Bichos

Próteses devolvem a qualidade de vida e alegria a animais feridos

Conheça as histórias emocionantes de animais que receberam uma nova chance de viver com a ajuda de próteses

Os avanços tecnológicos têm facilitado processos complexos da medicina. E isso se estende para a medicina veterinária. A produção de próteses para animais domésticos e silvestres é um bom exemplo.

O Guinness Book 2022 registrou a história de Fred, uma jabuti fêmea que teve quase 90% do casco queimado em um incêndio. O acidente aconteceu em 2015, em uma região de mata do Paranoá. O animal quase não resistiu às queimaduras e, sem um casco para protegê-la do sol e de predadores, Fred teria muitas dificuldades em seguir vivendo na natureza. Mas um time de especialistas conseguiu produzir, em impressora 3D, uma prótese que substitui o casco da jabuti fêmea. Foi a primeira prótese animal feita através dessa técnica.

Matheus Rabello Krüger, médico veterinário especializado em animais silvestres e exóticos, conta que os avanços tecnológicos têm tornado as próteses mais acessíveis. “O mais interessante desse caso foi o baixo custo, a gente utilizou um programa de computador gratuito e um smartphone para tirar cerca de 40 a 60 fotos ao redor do animal e criamos a visão tridimensional para projetar a estrutura”, explica.

Desafios no caminho


Matheus Krüger destaca que os maiores desafios na colocação de uma prótese em animais é a adaptação. Segundo o veterinário, é importante respeitar os hábitos do bichinho e entender a função do órgão perdido para fazer com que o animal retome as atividades características da espécie sem tentar remover a prótese.

Arquivo Pessoal - Jabuti Fred e o veterinario Matheus Krueger

Veterinária e zootecnista, Maria Angela Panelli acrescenta que observa uma diferença na velocidade de adaptação entre os animais. “Os mamíferos demoram um pouquinho mais para se adaptar às próteses de membros, principalmente quando eles ficam um tempo amputados. O animal não tem o entendimento de que é possível usar o membro, então é necessário fazer fisioterapia e demora mais. Já as aves saem da cirurgia usando o bico ou a perna substituídos”, relata Maria Angela.

Ela participou da cirurgia da gansa Alice, que vive em um parque de São Paulo. A ave recebeu uma prótese de bico para conseguir se alimentar regularmente. Alice foi descoberta e ajudada por Viviane Nogueira, 54, moradora de Valinhos (SP), que ia diariamente ao parque municipal para dar à gansa alimentos que ela conseguisse mastigar, apesar da deformidade do bico. Mas, para melhorar de vez a qualidade de vida, e dar mais conforto e independência ao animal, foi feita a cirurgia de substituição.

Viviane conta que Alice era rejeitada pelos outros gansos do parque e se acostumou rapidamente às visitas que recebia para ser alimentada. “Eu só pude retirar a Alice do parque com um documento de adoção, afirmando que a gansa não poderia ser devolvida ao ambiente. Mas depois da cirurgia, ela vai voltar a conviver com os outros gansos”, diz.

Arquivo Pessoal - Gansa Alice após cirurgia

Uma nova chance


A cirurgia da gansa Alice foi realizada de maneira gratuita pela médica veterinária Maria Angela, mas as próteses costumam apresentar custo elevado. Por isso, muitos tutores adaptam equipamentos para evitar a eutanásia. Foi o caso do cachorrinho Duke, da tutora Kívia Alves, 28.

Em março de 2020, Duke escapou de casa e sofreu um acidente, que o fez perder os movimentos das duas pernas traseiras e afetou também a medula, tornando o dano irreversível. O veterinário sugeriu eutanásia, mas os tutores de Duke preferiram buscar alternativas para ficar com o pet.

Kívia conta que a cadeirinha de Duke era feita com cano PVC, seguindo tutoriais na internet. Ele se adaptou rápido, mas o dispositivo era muito frágil e acabou quebrando. Hoje eles conseguiram a tão sonhada cadeirinha feita em 3D, planejada especialmente para Duke com peso, medida e resistência ideais.

O principal, para Kívia, foi ter encontrado uma rede de apoio online e percebido o quanto esses animais com próteses são fortes, felizes e têm qualidade de vida com as rodinhas. “Hoje a nossa rotina mudou um pouco, o Duke faz fisioterapia, usa fralda por não ter o controle da bexiga e, quando vamos sair ou trabalhar, ele vai para creche, pois não pode ficar mais sozinho. Mas todo dia, temos a certeza que fizemos a melhor escolha, para ele e para nós. As pessoas devem saber o quanto a qualidade de vida de um pet com deficiência continua igual. Não existe dor, só alegrias, bolinhas e petiscos. E o Duke prova isso sempre!”

 
Prótese ou órtese?

* As órteses são suportes fixados na parte externa do corpo do animal. Geralmente são utilizados para auxiliar na locomoção ou imobilizar regiões lesionadas durante o processo de reabilitação. É comum utilizar materiais ajustáveis, como neoprene e termoplásticos, para tratar articulações de joelho, cotovelo e quadril, por exemplo. Cadeiras de rodas e talas para membros são algumas dessas soluções.

* Já as próteses substituem as partes do corpo do animal que foram perdidas ou tiveram sua função comprometida. Além da área externa, o recurso de próteses é muito utilizado em cirurgias internas, a fim de reproduzir a função das articulações.

Arquivo Pessoal - Maria Ângela com um gatinho de prótese

 
Todos por Sansão!

* Em 2020 foi feita uma alteração na Lei de crimes ambientais, para incluir um capítulo sobre cães e gatos. A “Lei Sansão” agora aumenta o castigo para maus-tratos, cuja pena vai de dois a cinco anos de reclusão, multa e perda da guarda do animal. Essa lei foi inspirada por Sansão, um cachorro da raça pitbull, que teve suas patas traseiras arrancadas por agressores de forma violenta. Com ajuda de uma prótese desenvolvida em Denver, nos Estados Unidos, e doada pela associação de proteção animal Patas Para Você, o cachorro começou a andar novamente.

Arquivo Pessoal - Maria Ângela com um gatinho de prótese
Arquivo Pessoal - Jabuti Fred e o veterinario Matheus Krueger
Arquivo Pessoal - Gansa Alice após cirurgia