A revista Scientific American trouxe dicas que podem fazer nossas mentes ficarem mais leves. Aqui falamos não só de perdão a uma pessoa, mas também a grupo de pessoas que cometeram injustiças e eventos traumáticos.
1- O maior interessado no ato de perdoar é você mesmo. Você tem a chance de tirar um peso da sua mente que costuma ficar reverberando com a experiência do rancor.
Em um estudo com mães que perderam seus filhos por crimes violentos, uma intervenção terapêutica chamando a atenção para o benefício próprio de se buscar apagar ou reduzir o rancor trouxe resultados bem positivos. Após uma semana da intervenção, elas se sentiram menos abaladas e com escores de depressão 60% menores. Outros estudos mostraram também que perdoar reduz o grau de ansiedade de quem perdoa.
2- Faça o exercício de se colocar no lugar do outro lado. Tente criar uma atmosfera de empatia, imaginando a situação que esse outro lado vivia quando cometeu a ação que você julga, de forma inequívoca, errada ou injusta.
3- Tente modular suas reações ao evento traumático, como impulsos de revolta, ondas de raiva e ansiedade.
4- Lembre-se que o tempo é um grande remédio para cicatrizar feridas. Em um momento muito próximo ao evento traumático, o exercício de perdão é mais difícil. Deixar a poeira baixar, às vezes, é o caminho mais acertado.
E, por último, insiro aqui um pensamento português que acredito que possa colaborar sobremaneira em muitas situações do dia a dia em que caímos na armadilha de guardar rancor. Não deveríamos nos martirizar por ficarmos exigindo dos outros aquilo que eles não podem nos oferecer. Com sotaque bem português: Cada qual dá o que tem conforme a sua pessoa.
Anos depois, aprendi com uma senhora portuguesa que, na verdade, essa frase é parte de uma quadra popular bastante conhecida em Portugal:
Pilriteiro, dás pilritos
Por que não dás coisa boa?
Cada qual dá o que tem
Conforme a sua pessoa.
Em Portugal, há também um ditado muito popular que diz a mesma coisa:
Pilriteiro dá pilritos, a mais não é obrigado.
O pilriteiro é um arbusto espinhoso bastante comum em Portugal e dá uma frutinha muito ácida, o pilrito. Pela quadrinha popular, parece que o pilrito não deve mesmo ser uma fruta muito apreciada. Tenho uma teoria sobre frutas exóticas que, se pilrito fosse bom mesmo, seu nome seria morango ou banana e seria exportado para todos os cantos do planeta.
Boa parte das situações do dia a dia que poderiam nos afastar do nosso equilíbrio mental tem a ver com a cobrança e, muitas vezes, com nossa indignação pelas atitudes dos outros que nos desagradam. É o prestador de serviço que não terminou o serviço direito, é o cara que passa à nossa frente pelo acostamento enquanto estamos parados na fila do engarrafamento, é a moça do caixa do supermercado que é lenta no seu desempenho, etc.
Podemos começar a enxergar esse cotidiano através de uma outra ótica. O cara que fura fila não tem educação e princípios de cidadania. Vamos nos irritar? Brigar? A moça lenta no caixa do supermercado é lenta mesmo e nem foi treinada para ser mais rápida. O mau prestador de serviços é ruim de serviço mesmo e a gente que fez a escolha. Antes de reagirmos de forma a perdermos nosso dia, podemos pensar que pilriteiros dão pilritos… E sempre que tivermos poder de escolha, não precisamos insistir em comer pilritos. Mudamos a página e seguimos em frente com morangos.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília
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