós e as calças atendem bem o pessoal que trabalha no mercado financeiro, advogados e profissionais da área de criação", define. Apesar disso, os jeans, as camisetas polos, feitas com algodão pima, e os sapatos e os tênis, que vêm de uma fábrica em Franca, também têm ganhado reconhecimento.

Novos cenários pedem adaptação. Diante da crise global de covid-19, a Ricardo Almeida viu a necessidade de redesenhar o que tinha de loungewear — a roupa casual, de ficar em casa. A coleção Homemeeting surgiu nessa pegada. A linha tem camisetas, calças jeans mescladas com moletom e jaquetas. As peças priorizam o conforto, sem abandonar a elegância tradicional da marca.

"A ideia é que a pessoa esteja trabalhando em casa, mas, se precisar participar de uma reunião, consiga levantar e acessar assim como está, porque estará bem apresentado. As roupas foram pensadas para não amassar, feitas com elastano diferenciado", detalha.

Sobre o futuro, Ricardo adianta que a marca espera lançar uma linha laboratório em breve. E são os filhos que encabeçam a proposta desta vez. Animado, ele conta que as peças terão caimento mais amplo e serão voltadas para um público mais jovem.

Três perguntas

Como é o dia a dia na fábrica e estúdio Ricardo Almeida? Verdade que você segue atendendo em loja?

A fábrica funciona em um galpão que reformei há alguns anos. O maquinário é moderno, investimos pesado na produção. Quando o expediente termina lá, no fim da tarde, vou à loja de Bela Cintra, também em São Paulo, para atender os clientes. Aqui em Brasília, pretendo vir uma vez ao mês para atendimento.

O senhor aposta muito no feito sob medida. Acredita que a demanda do público por atendimento individualizado e personalização vem crescendo?

Sim, principalmente no mercado de luxo. Esta loja conceito em Brasília traduz esse nosso olhar. A ideia é atender, neste endereço, os clientes mais fiéis ou que buscam produtos distintos. É diferente do público dos shoppings. É levar o atendimento, que já é diferenciado, a uma condição ainda mais exclusiva. O próprio tamanho da loja permite isso. Dá para mostrar mais o produto. O cliente também está disposto a esperar mais, então foi pensada a área do bar para ele tomar um chá da tarde ou bater um papo.

Desenvolver a linha Ricardo Almeida feminina está nos planos da marca?

Está, mas confesso que o masculino já exige muito. Comecei a desenvolver algo do feminino, mas demos uma recuada justamente por isso: nosso nome é mais sólido no vestuário para homens. Ainda assim, quero, com calma, crescer nosso nome entre o público feminino.

 

 

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