Praticar, praticar, praticar. Esse é o mantra de muitos estudantes, e discuto frequentemente, no consultório, essa questão com pessoas que querem incrementar o desempenho cerebral. Sempre argumento que pausas são importantes para a solidificação da memória, e bons exemplos são uma boa noite de sono e uma pausa para atividade física, especialmente entre um turno e outro. Além de “esfriar o motor do cérebro”, o exercício físico libera uma série de substâncias no cérebro que facilita o aprendizado.
Outro exemplo interessante de pausas é a famosa técnica “Pomodoro”. Pomodoro era um timer em formato de tomate que o italiano Francisco Cirillo usava para avisá-lo, a cada 25 minutos, que estava na hora de um descanso de cinco minutos. A história rendeu a publicação do livro The Pomodore Technique prometendo melhorar o desempenho no trabalho e nos estudos.
O periódico Current Biology publicou, em 2019, uma pesquisa mostrando que pausas ainda mais frequentes podem fazer com que o aprendizado seja mais eficiente. Os voluntários aprendiam mais quando praticavam por 10 segundos e então descansavam por outros 10 segundos. Isto era feito por 35 vezes e na 11ª repetição eles alcançavam uma eficiência máxima que era mantida nas repetições posteriores. O mais interessante é que a atividade cerebral, demonstrada pelo método de magnetoencefalografia, era maior nos períodos de pausa do que durante a prática, refletindo atividade cerebral de consolidação e solidificação da memória.
A pesquisa tinha a intenção de encontrar uma tática que permitisse a reabilitação cognitiva em pessoas que tenham sofrido lesões cerebrais, mas os resultados provavelmente também são válidos para o aprendizado entre indivíduos com cérebro intactos.
Nessa última semana, pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, publicaram, na mesma revista, os resultados de um estudo que nos faz entender melhor como as pausas podem potencializar o aprendizado. Os resultados mostraram que a retenção do conteúdo é maior quando o processo de aprendizado se dá entremeado por pausas. A isso se dá o nome de “efeito espaçamento”.
Camundongos tinham que encontrar um pedaço de chocolate escondido em um labirinto em três diferentes oportunidades e o desenho do estudo definia diferentes pausas entre as três chances. No senso comum, pode-se imaginar que, quanto mais próximas as tentativas, mais facilmente os animais se lembrariam daquilo que aprenderam. Os pesquisadores demonstraram isso no curtíssimo prazo, mas passadas algumas horas, o resgate da memória era maior entre os animais que tiveram pausas mais longas entre as oportunidades de achar o chocolate. Pausas maiores fizeram com que as mesmas conexões neuronais utilizadas em tentativas anteriores fossem ativadas, reforçando o aprendizado a cada “round”. O conteúdo aprendido é armazenado e pode ser recuperado reativando o mesmo grupo de neurônios e suas conexões.
O “efeito espaçamento” foi descrito há mais de um século em diversos mamíferos e o estudo nos mostra, de forma bastante elegante, como ele é capaz de aumentar o potencial do aprendizado. Com pausas mais longas, a tarefa fica mais demorada, mas o conteúdo aprendido fica consolidado por mais tempo.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília