Nos últimos tempos, os consumidores estão mais conscientes sobre as causas ambientais e preocupados com a saúde e o bem-estar. Uma tendência que está crescendo a cada dia é a da beleza vegana. Pesquisa da Grand View Research indica que o mercado global de cosméticos veganos deve atingir US$ 20,8 bilhões até 2025, uma taxa de crescimento anual de 6,3%.
“Acho que as pessoas têm começado a perceber — e várias pesquisas já demonstram — o quanto os produtos sintéticos fazem mal não só para a saúde, mas, também, para o meio ambiente. Se não faz bem para o planeta, não tem como fazer bem para a gente. Então, acredito que as pessoas estão buscando mais informação para se conscientizar”, acredita a idealizadora da marca brasiliense Gisluc Cosméticos Naturais, Gisele Damas.
Para acompanhar esse movimento, empresas mundo afora têm investido em produtos veganos e cruelty-free, isto é, que não são testados em animais. Até celebridades, como Lady Gaga, Rihanna e Hilari Duff, entraram nesse mercado e lançaram marcas de maquiagem engajadas na causa animal.
Para a proprietária da VegMake, Larissa Braide, o grande questionamento que surge na mente de quem levanta o olhar para essas questões é: “Vale tudo pela beleza?”. Afinal, uma vez que se sabe qual é a procedência de um produto, maiores são as chances para que uma transformação nos hábitos de consumo da população ocorra. “Acredito que a ideia da beleza vegana é trazer consigo uma maior consciência sobre o que usamos”, completa Larissa.
Com linhas de produtos para rosto, corpo, cabelo e maquiagem, a VegMake é fruto do desejo de Larissa de conscientizar as pessoas sobre o uso de animais na composição e testes de cosméticos. “Meu propósito é atingir também um público não vegano para que desperte nele essa consciência, e isso se reflita em suas escolhas diárias, como a comida e o consumo exagerado de carne animal”, diz a empresária.
Vegano ou natural?
O conceito de beleza vegana se confunde com o de beleza natural. No entanto, eles são diferentes. Larissa esclarece que, enquanto os veganos não contêm componentes de origem animal, como cerdas, pelos, cera, cílios ou gorduras saturadas, os naturais são feitos a partir de ingredientes provenientes da natureza, sem nenhum tipo de material pesado. “O ideal é que o cosmético seja os dois, pois o natural traz um maior benefício nos cuidados da pele, tratando-a de dentro para fora, e não somente superficialmente.”
Iasmin Dias, idealizadora da Mooi Natural Beauty, reforça que nem todo produto natural é vegano, pois pode ter um ingrediente de origem animal; assim como nem todo produto vegano é natural, pois pode conter matérias-primas sintéticas na formulação.
De acordo com Iasmin, a inspiração da Mooi Natural Beauty, criada em 2020, passou pela mudança pessoal, não só de estilo de vida, como, também, de hábitos de consumo. “A partir disso, comecei a repensar bastante o meu cosmético. Quando você adquire conhecimento e informação, sabe o impacto de tudo, é um caminho sem volta. Então, comecei a me preocupar mais com os ingredientes, as embalagens, quem produzia, assim como a questão do uso e pós-uso dos produtos”, conta.
Além da preocupação com a sustentabilidade, a marca preza pela multifuncionalidade dos produtos. Os três que a marca vende, multi-stick (batom, blush e sombra), highlighter e bronzer, podem ser usados de diferentes formas, o que confere um caráter “reciclável” à proposta da Mooi.
Iasmin explica que, para que os produtos veganos tenham benefícios para a pele, é necessário que sejam feitos com matérias-primas de qualidade: “Todos os nossos cosméticos têm esqualano, uma matéria-prima supersofisticada, que, na verdade, é um lipídio que vamos perdendo ao longo do tempo e é responsável pela hidratação e nutrição da pele. Queremos que, durante o uso da maquiagem, a pessoa também hidrate e cuide da pele. Há marcas que, para usar o rótulo vegano, às vezes, só retira os produtos de origem animal e compensa utilizando matérias-primas menos sofisticadas para baratear.”
A empresária Gisele Damas acredita que os produtos veganos e naturais, de uma maneira geral, contam com menos ingredientes tóxicos e difíceis de serem metabolizados pelo corpo. “Há várias pesquisas mostrando que os produtos sintéticos fazem mal para o corpo, podendo causar doenças. Os veganos têm cerca de 90% de ingredientes naturais, vegetais. Então, são muito melhores para o nosso corpo. Além disso, muitos dos cosméticos convencionais dão resultado, mas não tratam. Já os veganos tratam e hidratam, pois vêm com muitos ativos que cuidam do corpo, da pele e docabelo a longo prazo.”
A Gisluc Cosméticos Naturais nasceu em março deste ano do desejo de Gisele de oferecer uma possibilidade para as pessoas que relatavam dificuldade de excluir a carne da alimentação, mas se sentiam com peso na consciência. “Se não dá para tirar a carne na alimentação, a gente pode começar a pensar em outras possibilidades e parar de consumir produtos de origem animal de outras formas. Daí veio a ideia dos cosméticos, porque é algo que a gente consegue mudar com certa facilidade”, conta.
Na loja, ela vende produtos multimarcas veganos e naturais para o cabelo e a pele, maquiagens, além de esmaltes hipoalergênicos e removedores de esmalte, que são os campeões de venda. “Eu seleciono muito bem as marcas. Sempre teste os produtos para ver como responde, porque, como o meu público não é somente de veganos, e eu quero levar os produtos para pessoas que vão se interessar pela proposta, eu acho que a gente tem que levar qualidade”, destaca Gisele.
Quanto ao futuro, ainda faltam mudanças para que a beleza vegana ganhe mais espaço no mercado e nos hábitos de consumo da população. Na perspectiva de Iasmin Dias, é necessário que as marcas sejam mais transparentes. “No Brasil, mesmo marcas que se dizem cruelty-free têm que testar em animal para vender na China, pois é uma exigência do país. Então, na prática, elas não são livres de teste em animais. Mas os conceitos estão bem claros para a população, e muita gente está interada no assunto”, pondera.
Veganos X naturais
Veganos: além de nenhum dos ingredientes ter origem animal, na maioria das vezes, as embalagens são sustentáveis, sendo feitas de materiais recicláveis, retornáveis. Os produtos não têm ingredientes de origem animal e, em sua maioria, optam por fórmulas com mais componentes e matérias-primas vegetais, que são melhores para a pele.
Naturais: costumam conter óleos essenciais, fragrâncias naturais e pigmentos extraídos de plantas e flores. Para que sejam verdadeiramente naturais, precisam utilizar tecnologias limpas e sustentáveis na obtenção dos extratos.
Fonte: Larissa Braide, criadora da VegMake
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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