Uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira das Industrias do Café (ABIC) revelou que 94% dos indivíduos maiores de 15 anos bebem café e 95% desses o consomem diariamente. Entre aqueles que não tomam, a principal razão apontada é a de que ele pode fazer mal à saúde. O estudo também revelou que 13% daqueles que bebem café pretendem reduzir seu consumo, e a razão principal é a preocupação de que o café possa fazer mal à saúde. Por isso, vale a pena colocar algumas cartas na mesa.
Uma revisão publicada pelo British Medical Journal reforça aquilo que já tínhamos boas evidências: três a quatro doses de café por dia fazem bem à nossa saúde. Pesquisadores do Reino Unido reuniram os resultados de mais de 200 estudos sobre os efeitos do café sobre nossa saúde e concluíram que podemos tomar café, com moderação, sem medo. Os resultados mostraram que o café promove maior longevidade e menor incidência de inúmeras doenças, que elenco a seguir:
– doenças cardiovasculares;
– alguns tipos de câncer, como o de próstata, endométrio, fígado e pele;
– diabetes, cálculos biliares e gota;
– depressão, Doenças de Alzheimer e Parkinson.
Mas como o café pode ajudar a prevenir doenças neuropsiquiátricas? A grande responsável por esse efeito é a cafeína mesmo. Ela se liga a receptores do cérebro chamados de adenosina, que promovem uma inibição da atividade cerebral. A cafeína tem uma ação inibitória nesses receptores fazendo uma inibição de um sistema que é inibitório. Por isso, o efeito final é estimulante. Quando reduzimos o efeito do freio de mão, o carro anda mais. Esta é a cafeína.
Modelos animais da Doença de Parkinson apontam que a inibição do receptor adenosina pela cafeína reduz a perda de células dos sistemas comumente envolvidos na doença. No caso do da Doença de Alzheimer, estudos demonstram que o consumo de café ao longo da vida pode reduzir o risco da doença. Pesquisas em animais revelam que a cafeína tem o poder de reduzir as alterações patológicas encontradas no cérebro de quem sofre dessa doença. Entretanto, o consumo exagerado da bebida pode trazer efeitos danosos ao cérebro. Uma pesquisa publicada este mês pelo periódico Nutritional Neuroscience, envolvendo quase 18 mil voluntários, nos mostra que o consumo de mais de seis doses por dia está associado a uma redução do volume cerebral e ao aumento do risco de demência.
Sem culpa, mas com moderação. E vale lembrar que a cafeína deve ser evitada entre pessoas em situações de risco de fratura óssea e na gravidez.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília