Saúde

Coluna sobrecarregada: os efeitos do home office na hérnia de disco

A combinação do home office com a falta de movimentação do corpo durante o período de isolamento contribuiu para o agravamento dos sintomas da hérnia de disco. Saiba quais são os tipos da doença e como tratá-la

Raquel Ribeiro*
postado em 05/09/2021 08:00
 (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)
(crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

A adoção do home office em larga escala na pandemia da covid-19 resultou em mudanças nos hábitos posturais e na prática de atividades físicas. Essa nova dinâmica, marcada por horas a fio em posição estagnada em frente a uma tela de computador, acarretou o agravamento de sintomas relacionados a problemas de coluna, como é o caso da hérnia de disco.

Mais frequente nas regiões lombar e cervical, devido à maior exposição dessas áreas a movimentos e cargas, o problema consiste no deslocamento da estrutura da coluna, chamada de disco vertebral. “O disco é como se fosse um pneu entre uma vértebra e outra. A hérnia ocorre por uma fragilidade do disco, quando um pedaço dele sai para fora, fica saliente”, compara o médico ortopedista Pablo Godinho, do Hospital Santa Lúcia.

É quando há desgaste dos discos intervertebrais que ocorre a formação de hérnias. O médico ortopedista Henrique Mansur, do Hospital Anchieta, detalha como isso acontece: “A coluna é composta por vértebras, que formam um canal por onde passa a medula espinhal. Entre as vértebras estão os discos intervertebrais, estruturas em forma de anel que evitam o atrito entre as vértebras e amortecem o impacto. A hérnia é quando parte do disco sai da posição normal e comprime as raízes nervosas que saem da coluna”.

Ilustração sobre hérnia de disco
Ilustração sobre hérnia de disco (foto: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

Causas

A hérnia de disco pode afetar pessoas dos 30 aos 60 anos de idade, sendo a predisposição genética a principal causa do problema. Mas fatores físicos e ambientais também podem contribuir para o desenvolvimento da condição. São eles:
Posturas antiergonômicas
Sedentarismo
Excesso de peso corporal
Hábito de carregar muito peso
Tabagismo (o cigarro tem substâncias que enfraquecem o disco, predispondo à hérnia de disco)

Pandemia X hérnia de disco

O consultório de ortopedia nunca esteve vazio durante a pandemia. O médico Pablo Godinho, do Hospital Santa Lúcia, analisa que, antes da pandemia, mesmo que a pessoa não praticasse exercício físico regularmente, ela se movimentava mais ao se deslocar até o local de trabalho ou ao ambiente educacional, por exemplo.
Uma vez passando mais tempo sentadas na mesma posição, as pessoas ganharam peso e começaram a sentir mais dores na coluna. Com isso, os sintomas da hérnia de disco ficaram mais aparentes.
Cerca de 30% da população adulta que têm hérnia de disco é assintomática. Contudo, o conjunto de maus hábitos posturais, sedentarismo e sobrecarga pode fazer com que as dores apareçam ou até piorem.
Segundo o médico Henrique Mansur, dois fatores foram determinantes para o aumento das queixas de dores e desconfortos na coluna durante a pandemia: a inatividade ou diminuição da realização de atividades físicas e o trabalho em home office.
O médico aponta que a maioria das pessoas não conta com local de trabalho em casa com as condições ergonômicas adequadas, ou seja, cadeiras que mantêm a coluna ereta e estabilizada ou mesas com alturas certas.

Tipos de hérnia de disco

A doença é classificada de acordo com o formato que o disco vertebral adquire ao ser lesionado ou fragilizado. Os tipos são:
Hérnia de disco contida: é o tipo mais comum. O núcleo do disco permanece intacto, mas há um abaulamento do mesmo, que perde a forma oval.
Hérnia de disco migrada: é quando o núcleo perde totalmente o contato com o disco e está muito danificado, podendo se movimentar dentro da coluna.
Hérnia de disco extrusa: é quando o núcleo do disco se encontra deformado, formando uma gota.

A doença também pode ser classificada de acordo com a região da coluna que ela afeta, podendo ser:
Hérnia de disco cervical: afeta a região do pescoço.
Hérnia de disco torácica: afeta a região do meio das costas.
Hérnia de disco lombar: afeta a região mais baixa das costas.

Por fim, há também uma classificação quanto à posição em que a hérnia se situa, podendo ser central, lateral ou foraminal e extremo lateral da coluna. Essa classificação é importante, pois dependendo da posição em que a hérnia está na coluna, os sintomas são diferentes. Além disso, o tratamento pode variar.

Tratamento

A hérnia de disco não tem cura, mas pode ser tratada para que não interfira na qualidade de vida.
O médico ortopedista Pablo Godinho diz que o maior problema é que a hérnia pode pressionar a raiz do nervo ciático — o maior do corpo humano, saindo do início da coluna até o pé. Por isso, a pessoa pode sentir a chamada dor ciática.
Para evitar sentir dor, o médico ressalta que é importante ter hábitos de vida saudáveis, como condicionamento físico e prática de exercícios.
Ele acrescenta que a maioria dos diagnosticados com a doença melhoram apenas mudando fatores ergonômicos, praticando atividade física regular e tendo a saúde equilibrada.
Há também uma minoria que precisa fazer cirurgia para eliminar ou ao menos amenizar os sintomas.
No entanto, o médico alerta que a cirurgia apenas age sobre a dor do paciente, mas ela não é capaz de curar a hérnia de disco.

Palavra do especialista

Como é feito o diagnóstico da hérnia de disco?
Por meio do quadro clínico de dor na coluna, com intensidade variável, podendo irradiar para braços e pernas, dependendo da localização da hérnia. Outros sintomas que podem estar presentes são: formigamento e perda de força. Além disso, exames de imagem auxiliam no diagnóstico e prognóstico, sendo o mais utilizado a ressonância magnética, devido a sua elevada sensibilidade.

Existe alguma relação entre hábitos posturais e hérnia de disco?
Sim. A postura inadequada promove o aumento da pressão na coluna vertebral, causando uma pressão excessiva nos discos intervertebrais, que podem acabar se deslocando.

É possível prevenir o desenvolvimento da doença?
Alguns hábitos de vida e atividades laborais podem acelerar o desgaste dos discos intervertebrais. Assim, podemos tentar prevenir a doença por meio de medidas como: realizar atividades físicas e alongamentos regularmente, evitar o tabagismo e o sobrepeso e adotar posturas adequadas em pé e sentado.

Henrique Mansur é médico ortopedista do Hospital Anchieta

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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