Um estudo clínico fase 2 envolvendo 34 pacientes mostrou que a medicação levetiracetam, em doses mais baixas que as usadas para epilepsia, pode promover ganhos cognitivos em portadores da doença de Alzheimer. Os efeitos positivos, especialmente na memória espacial e funções executivas, foram significativos entre aqueles que apresentavam atividade epiléptica demonstrada pelas avaliações neurofisiológicas. O estudo foi recém-publicado pelo periódico JAMA Neurology.
Atividade epiléptica pode ser acompanhada de sintomas, como ausências e convulsões, ou ser completamente assintomática. Entre os pacientes com doença de Alzheimer, é estimado que de 10% a 22% apresentem crises epilépticas sintomáticas e 22% a 54% atividade epilética assintomática.
Os mesmos autores do estudo já haviam demonstrado que os pacientes com Alzheimer que apresentam essa atividade epiléptica silenciosa apresentam um declínio cognitivo mais rápido. Em um modelo animal da doença, o uso do antiepilético provoca melhora do estado cognitivo. Dos pacientes estudados nesta última pesquisa, nenhum deles tinha história de crises epiléticas sintomáticas, mas 40% apresentavam atividade epilética subclínica. Esses últimos foram os que tiveram melhor resposta à droga antiepiléptica.
Os pesquisadores consideram que essa apresentação da doença de Alzheimer com atividade epiléptica é bastante comum, chegando a 60% dos casos. A busca por atividade epiléptica na doença de Alzheimer não é prática comum entre os médicos e a pesquisa aponta a importância dessa investigação. A fase 3 da pesquisa deve agora seguir em frente com o recrutamento de um número maior de pacientes.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília