As 22 modalidades das Paralimpíadas de Tóquio revelaram atletas com altas habilidades. Para muitas pessoas, foi a primeira vez que assistiram à competição, que teve cobertura inédita na televisão aberta. Espaço plural e democrático, o esporte é vital para a saúde de qualquer um. Que todos devem praticá-lo, já sabemos. Mas especialistas reforçam a indicação para pessoas com deficiência. Segundo a personal Larissa Pacheco, se movimentar, nesses casos, ajuda a conquistar independência, aumenta a capacidade motora e o ganho de força.
Alex Alves, profissional de educação física e bicampeão mundial de parajiu-jitsu, destaca também o impacto positivo dos exercícios para a saúde mental, principalmente para quem tem doenças ou limitações. Ele afirma que o esporte muda a maneira de pensar e traz autonomia à pessoa com deficiência.
Ele usa a própria história como exemplo: o esporte o ajudou a lidar com a negação após o acidente que o impediu de movimentar as pernas. Por isso, sua principal recomendação é, pelo menos, experimentar alguma atividade em que se sinta confortável, desde que esteja em movimento.
O atleta reforça que não há tempo mínimo para se exercitar. “Se o indivíduo tiver 10 minutos, já dá para fazer e sentir a diferença, mesmo que para fins de lazer e relaxamento”, aconselha. Por ajudar na manutenção do peso, no desenvolvimento do equilíbrio e da musculatura, as pessoas têm uma qualidade de vida melhor e, consequentemente, menos problemas médicos.
O acompanhamento técnico é essencial. O ideal é que o praticante seja orientado por um treinador físico preparado para trabalhar com diferentes tipos de deficiência, o que evita o mal-estar e o agravamento de lesões. Para alguns casos, é preciso acompanhamento de fisioterapeutas e outras especialidades médicas, como ortopedista.
Os cuidados com uma alimentação balanceada não podem ser negligenciados, principalmente para atletas de alto rendimento, em que a recomendação de uma dieta orientada por um nutricionista é praticamente obrigatória. Alex ressalta que o ideal é que o cardápio seja montado individualmente, de acordo com as necessidades calóricas e objetivos de cada pessoa.
Dentro das quadras
O potencial de transformar vidas não se restringe a Alex. Para João Paulo Nascimento, jogador de basquete em cadeira de rodas, o esporte é um elemento transformador e constante desde a infância. Na época, ele acompanhava o pai, também jogador de basquete em cadeira de rodas, nas partidas.
João Paulo sempre rompeu com o imaginário popular que os brasileiros gostam mais de futebol. Brinca que nasceu na quadra de basquete e ali se reconheceu. Até a adolescência, praticava o esporte tradicional, mas, devido a um ferimento grave, teve que passar por uma cirurgia para corrigir a lesão nos ligamentos, que foi feita antes de completar a maturação óssea e levou ao desenvolvimento do geno valgo, condição em que os joelhos ficam desalinhados e voltados para dentro.
A deficiência não o impede de caminhar, mas impõe limites, como corridas e grandes esforços nas pernas, o que sentenciaria o fim das quadras para o atleta. No entanto, por já conhecer a modalidade, começou a praticar a versão para cadeiras de rodas. Com muito esforço e dedicação, iniciou sua carreira profissional em Brasília, onde nasceu, e prosseguiu até a convocação para a Seleção Brasileira, um momento marcante de sua história.
Durante sua trajetória, passou por grandes times no cenário nacional e foi contratado até mesmo fora do país, em equipes na Alemanha e na Espanha. Nas Olimpíadas do Rio 2016, também foi um dos condutores da Tocha Olímpica.
São considerados paratletas aqueles praticantes de esportes que têm alguma deficiência intelectual, física ou visual. Cada um possui particularidades e diferentes possibilidades, que devem ser levadas em consideração. Contudo, nenhum deve deixar de buscar as práticas físicas, seja em associações locais que ofereçam esportes competitivos com times, como o basquete e o futebol, seja em competição individual, como o jiu-jitsu e o tênis de mesa.
A variedade de opções é grande. As 22 modalidades distintas das Paralimpíadas não representam o número total de esportes que existem. E, além da preocupação com a saúde, ocupar esses espaços permite maior socialização, desenvolvimento de habilidades interpessoais, experiências com trabalhos em equipes, disputas saudáveis e determinação.
Socialização
Guigo Lopes é professor de educação física e preparador físico de atletas paralímpicos, trabalhou, inclusive, com Jady Malavazzi, que representou o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 no ciclismo. Para o especialista, o esporte ajuda, principalmente, na parte social, no senso de pertencimento. “Uma pessoa com deficiência costuma não ter tanto envolvimento com outras pessoas. Por isso, esse espaço em que todo mundo se movimenta e se diverte ajuda a se reconhecer como ser social”, explica.
No entanto, barreiras arquitetônicas e o desconhecimento ainda são complicadores quando o assunto é acesso ao esporte. “Vivi isso. Academias que só tinham como chegar com escadas, quando os aparelhos ficavam no subsolo, sem qualquer acesso para cadeirante, por exemplo”, relata.
Mas existem opções. Para começar a praticar, Guigo, que estuda o movimento do corpo de formas alternativas, recomenda: “O início pode ser cansativo e desmotivador, como é para qualquer um. A ideia é escolher um esporte que a pessoa tenha prazer em praticar. Vale tudo: conhecer vários centros esportivos, pessoas diferentes, modalidades que envolvem movimento de um jeito não convencional”.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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