Os primeiros anos de vida da criança são importantes para moldar a personalidade, os gostos e os costumes. Por isso, o início precoce na prática desportiva é fundamental para tornar o exercício parte da rotina da criança, além de prevenir uma série de doenças e complicações. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2021, cerca de 6,4 milhões de crianças brasileiras têm excesso de peso, cenário preocupante, que pode ser evitado com um conjunto de práticas de vida saudáveis.
Gustavo Torres, empreendedor e atleta amador de futebol, é pai do Arthur, de 1 ano e 4 meses, e leva a sério o esporte na vida do filho, apelidado carinhosamente de “bebê atleta”. Desde o nascimento, interage e brinca com o menino, incentivando-o a se movimentar. Após os 6 meses de vida, começou a levá-lo para natação, seguindo a recomendação do pediatra. Hoje, o menino, que conta até mesmo com uma página no Instagram, diverte-se com diversos esportes diferentes, como futebol, basquete e até argolas. As práticas são sempre acompanhadas por profissionais e pelos pais, para evitar acidentes, e sempre dentro dos limites da idade.
Para o pai, o esporte é um dos pilares de formação para a criança e, por ser muito ativo, sempre viu a importância dele. Gustavo conta que percebeu a habilidade que o filho tem na parte motora e continuou motivando e apoiando a criança, que, hoje, conta com 28 bolas em casa e continua praticando a natação pelo menos duas vezes na semana. Para o futuro, caso Arthur ainda tenha interesse, o empreendedor planeja iniciá-lo em uma escolinha de futebol ou de outros esportes, pois acredita que é importante manter o hábito até a vida adulta, como ele faz até os dias de hoje.
Desenvolvimento e constância
De acordo com a educadora física Cínthia Mateus, a prática esportiva, principalmente a natação, desde cedo e bem orientada, é muito interessante para essa faixa etária, afinal, desenvolve os pulmões e é relaxante para o bebê, já que simula a sensação que ele tinha no útero. A atividade física para a criança deve ser divertida e frequente, jamais um momento exaustivo e desgastante. Para isso, a profissional utiliza métodos lúdicos para envolver as crianças nas atividades, brincando com o imaginário e a criatividade dos pequenos.
Os exercícios são bons para desenvolver a consciência corporal, noção de espaço, coordenação motora e um sono de maior qualidade em qualquer fase da vida, mas, na infância, são ainda mais relevante para o desenvolvimento de habilidades sociais, o auxílio a aprender a ter mais disciplina, a lidar com regras, frustrações e a ter mais confiança. Escolas e creches devem contar com um espaço reservado para essas atividades, com profissionais capacitados para lidar com as peculiaridades e necessidades da criança. No entanto, esse papel não está restrito aos professores. A prática esportiva deve ser incentivada pelos pais e pode ser um momento único de aproximação com seus filhos, criando memórias e fortalecendo as relações.
Prevenção e saúde em dia
O médico pediatra do Hospital Brasília Mário Ferreira Carpi afirma que a atividade física na infância é “um instrumento para promoção de saúde e prevenção de doenças ao longo da vida”. Ele reforça que os exercícios apresentam uma série de vantagens, como a diminuição do risco de obesidade, o estímulo para o desenvolvimento intelectual e motor, a redução da pressão arterial, o aumento da mineralização óssea e a melhora do desempenho cardíaco e do perfil lipídico. O sedentarismo, em contrapartida, pode ser extremamente perigoso, levando a uma má qualidade de vida e até mesmo a uma baixa autoestima.
Para cada idade, existem exercícios físicos e demandas próprias, respeitando o desenvolvimento individual e os limites de cada criança. Contudo, existem algumas diretrizes gerais, segundo o pediatra. Para crianças de até 2 anos, é essencial que se mantenham ativas, mesmo as que não sabem andar ou engatinhar, alcançando objetos e movimentando a cabeça e o corpo. Já para as que sabem andar, o mínimo são três horas de atividade, que não precisam ser sequenciais e podem ser leves, como rolar e pular, por exemplo. Outra recomendação médica é de não haver utilização de telas nessa faixa etária, nem tablet, televisão ou jogos eletrônicos, pois podem prejudicar o desenvolvimento e favorecer a inatividade da criança.
A partir dos três anos até os cinco, a recomendação de três horas de atividade por dia também é válida, e alguns esportes mais específicos já podem ser praticados, a exemplo dos de luta, como judô, de times, como futebol e danças, adaptados para as capacidades dessa idade. Para realizar a escolha, as preferências da criança devem ser levadas em consideração, afinal, não há esportes superiores a outros, mas, sim, os que têm horários que melhor se encaixam na rotina e são prazerosos para a criança.
Entre os seis e os 17 anos, atividades físicas frequentes, com intensidade moderada a vigorosa, são essenciais para o crescimento e contribuem diretamente para aumentar os níveis circulantes do hormônio de crescimento. No entanto, o excesso e o esgotamento podem ter um efeito contrário, explica o pediatra, com redução do ganho de altura. A atividade física adequada pode ser ainda mais interessante para o desempenho escolar, diminuindo o estresse e resultando em mais atenção e disciplina.
Levando em consideração a nutrição infantil, esta deve ser equilibrada e nutritiva, contendo todos os grupos alimentares e evitando excessos, principalmente de gordura e condimentos. Em alguns casos, o acompanhamento de um nutricionista pode ser essencial para auxiliar a organizar o cardápio do dia a dia e também para evitar fadiga e cansaço provenientes de uma dieta incompleta. Além da alimentação, a hidratação é muito importante, para evitar desmaios e outros problemas durante as atividades.
Devido ao constante uso de telas, um dos maiores problemas é a má postura, principalmente em adolescentes, o que pode levar a dores e prejuízos na coluna a curto e longo prazos. Em alguns casos, um ortopedista com experiência em pediatria pode ser necessário, mas, na maioria dos casos, apenas adotar uma postura correta e fazer alongamentos diários orientados por profissionais impactam positivamente a saúde e amenizam as dores. Outra indicação é evitar deixar crianças os adolescentes realizarem atividades sozinhos, pois movimentos aparentemente simples, se feitos de forma incorreta, podem levar a lesões e acidentes graves.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte