Os panelões enormes em que a mãe fazia vatapá e galinhada para as tradicionais festas da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, hoje, ocupam lugar de destaque na cozinha industrial que Andréa Roriz montou para preparar as comidas congeladas que passou a fornecer durante a pandemia. “Minha mãe era uma excelente cozinheira. Sempre ficava responsável pela barraca do vatapá e da galinhada, assim como pelo feijão-tropeiro nos churrascos que eram feitos na igreja”, recorda-se, emocionada.
Foi neste ambiente de mesa farta e alimentos caprichosamente preparados que Andréa cresceu. Observava as etapas de preparo e, intuitivamente, ia assimilando tudo. Acabou tomando gosto pelas caçarolas. Nos aniversários das amigas e outras reuniões sociais, sempre era responsável pelo preparo dos pratos. Até hoje, a casa dela costuma ser ponto de encontro de parentes e amigos “Sempre tenho algo para servir. A comida agrega.” Mas nunca tinha pensado na gastronomia como profissão.
Em 2016, Andréa foi passar uma temporada nos Estados Unidos com o marido e os dois filhos. Nos dois anos em que viveu em Miami, aproveitou para estudar inglês. Os alunos da escola que frequentava costumavam fazer lanches coletivos, e ela sempre levava algumas delícias brasileiras, como canjica, arroz-doce e brigadeiro. Mas o que mais fazia sucesso mesmo eram os empadões, feitos com massa podre e recheio de camarão, frango ou carne seca.
Logo os colegas começaram a perguntar se Andréa não fazia os empadões para vender. Como era estudante, só eventualmente aceitava uma ou outra encomenda. Também, às vezes, ia à casa de algum colega preparar as refeições da semana. “Deixava tudo embalado e organizado no freezer.” Uma vez, esteve na casa de Isaac Azar, dono da rede de restaurantes Paris 6, e ele elogiou muito sua comida. “Falou que o ponto da carne estava perfeito. Tive a certeza, então, de que estava no caminho certo.”
Apesar de cozinhar de forma esporádica e amadora, Andréa viu que poderia transformar, sim, a gastronomia em profissão. Quando voltou a Brasília, matriculou-se em um curso no Senac. “Queria aprender as técnicas, os diferentes tipos de corte, o modo correto de congelar os alimentos. O engraçado é que, durante as aulas, um professor falou que eu já seguia técnicas da culinária, e eu nem sabia disso. Era tudo intuitivo. Tinha aprendido com a minha mãe.”
Nova profissão
Em 2019, Andréa se sentiu preparada para oferecer o serviço de personal chef, no qual ia à casa do cliente, cozinhava o cardápio da semana, previamente definido, e depois congelava em embalagens próprias. “Comecei a divulgar em grupos de WhatsApp e, com o boca a boca, em pouco tempo, tinha uma clientela fixa. Sempre que ia pela primeira vez a uma casa, levava um empadão como cortesia. Na verdade, uma gentileza”, conta. Assim, a especialidade da cozinheira ganhou fama também em terras candangas.
Mas aí veio a pandemia e muita gente, com medo do vírus, fechou-se. Ter uma pessoa que não era da família circulando em casa estava fora de questão. Andréa precisou, então, reinventar-se rapidamente. “Com os restaurantes fechados, as pessoas precisavam de pratos prontos. Passei, então, a prepará-los na minha cozinha e ofertava, semanalmente, um cardápio formado por frango, carne, peixe, massa e, claro, um ou dois empadões. A vida me deu os limões e eu fiz uma limonada”, compara.
O negócio cresceu tanto que Andréa sentiu a necessidade de ter um espaço para montar uma cozinha industrial. E assim o fez. Em dezembro do ano passado, alugou uma sala na QI 29 do Lago Sul e criou, oficialmente, a Chic Chef. Lá, além de ser feita toda a produção, tornou-se um ponto de retirada dos produtos, que são vendidos congelados. “Eu ofereço um cardápio que muda a cada semana. No total, são cinco menus, assim o cliente nunca enjoa dos pratos”, detalha.
A produção é feita sob encomenda. “Soltamos o cardápio na segunda-feira, recebemos pedidos até a quarta e entregamos, na sexta. Mas sempre temos algum empadão para pronta-entrega”, explica. Andréa também tem feito pequenos eventos, de até 15 pessoas. Nesse caso, após definir o cardápio com o cliente, ela manda a refeição fresca, pronta para montar. “Mando os molhos separadamente. E o cliente só tem o trabalho de aquecer e servir.”
Os empadões, de fato, viraram o carro-chefe da cozinheira, tanto que ela oferece um curso, com 18 aulas, em que ensina todos os processos de preparo — da escolha dos ingredientes ao recheio, da embalagem à comercialização. “Explico a proporção de massa e recheio e faço uma espécie de consultoria. É uma oportunidade para quem quer aprender a fazer empadões para vender.”
Paralelamente, Andréa está sempre estudando, pesquisando e, sobretudo, tentando reproduzir as receitas da mãe. “Minha mãe nunca foi de anotar receitas. Ela não deixou nenhum caderninho. Eu fico tentando puxar da memória para chegar o mais próximo possível do que ela fazia. Acho que já consigo fazer isso com o empadão goiano, por exemplo, e com um creme de camarão que ela fazia divinamente. Também faço um feijão-tropeiro e um vatapá muito próximo do dela.” E, assim, ela mantém vida a lembrança de dona Íris, mesmo 27 anos depois da sua morte!
Empadão diferente
Ingredientes
Massa
400g de maionese
500g de farinha de trigo
Recheio
1 colher (sopa) de manteiga
1 colher (chá) de alho
1 cebola pequena picada
1/2 pimentão pequeno vermelho ou amarelo em cubos
1 cenoura pequena em cubos
1 abobrinha pequena em cubos
1/2 lata de milho
100g de tomate seco
80g de azeitona
80g de palmito
1 fio de azeite
2 colheres (sopa) de extrato de tomate
2 colheres de farinha de trigo
1/2 caixinha de creme de leite
Sal e pimenta-do-reino
50ml da água do cozimento da cenoura
1 gema (para finalizar)
Modo de fazer
Massa
Misture a farinha de trigo e a maionese até formar uma massa homogênea.
Recheio
Cozinhe a cenoura e reserve a água do cozimento.
Refogue a cebola, o alho e o pimentão com a manteiga e o azeite até dourar.
Acrescente a farinha de trigo e “frite” essa farinha.
Acrescente o extrato de tomate e a água do cozimento da cenoura.
Acrescente a abobrinha, o milho, o tomate seco, a azeitona e o palmito.
Refogue por uns dois a três minutos.
Acrescentar o creme de leite, ajuste o sal e a pimenta-do-reino.
Espere esfriar para rechear o empadão.
Após finalizar o fechamento do empadão, passe a gema por cima com um pincel e asse por 25 a 30 minutos em forno a 180 graus, até dourar.
Opcional
Coloque gergelim torrado ou queijo parmesão por cima.
Serviço
Instagram: @chic.chef.brasilia