Não são apenas os humanos que sofrem com o câncer de mama. Animais de todas as espécies estão sujeitos ao diagnóstico da neoplasia, especialmente as cadelas e gatas, apontam especialistas da Universidade Federal de Lavras (Ufla). Neste outubro rosa, período de conscientização para o câncer de mama, médicos veterinários dizem ser necessário também o alerta para os pets e pedem que tutores fiquem atentos ao aparecimento dos primeiros sintomas.
Foi assim, logo nos primeiros sintomas, que os tutores da Lua - uma American Bully, de oito anos -, Rafael Vilela e Luana Koscky, perceberam que algo estava errado. Em 2019 eles notaram que uma das mamas estava pingando sangue e, ao realizar o toque, notaram um nódulo.
“O veterinário realizou os exames e no mesmo dia que saiu o resultado ele quis operá-la. Foi realizada a mastectomia (retirada de toda a mama) e tirou metade das suas tetas. Ficamos muito preocupados”, contou Rafael que disse que a Lua passou alguns dias internada devido a uma complicação no rim causado pelo sedativo. Na mesma cirurgia, o veterinário fez a castração da Lua e após 15 dias, a cadela estava recuperada. Não foi necessário realizar a quimioterapia após a cirurgia.
“Foi bem difícil a recuperação, mas após 15 dias ela já estava bem. Agora estamos sempre de olho, observando e realizando o exame de toque por precaução. O importante é que ela continua alegre e saudável”, comemora Rafael.
Os tumores de mama preocupam os veterinários devido à alta taxa de ocorrência. Nas cadelas, aproximadamente 50% dos tumores de mama são malignos, nas gatas o percentual é ainda maior, de 70% a 90%, pontua a professora da Faculdade de Ciência Animal da Ufla, Gabriela Rodrigues Sampaio. Segundo ela, embora raro, o câncer de mama também pode ser diagnosticado em machos, assim como em homens.
“A cadela é considerada a espécie mais acometida por tumores mamários, mais do que a mulher. Ela está no topo da lista”, comenta a professora que diz ser necessário ficar atento a alguns sinais.
“Se o tutor notar o aparecimento de algum carocinho nas mamas do animal, perceber qualquer mudança na característica, mama mais inchada, avermelhada, produção de secreção, falta de apetite, deve procurar um médico veterinário para detectar se aquilo é um tumor. Quanto mais cedo isso for feito, melhor é o prognóstico, com chances de cura e sobrevida para o animal”, diz Gabriela.
Causa do câncer de mama nos pets
A médica veterinária lembra que a principal causa dos tumores em cadelas e gatas está associada às injeções de hormônio, popularmente conhecidas como “vacinas anti cio”.
“Sabemos que esses tumores são induzidos por hormônios, eles possuem uma dependência hormonal. Essas injeções são à base de medroxiprogesterona, um análogo sintético da progesterona. Uma única aplicação durante a vida do animal já é suficiente para provocar um câncer de mama e infecção no útero. A melhor forma de prevenção do cio, de gravidez em cadelas e gatas e do sofrimento dos animais no parto é a castração”, ressalta Gabriela Rodrigues Sampaio.
A injeção anti cio é vendida livremente em muitos lugares. A droga é liberada pelo Ministério da Agricultura e, geralmente, é aplicada pelos próprios tutores. Em Brasília, dois projetos de Lei em tramitação na Câmara dos Deputados propõem o uso controlado do medicamento apenas por médicos veterinários, além da proibição de seu livre comércio.
Para prevenir o câncer de mama em cadelas e gatas, a veterinária esclarece que pesquisas científicas atestam que as castrações precisam ser realizadas antes do primeiro cio. Dessa forma, cai para 0,5% a chance de o animal desenvolver a doença. “A castração cirúrgica deve ser feita por um médico veterinário que trabalhe em uma clínica adequadamente equipada, já que é uma cirurgia que requer cuidados e prática médica”, reforça a professora da Ufla.
Tratamento
Caso possa haver a suspeita de o animal ser diagnosticado com a doença pelo exame clínico e palpação, a confirmação do tumor é feita com exames como o de sangue e raio-x.
“Uma vez diagnosticado, o principal tratamento do câncer de mama em cadelas e gatas é pela retirada cirúrgica de toda a cadeia mamária. São vários protocolos, retiramos as mamas com tumor e as que podem desenvolver”, diz Gabriela.
Depois que o tumor é retirado, ele é enviado à patologia para que seja identificado qual o tipo de tumor. A partir daí, os veterinários podem prescrever o protocolo quimioterápico específico, como um tratamento complementar.
Segundo a professora, a quimioterapia para o câncer de mama em animais tem obtido muitos avanços nos últimos anos e, geralmente, é feita com medicamentos usados em humanos, de acordo com o tamanho do animal (superfície corporal). Porém, segundo ela, o tratamento não está disponível gratuitamente aos animais, como no caso dos humanos. “Aqui na Ufla, explicamos ao tutor o tipo de patologia que o animal possui e fazemos o orçamento tanto de medicamentos vendidos em farmácia, quanto de manipulados, na dose do animal”, conta Gabriela.
Universidade oferece palestras no Outubro Rosa Pets
Um encontro online de oncologia de animais de companhia está sendo realizado pela Universidade Federal de Lavras (Ufla). O evento é aberto ao público e as inscrições podem ser feitas neste link SIG UFLA . As palestras começam nesta quarta-feira (20/10) e vão até sexta-feira (22/10), das 19h às 22h.
Para os participantes externos à universidade, é necessário primeiramente realizar um cadastro de participante externo e, posteriormente, entrar na aba “eventos da instituição”, procurar por “Encontro on-line oncologia de animais de companhia”, e clicar em se inscrever.
Membros dos núcleos de Estudos em Farmacologia Veterinária, de Estudos em Felinos, de Estudos e Aperfeiçoamento em Patologia Veterinária e de Estudos em Pequenos Animais, da universidade, farão palestras que abordarão a etiologia, o tratamento e as formas de diagnóstico da neoplastia mamária (câncer de mama).